Mortal Kombat 1 dá fatality em acessibilidade? Veja análise
O jogo de luta mais exagerado e violento da indústria de games chegou em nossas mãos! Mortal Kombat 1 tem a intenção de ser uma sequência direta do título anterior da franquia sendo uma mistura de continuação e reboot.
Na nova edição, além dos belos gráficos e o já tradicional modo história com cara de filme B, temos novidades como o divisivo modo Invasões, que se passa em um tabuleiro com visão isométrica com elementos de RPG. Por fim, também temos os personagens Kameos, que lutam ao lado do jogador em equipe.
Embora tenha estreado com atualizações pendentes para certos modos, como está a acessibilidade de Mortal Kombat 1? Vamos descobrir como o jogo se sai neste quesito agora, na análise de acessibilidade do Voxel!
Eu gostaria de ressaltar que a acessibilidade se aplica de maneira única para cada pessoa. Ou seja, essas são minhas impressões pessoais do jogo como pessoa com baixa visão. Meu objetivo aqui é destacar as opções que estão presentes no jogo e que deixam ele mais inclusivo.
Eu não sou o maior especialista em jogos de luta de forma aprofundada. Por causa disso, para me auxiliar nessa jornada, pedi ajuda para amigos que entendem desse gênero e tem bastante experiência em produção de conteúdo sobre acessibilidade. Essa coluna foi realizada em colaboração com Pablo Luiz (ogamercego), produtor de conteúdo na Twitch, e com o Wzy do canal do Youtube Blind Kombat.
Os dois entendem muito de acessibilidade e estão dentro da cena de Mortal Kombat. Com isso em mente, se quiserem acompanhar criadores especializados no assunto, podem conferir o trabalho dessa galera que é muito sensacional. Ressalto que as opiniões emitidas sobre o jogo são minhas, e o auxílio que eles me deram foi em relação ao equilíbrio do jogo nos modos competitivos, ranqueados e informações mais aprofundadas do nicho de jogos de luta.
Acho importante salientar que o pessoal do Blind Kombat participou da campanha de lançamento do jogo Mortal Kombat 1 a pedido da equipe da Warner Brasil. Se você acha que isso pode interferir de alguma forma nas opiniões emitidas nesta anális,e o aviso de transparência está dado, pois eles me deram consultoria nas áreas técnicas aprofundadas do jogo tanto em questão de combate quanto do competitivo.
Sem mais delongas, confira a seguir os destaques de Mortal Kombat 1 em acessibilidade, em uma análise realizada com uma cópia do game cedida pela Warner Brasil para PS5.
Interface
O primeiro contato que temos quando iniciamos um jogo em nossos consoles ou PC é com a sua interface, onde o jogador pode configurar certos aspectos do jogo antes de sair para sua aventura. Normalmente esses itens customizáveis aparecem antes do menu principal, como as opções que permitem escolher a quantidade de brilho da tela ou mesmo o simples ato de fazer login na sua conta dentro do jogo, sendo tudo bem intuitivo.
No caso de Mortal Kombat 1, temos também um detalhe interessante ao iniciar o jogo: a função de leitor de tela já chega ligada por padrão. Isso significa que um jogador cego, ao abrir o game, não precisa de nenhum tipo de auxílio de um terceiro para encontrar os menus de acessibilidade e assim configurar o jogo a sua própria maneira. Isso é incrível e exemplar no mundo dos games, pois assim o player já começa a navegar com autonomia, podendo fazer todo o processo necessário para dar o pontapé inicial no gameplay por conta própria.
De forma geral, as opções são bem organizadas e não dá para se perder, pois tudo se encontra em seu devido lugar. Além disso, as configurações são fáceis de aplicar e temos menus específicos para a área de acessibilidade, facilitando a vida de quem busca esses recursos.
Senti falta somente de submenus divididos por tipo de deficiência ou mesmo presets pensados e padronizados que tenham um modo plug and play das acessibilidades. O jogo poderia trazer, por exemplo, predefinições padrão divididos por deficiência auditiva, visual e motora, assim deixando ainda mais rápida a configuração.
Mesmo com esse detalhe, as opções são bastante customizáveis e trazem uma experiência única para cada jogador.
Legendas
Bastante famosas e necessárias, as legendas são utilizadas para demonstrar de forma escrita os principais diálogos dentro do jogo, assim possibilitando a imersão e o acompanhamento da narrativa por pessoas que não tenham o feedback auditivo das falas dentro de uma mídia. Além disso, o recurso possibilita consumir um conteúdo em outro idioma, como inglês, por exemplo.
