Gamificação com propósito: além da diversão superficial
A gamificação, quando bem implementada, vai além da diversão, sendo uma ferramenta estratégica para transformar comportamentos e engajar pessoas em treinamentos e aprendizado.
No universo corporativo atual, poucos termos geraram tanto burburinho quanto "gamificação". Medalhas virtuais, rankings e sistemas de pontos invadiram treinamentos e plataformas de e-learning, prometendo transformar o tédio em engajamento. Mas será que estamos aproveitando todo o potencial dessa ferramenta?
A verdade é que muitas iniciativas de gamificação acabam presas em uma armadilha: confundem o meio com o fim. Implementam elementos superficiais de jogos sem compreender sua verdadeira função transformadora.
Além do modismo
Gartner define a gamificação como "o uso de mecânicas de jogos e design de experiência para engajar digitalmente e motivar pessoas a alcançarem seus objetivos", destaca algo crucial: trata-se de uma ferramenta para alcançar objetivos concretos, não apenas para "tornar as coisas mais divertidas".
O erro mais comum? Adotar a gamificação simplesmente porque "a nova geração exige" ou porque "nossos treinamentos são entediantes". Quando o foco está apenas na diversão, os resultados raramente superam os de treinamentos tradicionais.
O propósito vem primeiro
Um design de gamificação eficaz começa com uma pergunta essencial: qual comportamento queremos transformar? A partir daí, cada elemento do jogo — sejam pontos, desafios ou narrativas — deve servir a esse propósito maior.
Programas bem-sucedidos demonstram que a gamificação é mais poderosa quando:
- Introduz novos conceitos e termos, preparando o terreno para aprendizados mais complexos
- Propõe desafios que geram um genuíno sentimento de conquista
- Incentiva a colaboração e competição entre os participantes
Evitando a fadiga da gamificação
Assim como uma dieta restritiva demais acaba abandonada, uma gamificação excessivamente focada em pontos e medalhas gera desinteresse com o tempo. O segredo está no equilíbrio: usar esses elementos como apoio, não como protagonistas.
Os melhores resultados surgem quando a gamificação funciona como parte de uma estratégia mais ampla. Por si só, jogos raramente provocam transformações comportamentais completas — mas como complemento a programas estruturados, podem ser o diferencial entre o sucesso e o fracasso.
O próximo nível: domínio pelo jogo
O auge da gamificação se manifesta nos "jogos sérios" — experiências que integram mecânicas sofisticadas e conteúdo relevante, desenvolvendo habilidades em ambientes seguros. Embora exija mais investimento, esta abordagem gera resultados notáveis em retenção e aplicação do conhecimento.
Antes de adotar a gamificação, questione: estamos escolhendo esta ferramenta por ser ideal para transformar comportamentos específicos ou apenas seguindo tendências? Sua resposta determinará se criará uma experiência transformadora ou apenas um treinamento superficialmente "divertido".
A gamificação eficaz vai além do entretenimento — ela potencializa o aprendizado. E isso não é brincadeira.
(*) Danilo Parise é CEO e cofundador da Ludos Pro, plataforma de treinamentos gamificados e uma das principais edtechs da América Latina.