É possível jogar videogames da nova geração em TVs antigas?
É possível jogar videogame em TVs antigas? Bom, pegue aquela sua TV de tubo dos anos 2000 e vem descobrir nessa matéria!
Se você tem alguns anos a mais na bagagem da vida, é provável que uma televisão de tubo faça parte das suas memórias. Pode ser pela alegria do sábado de manhã em que seu desenho preferido passava em um canal aberto, que, diga-se de passagem, é um conceito quase que ultrapassado. Ou, talvez, um de seus amigos tinha um Nintendo Super NES Classic Edition e sempre te convidava pra jogar numa tvzinha menor, com aquele visual vintage.
Independente do seu tipo de experiência, é fato que hoje as TVs são bem diferentes, implementando cada vez mais tecnologias incríveis de imagem e som. Entretanto, tanta qualidade à nossa disposição não impediu que algumas pessoas se interessassem por tentar unir televisores velhos e games novos em uma única jogatina. Quer saber como roda a nova geração de videogame em TVs antigas? Vem com a gente!
A anatomia das lendárias TVs de tubo
Pra começar, CRTs (Cathode Ray Tube, que significa “tubo de raio catódico” em tradução), é o nome técnico e oficial da popular das TVs de tubo. Antes de existirem televisões ultra finas, com telas de tecnologia quântica e diversos recursos embutidos, quem viveu pelo menos até os anos 2000 entrou em contato com esse aparelho que funcionava a partir do aperto de alguns botões e usando conexão dos cabos de três cores. As opções de consoles que os jogadores de plantão tinham eram SNES, Nintendo 64, PS1, PS2, dentre outros.
Parafraseando o autor Fernando Gomes, esse aparelho contém um tubo catódico em sua estrutura — o que levou ao apelido —, que funciona como um funil de grande abertura para a tela. Atrás dele, estão canhões de elétrons direcionados para o visor. Eles fazem o disparo ao serem esquentados pela eletricidade e formam a imagem, pixel por pixel, mesclando as cores. O resultado é uma televisão que supria as necessidades da época, quando ainda não eram conhecidas as funções HD, 4K e afins.
Nostalgia no mundo dos games
Hoje, ao invés da notável TV de tubo, que também carrega outras características como pesada, de moldura e botões grossos, encontramos TVs de 4K com 50 polegadas em grande parte das residências brasileiras. É um objeto discreto, elegante e preto, sem bisel e projetado para programas de TV, filmes e videogames. Quando está desligada, geralmente se mistura ao ambiente.
As CRTs desapareceram das lojas, mas muitas delas permaneceram nos porões e nas salas de estar dos nossos avós. É neste momento que surgem curiosidades por parte dos jogadores: será que eu consigo rodar meu Xbox Series X na TV antiga da minha família?
Podemos começar a responder essa questão com grupos que se aprofundaram na experiência e itens antigos que ganharam novos preços por conta da demanda. Iniciado em 2016, o CRTGaming (grupo dedicado ao compartilhamento de experiências gamer com TV de tubo) no Reddit quase dobrou sua base de assinantes no ano passado. Em 2019, um televisor Sony GDM-FW900 foi vendido por US$ 999 no eBay.
Esse interesse por parte da comunidade gamer em revisitar o passado e seus costumes antigos surge para suprir duas vontades dos jogadores. A primeira é reviver os jogos antigos com as ferramentas disponíveis na época de lançamento dos títulos. A outra é testar jogos da nova geração de consoles, do gênero de aventura ao FPS, em TVs de tubo em busca de uma nostalgia atrelada ao presente altamente tecnológico.
Performance da TV de tubo com consoles da nova geração
O entusiasta e produtor de vídeos da Digital Foundry, John Linneman, fez uso da Sony GDM EW900, CRT da Sony, em testes com consoles da nova geração — Xbox Series X e PS5. O principal objeto foi a qualidade da imagem, mas ele também fez uma análise sobre como as sensações dos jogos podem ser transmitidas ao dono do controle de maneira diferente em uma TV de tubo.
Antes dos resultados, vale destacar que o produtor precisou de acessórios e adaptadores para aplicar o teste, já que as CRTs não possuem entrada HDMI. Em função disso, John usou um adaptador VGA para fazer a conexão de seus jogos, que rodam com a resolução de 1080p. É possível também utilizar uma espécie de “caixa analógica inteligente”, ferramenta para conectar devidamente esses dois dispositivos.