Em Mortal Kombat 1, talvez as legendas sejam a ferramenta de acessibilidade mais básica e simples do jogo, tendo as opções de ligado e desligado, sem praticamente nenhum tipo de customização. O recurso deixa de lado soluções básicas como, por exemplo, a possibilidade de alterar o tamanho das fontes dos textos, cores, legendas alternativas de sons do ambiente ou mesmo a opção de ter ou não o nome de que esta falando no diálogo.
Quando o assunto é acessibilidade, as legendas são, de longe, o recurso mais fraco e incompleto do jogo. Um dos grandes chamarizes de Mortal Kombat 1 é seu modo campanha e não ter uma boa gama de opções de legendas pode prejudicar a experiência de alguns jogadores.
Controles
Jogos de luta são popularmente conhecidos pela sua grande customização de controles, podendo se utilizar desde um joystick tradicional até controles de arcade com seu visual retrô e suas alavancas gigantes. No caso de Mortal Kombat 1, temos o tradicional remapeamento de botões que permite a customização completa dos inputs e outputs dos controles.
Isso ajuda principalmente pessoas com algum tipo de deficiência motora e já é bastante tradicional dentro das funções de acessibilidade de jogos hoje em dia.
Também é possível alterar o tempo de resposta dos controles e a ativação de comandos ao soltar o botão, ao invés de pressionar. O jogo também permite criar atalhos para facilitar a execução de alguns tipos de golpes mais elaborados.
Leitor de Tela
O leitor de tela é uma ferramenta de acessibilidade que executa a leitura dos textos presentes em algum jogo ou software. A solução tem por objetivo auxiliar principalmente pessoas cegas ou com baixa visão a navegar dentro de aplicativos em geral e assim tendo autonomia de conseguir entender o que está escrito na tela.
Em Mortal Kombat 1, temos um excelente leitor de telas que narra praticamente todos os textos do jogo, indo desde menus e listas de golpes até tutoriais de mecânicas do jogo. Para os jogadores brasileiros, porém, existe uma questão bem grave que precisa ser ressaltada: o leitor de tela foi pensado para executar a narração de textos em inglês, o que deixa a experiência em português nada amigável.
Prém, se você souber falar inglês e necessita do recurso para jogar, eu indico trocar o idioma do jogo para a lintua do Tio Sam. Claro, dá para entender e se acostumar com o sotaque do leitor quando os textos do jogo estão em PT-BR, mas não foi o meu caso. Infelizmente não consegui me acostumar, então, sendo uma pessoa com baixa visão, acabei desligando o recurso, pois senti que ele estava mais me atrapalhando do que ajudando.
No entanto, isso é bem pessoal e cada um se adapta de formas únicas ao game e suas funções. Conheço pessoas cegas que se adaptaram com a ferramenta dentro do jogo, que se tornou peça essencial da experiência. Em resumo, vale a pena testar ou ver algum vídeo do leitor funcionando e avaliar por conta própria.
Dentro dos principais modos de jogo, o leitor executa um bom trabalho traduzindo todas as informações escritas em fala, mas temos um grande problema no Modo Invasões. O narrador executa a leitura de todos os textos do modo citado anteriormente como telas de upgrades, em qual casa o jogador se encontra no tabuleiro e os talismãs conquistados.
Porém, a narrração acaba deixando de fora a loja interna do modo inovações, onde o leitor simplesmente não funciona. Com isso, a etapa de comprar itens dentro do modo, que é muito importante, acaba sendo frustrante e até mesmo desequilibrada.
Apesar disso, posso dizer com certeza que o leitor narra cerca de 95% do jogo. Os problemas pontuais podem ser solucionados em futuras atualizações, mas não deixam de ser um pouco frustrantes.
Audiodescrição
Se você já utilizou algum serviço de streaming de filmes e séries e foi colocar aquele Todo Mundo Odeia o Chris dublado, deve ter notado que dentro das opções de idiomas de algumas produções temos a possibilidade de escolher utilizar o recurso de audiodescrição. Como o nome sugere, a solução toca uma descrição em áudio do que está se desenrolando na cena entre os diálogos, e é direcionada para o público que tem algum grau de deficiência visual.
Em Mortal Kombat 1, a função está presente no modo campanha e nos fatalities. Com isso, se você é uma pessoa cega, se prepare para ouvir muita violência enquanto destroça seus inimigos das formas mais brutais e engraçadas. Tudo isso é muito legal pois não é todo dia que vemos um jogo com audiodescrição no mercado de jogos digitais porém caímos no mesmo problema do leitor de tela pois a função está disponível somente em inglês então prepara o the books on the table pois os tempos de ps2 e dicionario de linguas voltaram, brincadeiras a parte a ferramenta funciona muito bem porém é uma pena que não em portugues.
