The Last of Us é ótima adaptação de game para TV, mas isso basta?
Game marcou época em 2013 ao adaptar conceitos da televisão para os jogos, mas agora precisa trilhar o caminho inverso
Grande aposta da HBO no primeiro semestre de 2023, The Last of Us está sendo aclamada como a melhor adaptação de games para o formato 'live action', inclusive contando sua história melhor do que o próprio jogo de PlayStation. Mas será que isso é o bastante para colocar o seriado no mesmo patamar de outras produções de sucesso dos últimos anos?
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O primeiro episódio da série consegue se manter fiel ao jogo original nas sequências mais marcantes, ao mesmo tempo em que expande a narrativa seja ao dar mais tempo de tela para Sarah (Nico Parker), a filha de Joel (Pedro Pascal) ou quando se afasta do núcleo principal para explicar melhor seus conceitos e universo - como na cena inicial, quando especialistas apresentam a infecção do Cordyceps em um programa de TV em 1968, ou na primeira cena no mundo devastado de 2023, quando o expectador acompanha uma criança chegando na zona de quarentena em Boston.
O dia do surto, ou "Outbreak Day", como é chamado pelos fãs do game, acontece em 2003 e começa mais lentamente na série, com várias pequenas cenas sinalizando o que está por vir, desde jovens com perturbações motoras sutis na escola de Sarah, a crescente presença de viaturas, carros de bombeiros e até aviões militares nas ruas, a cena assustadora da vizinha idosa, até chegar na fuga de Joel, Tommy e Sarah pela cidade infectada, sequência reproduzida quase quadro a quadro na série da HBO - é uma das cenas mais memoráveis e marcantes do jogo, reproduzida em toda sua intensidade na série, talvez até mais, já que o público teve tempo de conhecer Sarah um pouco melhor do que no game original.
A partir daí, a série salta vinte anos no futuro, até 2023, quando Joel é apresentado a Ellie por sua amiga Tess. Ambos vivem na zona de quarentena de Boston, administrada pelo que restou do governo americano. Joel ganha a vida contrabandeando coisas para dentro e para fora dessa área protegida e recebe um serviço arriscado: levar a garota para o oeste, o primeiro passo em uma longa e perigosa jornada pelos escombros da América, que será apresentada nos próximos oito episódios.
O primeiro episódio de The Last of Us tem várias referências ao jogo original e mais de uma cena reproduzida nos mínimos detalhes. Estas sequências funcionam tão bem não só pela qualidade excepcional do material base, mas também por terem sido pensadas como uma produção para a TV desde o começo - o game da Naughty Dog sempre foi elogiado pela narrativa e foco nos personagens, que parecia "uma série da HBO". O mundo dá voltas, não é mesmo?
Dá para ser mais do que adaptação de games?
Porém, se os conceitos de The Last of Us eram inovadores para os games em 2013, ao humanizar seu apocalipse zumbi, se concentrar nas relações entre os personagens e na jornada do "pai triste" de Joel, ao invés de destacar apenas a matança descerebrada dos mortos-vivos, o mesmo não pode ser dito ao levar isso para a TV - todas essas ideias já foram exploradas em séries e filmes na última década.
O fim do mundo era um tema recorrente até mesmo antes, com a proximidade do ano de 2012 e o tal fim do calendário maia, a temática apocalíptica estava em alta no começo da década passada. Apocalipse zumbi era justamente o filão principal, por causa do sucesso de The Walking Dead, revista em quadrinhos da Image que foi adaptada pela AMC e se tornou um fenômeno pop - que chegou ao fim somente agora, em sua 11ª temporada.
The Walking Dead inovou justamente por humanizar o apocalipse, se concentrando nas relações interpessoais e dramas íntimos dos sobreviventes, sem nem se dar ao trabalho de explicar o que causou o surto de mortos-vivos ou como a civilização foi destruída em uma semana.
Outro elemento importante de The Last of Us é a relação de Joel com Ellie. Marcado pela morte da filha, Joel é o legítimo 'pai triste' que se aventura ao lado de um personagem bem mais jovem. É um arquétipo literário que não tem nada de novo, mas sempre rende boas histórias: o mangá Lobo Solitário, o filme Estrada para Perdição, a HQ O Velho Logan (que inspirou o último filme do Wolverine, Logan), os livros e a série The Witcher e, é claro, a série The Mandalorian, maior sucesso recente de Star Wars, que é estrelada pelo próprio Pedro Pascal, ator que agora dá vida ao Joel de The Last of Us.
Mesmo Ellie, personagem de Bella Ramsey, parece ser um tipo de personagem bem conhecido em histórias envolvendo apocalipses zumbis ou similares: imune ao Cordyceps, a jovem pode ser a escolhida para salvar a humanidade. Ainda bem que, seguindo o que os fãs já conhecem dos games, a personagem evolui bastante ao longo da história e sua participação não fica só nisso.
Série promissora
Se os temas e conceitos de personagens de The Last of Us não são originais, a série parece preparada para brilhar pelo bom uso deles, seja com a atuação excelente do elenco - a Ellie de Bella Ramsey tem tudo para ser uma personagem tão cativante quanto a original, interpretada por Ashely Johnson nos games (atriz que faz o papel de sua mãe na HBO) e Pascal dá tudo para Joel não parecer só um repeteco do Mandaloriano.
E julgando pelo ritmo das cenas do primeiro episódio, que dá um bom tempo para o público respirar enquanto constrói seu surto zumbi e mundo apocalíptico, criando a tensão crescente até surpreender o expectador com aviões caindo no meio da cidade e outras pirotecnias, The Last of Us mostra que consegue reproduzir a adrenalina dos games e, inclusive, contar sua história de forma realmente melhor.
Com nove episódios, The Last of Us vai ao ar todos os domingos na HBO.