'Engrandece a gente', dizem podcasters sobre criar conteúdo independente
Lucrarem falando de videogames, não lucram. Entretanto, o carinho pelo que fazem motiva a continuar
Se você chegar para qualquer criança que gosta de videogames e falar que é possível trabalhar com aquilo ali, existe uma chance de que ela se empolgue com isso. Afinal, qual fã de games não gostaria de ser um profissional da área e literalmente ser pago para "jogar joguinhos". Contudo, o mercado não é tão fácil assim por questões que não ouso tentar explicar, mas isso não impede que várias pessoas se arrisquem em produzir conteúdo sem encher os bolsos.
Isso porque a paixão de alguns pelos videogames é algo tão forte e "teimoso" que a necessidade de gerar conteúdo e realizar algo na área ultrapassa a necessidade de viver financeiramente daquilo. Estes são os casos de Daniel "Dan" Schettini e Felipe "Cardoso" Cardoso, do UP, um podcast independente apoiado pela comunidade no Catarse. O retorno afetivo, bem como a paixão pelos jogos, não permitem que eles questionem se não deveriam parar com o projeto.
É importante pontuar que os membros do UP não se dedicam exclusivamente ao projeto. Entretanto, com o apoio da comunidade, o podcast se sustenta e, a intenção dos idealizadores é que um dia o UP consiga ser também fonte de renda para eles. Afinal, seria o melhor dos dois mundos.
Os primeiros passos como Final Level
Dan e Cardoso foram os idealizadores do Final Level Cast, um produto oriundo da empresa Final Level. Por lá, receberam o apoio necessário para tirar do papel um projeto que nasceu de um desejo de se comunicar com a comunidade e extravasar as opiniões sobre os games e a indústria que os cerca. Vale ressaltar que, apesar do Final Level ter oferecido os recursos necessários para a execução do podcast, a demanda inicial não foi deles e sim um desejo de Dan e Cardoso. Antes mesmo do UP surgir, o nascimento do Final Level Cast foi uma puxada de peito de um desejo pessoal de ambos. Outro ponto a se destacar é que, atualmente, a bancada fixa do podcast conta também com Marcia Effect e Rodrigo Coelho.
"Esse caminho que foi sendo construído, até que a gente chegasse ao Final Level Cast, foi uma coisa muito latente que a gente tinha entre a gente. Porque nós já eramos amigos (Cardoso e Dan) antes do Final Level. Então nossas conversas eram uma coisa muito da troca do dia a dia, não só de colegas de trabalho, mas do lado pessoal", comenta Dan.
"Nosso horário de almoço era a gente falando de videogame, nosso lanche da tarde era a gente falando de videogame. Aí tem até um meme sobre isso né, mas quando dois caras gostam muito de falar sobre um assunto e falam 'Nossa, e se a gente fizesse um podcast?'. Só que a gente levou essa piada muito a sério e desenvolveu o programa", brinca Cardoso.
Aliás, Cardoso começou no podcast apenas como produtor e "manda-chuva". Tinha um perfil mais low profile, aparecia em poucos episódios e isso se tornou até mesmo uma brincadeira, recorrente, interna da comunidade. Para se ter ideia as redes sociais do idealizador eram um dos maiores segredos do então Final Level Cast. Entretanto, o engajamento e sinergia com os seguidores do podcast foi crescendo tanto que, hoje, Cardoso é um dos personagens mais recorrentes.
UP, Catarse e a comunidade
Dois anos de casa na Final Level e o projeto de Dan e Cardoso já não rendiam um grande lucro, assim por dizer, mas o podcast recebia o apoio suficiente para ser entregue com qualidade técnica. Contudo, no fim de 2021, a Final Level resolveu não continuar com o projeto. A dor de cabeça da equipe foi imediata, mas, segundo Dan, o pensamento da equipe era de seguir em frente.
