Chrono Cross é clássico atemporal com remaster muito fraco
Radical Dreamers Edition é versão para plataformas atuais que não faz jus ao cultuado jogo da Square Enix
É difícil entender a maneira como a Square Enix trata a série Chrono. Criada a partir da parceria inesperada entre os criadores de Dragon Quest, Final Fantasy e Dragon Ball e sucedida por outros talentos impressionantes da casa, a franquia oscilou nas últimas duas décadas entre o esquecimento e o descaso no tratamento.
Exceção feita à versão de Chrono Trigger para Nintendo DS, lançada em 2008, todos os outros poucos resgates da série tiveram problemas e este relançamento de Chrono Cross não é exceção.
Quero destacar que o saldo ainda é positivo, mas por muito pouco. O simples fato de tornar esta pérola lançada para o PS1 em 1999 disponível em plataformas atuais já justifica a existência de Radical Dreamers Edition.
A cereja no bolo é a presença também de Radical Dreamers, um obscuro e cultuado adventure de texto lançado para o Super Famicom só no Japão e por meio de um limitado serviço online via satélite. Vale mais pela curiosidade e preservação histórica, já que este game serviu de base para Chrono Cross e apresenta figuras como o protagonista Serge, a espivetada Kid e o vilão Lynx, mas o ritmo lento e o conteúdo visual raso não fazem desta uma experiência obrigatória, mesmo para fãs mais fervorosos de Chrono.
Fora isso, Chrono Cross volta com um tratamento preguiçoso, parecido com o que já vimos na remasterização de Final Fantasy 8.
Os modelos tridimensionais dos personagens ganharam versões atualizadas muito bonitas, assim como novas ilustrações para as caixas de textos e menus, mas o resultado é incosistente na atualização do visual dos cenários.
A Square Enix usou tecnologia de inteligência artificial para atualizar os lindos cenários pré-renderizados do PS1 para as resoluções maiores disponíveis hoje em dia, mas nem sempre o resultado agrada. Fica a impressão em muitas situações de que os pixels foram simplesmente borrados, deixando um efeito que lembra aquarela, mas nem sempre agrada. Ao menos, é possível optar por não utilizar as melhorias gráficas e jogar no modo clássico, que preserva o estilo do game original do primeiro PlayStation.
Importante pontuar também, passados mais de 20 anos do lançamento original de Chrono Cross a Square não se deu ao trabalho de adicionar português do Brasil como opção de idioma. Os recentes relançamentos de Final Fantasy na linha Pixel Remaster contam com PT-BR dentre as opções, então havia precedente da Square para sonhar com essa possibilidade. Uma pena que não aconteceu e uma tremenda oportunidade perdida.
Algo bom é que o pacote traz as chamadas melhorias de qualidade de vida que já se tornaram padrão também em outros relançamentos recentes da Square. A qualquer momento do gameplay é possível acelerar a ação, deixar tudo em câmera lenta, desativar batalhas, aumentar os status do grupo e ligar combate automático. São pequenos ajustes que fazem muito e tornam mais suave encarar certos momentos de duelos difíceis e conversas longas, por exemplo.
Problemas de desempenho
Infelizmente, porém, e de forma difícil de entender, estas novas versões de Chrono Cross sofrem de problemas de desempenho bem visíveis, com variações incômodas de frame rate. Pior ainda, o problema varia de plataforma para plataforma, o que dá a entender que o problema se trata provavelmente da maneira como a Square Enix optou por fazer o game rodar.
Testei a Radical Dreamers Edition no PC, Xbox Series X e Switch (no dock e em modo portátil) e em todas as versões foi possível perceber em maior ou menor grau os problemas de desempenho.
É verdade que o jogo original do PS1 também tinha algumas inconsistências de frame rate, mas é bizarro perceber como em muitos casos a edição do primeiro PlayStation roda mais suave e evidencia ainda mais como a Square Enix não soube adaptar o título aos hardwares atuais, mais de vinte anos depois do lançamento do game clássico.
Considerações
Fica de conforto o fato de que Chrono Cross segue sendo uma obra única e mágica, cheia de personalidade e mistério, seja pelo complexo e estratégico sistema de combate, seja pela trama ambiciosa, que traça paralelos e conexões surpreendentes com Chrono Trigger ou até pela trilha sonora fenomenal e apaixonante de Yasunori Mitsuda.
Chrono Cross: The Radical Dreamers Edition está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X/S e Nintendo Switch.