Lançada em 1999, mais de 20 anos atrás, a TV usada por John suporta 1440p. Ou seja, qualquer jogo de menor resolução executado nela pode ser ainda melhor aproveitado do que em uma TV de tela plana. A imagem transmitida apresentará menos pixels, mas ainda estará agradável e isenta de um enorme borrão, o que tipicamente seria presenciado em uma TV de hoje.
O jogo Ratchet & Clank: Em Uma Outra Dimensão é utilizado para mostrar o que foi dito acima em dois inputs: 1080p e 720p. Rivet, a personagem azul que aparece na imagem, muda minimamente entre a qualidade de uma resolução para outra. Dessa forma, é possível adquirir visuais gráficos limpos sem grandes interferências. Isso é válido para outros títulos de outros consoles também, como os da Nintendo.
A explicação da qualidade das CRTs pode estar no fato de que elas não operam a partir de uma grade de pixels fixa da mesma forma que um modelo de LCD. Em vez disso, três 'armas' lançam luz diretamente no tubo. Assim, não há desfoque de upscaling e não há necessidade de executar em nenhuma resolução nativa específica.
Outro recurso que ganha destaque nas CRTs é o balanceamento dos tons de preto nos frames de imagem dos jogos. Para fazer um comparativo, o produtor de vídeos pega um monitor da linha OLED CX, da LG, ativando a funcionalidade para diminuir as grandes aparições de borrão. Os tons mais claros vêm à tona, como em um modelo mais antigo e são satisfatórios. Do lado negativo, a imagem fica mais instável nesse monitor em 60hz.
Já quando olhamos para a resolução de movimento, todas as tecnologias LCD usam uma técnica conhecida como “amostra e retenção” que resulta em renderização de movimento em uma resolução significativamente menor do que imagens estáticas. Para exemplificar, a panorâmica esquerda/direita em uma partida de futebol sempre parece mais desfocada do que fotos estáticas numa LCD.
Isso não é um problema em CRTs por conta de seu manuseio de movimento diferenciado frente às tecnologias modernas. Ali, todos os aspectos de cada quadro são renderizados de forma idêntica, a ponto de até uma apresentação em 768p fornecer mais detalhes em movimento do que um LCD 4K.
Por fim, a experiência também aponta uma enorme qualidade de contraste. Surpreendentemente, ambientes escuros são melhor representados, enquanto as telas atuais se tornam cada vez mais escuras.
Vale a pena tentar jogar videogames atuais em TVs de tubo?
Sim, as TVs antigas combinam com jogos atuais, porém elas são grandes e volumosas. A qualidade da imagem é imensa, mas o peso da tela também. Algumas chegam a pesar 42 kg e ocupam uma área de 600x550 mm. Ao superar essa questão, voltamos ao sentimento de admiração, lembrando que os visuais dos jogos atuais são mais realistas do que nunca, e há algo na aparência das CRTs que enfatiza ainda mais esse realismo
Se você se empolgou para testar aquela televisão antiga esquecida aí na sua casa, há alguns pontos a se atentar, como a situação de entrada. TVs antigas usam entradas VGA, DVI-I ou componentes RGB BNC - e praticamente a GPU moderna mais poderosa que ainda oferece suporte é a GTX 980 Ti ou Titan X Maxwell.
Felizmente, você pode procurar por adaptadores HDMI, USB-C e DisplayPort para VGA que estão disponíveis. Já fica o aviso: você pode passar bastante tempo pesquisando o caminho certo para lidar com altas taxas de pixels se pretender ultrapassar 1920x1200 a 60Hz. Isso porque existem poucas CRTs widescreen disponíveis e funcionais.
Então, acrescentamos que os jogos de console não são tão adequados para telas. Você pode rodar consoles em uma CRT, mas essa técnica faz muito mais sentido para usuários de PC. Também precisamos ressaltar que o hardware do PC evoluiu até o ponto em que rodar em taxas de atualização mais altas que 60Hz é relativamente simples. Isso merece ser mencionado, pois muitas TVs antigas podem rodar facilmente em frequências muito mais rápidas, até 160Hz ou mais. Isso é bem relevante para uma tecnologia que se tornou supostamente obsoleta para o grande público logo após a virada do milênio.
Tudo isso prova que não é obrigatório ter uma TV com tecnologia de ponta para se divertir com games.