"Quando você tem um produto que é independente, você, em vários momentos, irá questionar coisas como cansaço, ou até mesmo jogos que a gente não está afim de jogar, mas recebemos uma chave e se comprometeu a fazer um programa sobre. Sempre passa um fio na cabeça, mas a gente sempre chegava a mesma resposta. A gente curte e a gente está construindo um legado que vale a gente seguir com isso daqui", falou Dan, com Cardoso complementando: "A gente sempre gostou muito de fazer (o conteúdo) e sempre fez bem para gente como pessoa. Engrandece a gente como indíviduo".
Mas claro que partir para uma independência total só acrescentaria mais etapas na linha de trabalho. Entretanto, como pontuado por Dan e Cardoso, não houve um momento em que eles considerassem o encerramento imediato do podcast após o fim da parceria com a Final Level. A solução? Honestidade, abertura e pedido de ajuda para os amigos e, depois, para a comunidade.
"Liguei para todos os meus amigos que me deviam favor (risos). A gente passou cinco dias antes do natal até a data de anúncio do financiamento coletivo aprovando arte, aprovando logo nova, tudo. E aí a gente fez todo um desenho de campanha publicitária para fazer esse Catarse dar certo. Eu mandei mensagem na DM do Twitter do dono do Catarse, falando que eu precisava de ajuda, na cara de pau máxima", conta Cardoso rindo, agora que toda a situação já passou.
A nossa maior aventura apenas começou pic.twitter.com/ofghWrZPfL
— UP (@segueoup) January 26, 2022
Se todo criador de conteúdo bom possui uma responsabilidade com a sua comunidade, um projeto apoiado financeiramente pelos ouvintes traria uma obrigação ainda maior. Entretanto, tratar o projeto como algo a ser entregue para a comunidade, e não como algo a gerar lucro pessoal, fez a diferença na montagem do pedido de apoio.
"Cara, o nosso fluxo e o que a gente deveria atender e entregar para a nossa comunidade aumentou. Porque ai tem programa que é exclusivo para assinantes, tem a live, tem uma série de coisas que a gente precisa fazer para ser atrativo para o nosso Catarse. A gente teve esse trabalho e esse carinho porque a gente queria que as pessoas sentissem que teriam uma coisa diferente ali. A gente criou uma relação muito próxima (com a comunidade e assinantes)", pontua Cardoso.
Projeto desenvolvido, Catarse montado, agora era com a comunidade para que o UP se mantivesse ativo e entregando conteúdo regularmente.
Apoio instantâneo
E não precisou de muito tempo para que o time do podcast confirmasse a sua manutenção, visto que bateram as metas estabelecidas rapidamente. E ainda que este apoio não fosse gerar um retorno financeiro grande o suficiente para que os podcasters se sustentassem apenas do UP, o apoio instantâneo de seus ouvintes aumentou a motivação de entregar conteúdo gamer de qualidade.
"A partir do momento que a gente virou a chave e deixou de ser empresa-pessoas e passou a ser pessoas-pessoas, a gente passou a ver muito mais os feedbacks, se elas gostaram ou não gostaram do episódio. Elas se sentiram muito mais compelidas a trocar essa ideia com a gente e ver a gente ali muito próximo. Aí a gente tem grupos no Telegram que já são mais abrangentes. Então para de ser uma coisa de 'isso aqui é o máximo que você vai ter de mim' para 'vocês vão acompanhar o que eu faço'. A gente criou uma relação muito íntima com pessoas que ouvem o nosso conteúdo", contou Cardoso.
— Cardoso (@cardoso122) January 28, 2022
Dan finaliza comentando sobre o senso de pertencimento. Enquanto Final Level Cast, não atuavam de forma totalmente independente, mas a produção em alguns momentos se assemelhava. Entretanto, agora como UP, a equipe é independente e apesar de suas desvantagens, existe uma vantagem que prepondera.
"Hoje, como UP, é uma parada que é NOSSA. A gente está tomando os rumos que a gente entende que o UP deve tomar, porque as decisões não precisam passar por terceiros. E aí quando você consegue realizações, quando você vê que o público pega na sua mão e vai contigo, tudo que você construiu antes e continua levando com você, isso é uma realização pessoal, não profissional. E isso é muito foda", finaliza Dan.