"Cybertrap", música e super zumbis em Sonho Trapstar
Novo jogo do quadrinista e jornalista Alexandre De Maio mistura profundamente jogos, trap e críticas sociais
Imagina um mundo em que o covid só piorou, que ele ganhou uma nova mutação e transformou as pessoas em zumbis. E pior ainda, o governo de São Paulo entrou em colapso e passou a segurança da cidade pra uma milícia particular (qualquer semelhança com a atual situação do estado foi meramente coincidência, o jogo está sendo feito desde antes da eleição do Tarcísio).
Sonho Trapstar acontece nesse cenário da São Paulo Invertida dominada pela milícia e com os zumbis nas ruas, onde a música e os shows foram proibidos por lei, ou por essa lei paralela. Enquanto DaLua, trapper vivido pelo próprio DaLua, você precisa sair da Zona Norte e ir até o centro da cidade pra recuperar seus equipamentos e instrumentos e fazer um show clandestino na quebrada.
Jornalista, quadrinista e escritor independente de longa data, Alexandre De Maio sempre quis fazer videogame, mas nunca conseguiu. Os jogos, inclusive, chegaram na vida dele antes que o próprio rap, por influência do pai - um verdadeiro viciado da primeira onda, lá nos anos 80, que batia recordes no seu Atari e acabava parando até nas revistas da época. Agora ele conseguiu.
Depois de um tempo estagnado - e por "estagnado" lê-se finalista do prêmio Jabuti, com quadrinho lançado em parceria com Ferréz e outras "coisas poucas" - De Maio queria fazer algo novo, que ainda não foi feito. E juntou isso com a antiga paixão não correspondida com o desenvolvimento de jogos.
Meteu a fuçar em tutoriais da Unreal, baixou uns modelos prontos pra aprender a mexer na engine e viu que ali tinha jogo. Fez roteiro, começou a modelar, chamou mais uns devs e pronto. Em pouco menos de um ano Sonho Trapstar saiu do papel e tá quase pronto com 14 fases, música original, parceria com estúdio e um universo carregado pelo "cybertrap", seu próprio cyberpunk.
No cybertrap não tem futuro distópico, a distopia é agora, no meio desse capitalismo tardio que já cria cenários dignos de Blade Runner e pensamentos dignos da Segunda Guerra. Sonho Trapstar é uma mistura profunda entre videogames e música, com dois shows feitos pelo protagonista e trapper DaLua - interpretado pelo próprio DaLua.
O jogo tem cara de GTA, mas a linha narrativa "mais Last of Us", comentou De Maio, com cenários realistas baseados em São Paulo e uma grande escassez de recursos pra dar um sofrimento a mais pro jogador. São pouco mais de duas horas entre descer da ZN pro centro, explodir helicópteros em sonhos psicodélicos e fazer o show final. Direto e reto, sem engasgar e passando uma ideia clara cozinhada na mente de um dos maiores jornalistas de rap e quadrinistas independentes dos últimos anos.
A equipe toda envolvida no desenvolvimento é da quebrada. Do modelador 3d e criador de cenários ao mano que fez captura da cidade com drones pra servir de base pro jogo e a produtora Outlaws, que somou com as trilhas e o próprio DaLua.
De Maio foi pioneiro em muitas coisas e tá a fim de ser mais uma vez, entrando de vez no desenvolvimento e expandindo o universo de Trapstar pra, quem sabe, a Zona Sul e a Zona Leste, ou ocupar São Paulo inteira mesmo com o beat do trap e as ideias do cyber hoje, lutando sempre.