Áudio
As opções de áudio são bastante amplas e customizáveis, indo desde a possibilidade de alterar o volume da música e diálogos até a possibilidade de escolher o ganho de golpes e movimentações específicas quase como uma mesa de mixagem. Além disso temos também sons de auxílio que trazem de modo auditivo informações do combate, como por exemplo a distância entre os oponentes, golpes bloqueados, acertos, quantidade de vida, distância da borda do cenário e agachamento.
Por fim, o jogo oferece sons que tem como objetivo a assistência de navegação no Modo Invasões. Com isso, o jogador pode saber para quais lados pode se mover dentro do tabuleiro.
Esse tipo de ferramenta que cria sons para dar informações visuais são extremamente importantes para jogadores com algum nivel de deficiência visual. Na minha experiência com o jogo, as soluções foram muito bem aplicadas e são as melhores opções de acessibilidade do jogo.
Modo História
Dentro do modo história, temos a aplicação de uma acessibilidade que eu gostei bastante e que deixou a experiência de curtir a narrativa de forma mais confortável. Além dos recursos já citados na matéria anteriormente, como audiodescrição, leitor de tela e auxílios de áudio, o game traz ainda mais soluções para ajudar a aproveitar a história.
Dentro da campanha, entre as lutas e cinemáticas, temos momentos de quick time events onde é necessário apertar botões na hora certa para executar certas ações. A solução é utilizada em ações como arrombar portas e se defender de um ataque inimigo, por exemplo.
Esses mini games podem ser completamente desligados durante o modo história, pois, para vários jogadores, pode ser muito difícil enxergar ou acionar os botões necessários para completar a ação. Eu particularmente achei ótimo, pois tenho dificuldades para enxergar botões de forma rápida nesse tipo de mecânica. Com isso, posso dizer que a opção deixou a minha experiência com a narrativa do jogo mais acessível.
Invasões
Invasões é o modo de jogo que se passa em um tabuleiro e tem um sistema básico de progressão como em jogos de RPG com upgrades. A novidade apresenta uma boa gama de auxílios sonoros para locomoção pelo tabuleiro, mostrando onde o jogador pode ou não pode ir.
Os sons se apresentam de formas bem características e fáceis de distinguir e entender de forma dinâmica seus significados. No entanto, não posso deixar de relatar os problemas que tive por conta das falhas relacionadas com o leitor de tela, mencionadas anteriormente no texto. Além disso, temos mini games dentro do modo que não estão com recursos de acessibilidade aplicados, criando uma experiência geral bem frustrante e cansativa.
O modo Invasões era bem mais precário no que se trata de acessibilidade próximo ao lançamento do jogo, mas, com o tempo e feedbacks, os desenvolvedores aprimoraram várias barreiras presentes na implementação do narrador dentro dos menus. Com isso em mente, fico na expectativa de que a equipe de desenvolvimento aprimore a experiência no decorrer das novas temporadas.
Competitivo
Como todo mundo sabe, Mortal Kombat é um jogo com campeonatos e jogadores profissionais. Os modos de acessibilidade podem deixar esse game ainda mais inclusivo para usuários com algum tipo de deficiência e, assim, gerar ainda mais inclusãono no mundo dos eSports.
A recepção do público profissional que treina habilidades como combos e frame datas tem elogiado bastante as ferramentas de acessibilidade do jogo, pois elas são pensadas tanto para jogadores casuais quanto a galera que tem vontade de se aprofundar e virar profissional.
No entanto, existem ressalvas. O auxílio sonoro, por exemplo, não informa o lado em que o jogador se encontra, enquanto o leitor de tela não informa detalhes como o nome do seu oponente ou a quantidade de ping. Porém, no geral, a acessibilidade funciona muito bem.
Vale a Pena?
Mortal Kombat 1 chega com muito mais recursos de acessibilidade que seu predecessor e traz a inclusão que os fãs PCDs do jogo tanto esperavam. Eu tenho algumas ressalvas no que se refere a implementação de opções como o idioma do leitor de tela e da audiodescrição, além dos problemas no Modo Invasões.
No entanto, no que se trata de mecânicas de combate, o jogo manda muito bem ao trazer remapeamento de controles e os auxílios sonoros, garantindo informações do que está rolando durante a luta. A experiência tem altos e baixos, mas, no geral, Mortal Kombat 1 é acessível para jogadores com algum tipo de deficiência.
A grande pergunta que fica é: Mortal Kombat 1 manda melhor em acessibilidade do que Street Fighter 6? Os dois jogos são bastante comparáveis e tem recursos em comum, mas acho Mortal Kombat 1 um jogo mais completo e inclusivo do que Street Fighter 6. Para mais detalhes confira nossa análise de acessibilidade completa do jogo da Capcom aqui no Voxel.
Independente da "disputa", é muito bom vermos que dois dos maiores jogos de luta de 2023 capricham na acessibilidade. Resta agora aguardar por 2024 e torcer para mais empresas adotarem esse padrão em seus jogos.