Naruto: Storm Connections é prova de que a série parou no tempo - review
A CyberConnect2 é uma desenvolvedora cujo currículo se destaca, sobretudo, pelo seu envolvimento nos jogos inspirados na obra de Masashi Kishimoto. Por muitas vezes, a franquia Naruto: Ultimate Ninja Storm serviu de referência no que diz respeito a adaptações de animes para videogames, tendo em vista suas cenas cinematográficas recheadas de ação e sistemas genuinamente divertidos para jogadores mais casuais.
Isso é tão verídico que, ainda em 2015, o quarto jogo numerado da franquia saiu na dianteira e adaptou os eventos finais do mangá de Naruto Shippuden com maestria, agradando fãs e jogadores de primeira viagem. Agora, para celebrar os vinte anos da estreia do anime, a desenvolvedora está de volta com Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections.
Com mais de uma década de experiência com a série, era de se esperar que a CyberConnect2 refinasse a fórmula para entregar um produto definitivo, com uma qualidade e densidade de conteúdo sem precedentes. No entanto, o resultado é um jogo que não apenas repete erros do pasado — em especial nos seus sistemas online —, mas também traz retrocessos em pontos que eram aclamados nos títulos anteriores. Você descobre os detalhes a seguir, no review completo do Voxel.
História que existe só por obrigação
Já não é surpresa que a história de Naruto Shippuden chegou ao fim e que a CyberConnect2 cobriu os principais acontecimentos com maestria nos seus jogos. No entanto, Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections por algum motivo achou que seria uma boa ideia revisitar esses acontecimentos da forma mais preguiçosa possível.
Na primeira parte do Modo História, os jogadores revivem a jornada de Naruto Uzumaki desde o seu nascimento com cenas semiestáticas, extraídas diretamente do anime — e ainda por cima, censuradas. Na maior parte do tempo, o jogador apenas assiste ao resumo, às vezes narrado, e eventualmente assume o controle em algumas lutas que são consideradas importantes — com destaque para chefes.
O curioso é que essas lutas foram extraídas diretamente dos jogos anteriores, sem qualquer tipo de novidade ou refinamento. As cenas até causam estranhamento com a conversão para 60 FPS, pois claramente não foram produzidas com esse desempenho em mente. Pelo ritmo acelerado com que os eventos são contados, o jogador de repente se vê em meio a uma luta de grandes proporções e que perde completamente o impacto emocional dos jogos originais, como se estivesse deslocada e sem coesão.
Dito isso, vale uma observação importante. Se o jogador pretende adquirir Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections com o propósito de experienciar a história completa da série, esse definitivamente não é um jogo recomendado. Em vez disso, é muito mais viável garantir Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm Legacy, que traz os quatro jogos principais em um único pacote para plataformas modernas.
Já na segunda parte do Modo História, os jogadores acompanham uma História Especial, escrita especialmente para o jogo e estrelada por Boruto Uzumaki e seus amigos. A cena inicial parece bastante promissora e passa a sensação de grandiosidade dos jogos anteriores, mas seu escopo reduzido fica claro já nas primeiras horas de gameplay.
O enredo é arrastado e digno de um episódio filler, para dizer o mínimo. Os jogadores acompanham acontecimentos que levam o Mundo Ninja a implodir com uma guerra iminente, articulada por uma organização criminosa. O problema é que o vilão por trás disso é extremamente genérico, desinteressante e incapaz de ser levado a sério. É um alívio quando ele não está na tela, repetindo exaustivamente seus discursos vazios.
A única personagem que chama a atenção e que está no centro dos acontecimentos é Nanashi, uma garota misteriosa que se simpatiza com Boruto. Ainda que muitas coisas aconteçam por conveniência do roteiro, a história toma um rumo interessante no seu arco final e pode entreter. Mas que fique claro que não há nada com o nível de qualidade de Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm 4, de 2015.
Tudo é bastante linear e não existe segmentos de exploração como nos jogos anteriores, algo que pode decepcionar alguns fãs. É possível concluir a história com cerca de oito horas de jogatina. O jogo também traz localização completa em português do Brasil, mas a qualidade da dublagem deixa a desejar em muitos momentos. Por vezes, também é possível encontrar erros de digitação nas legendas e brincadeiras que destoam da personalidade dos personagens — por algum motivo, há até mesmo referência a Chaves.
Familiar até demais
Em termos de gameplay, chega a ser difícil apontar diferenças. O jogo é extremamente familiar aos veteranos, apostando em mudanças de balanceamento que sequer têm relevância para jogadores mais casuais. O sistema também segue inalterado: é possível desferir combos com um único botão; canalizar Chakra para investidas e especiais mais poderosos; chamar personagens de assistência para desferir contra-ataques e estender combos etc.
A novidade fica por conta do elenco de personagens, que é o maior da história da franquia. São 130 lutadores selecionáveis e, naturalmente, isso torna a tela de seleção uma completa bagunça — com direito a várias versões diferentes dos mesmos personagens. É claro que existem aqueles que se sobressaem e são muito mais apelões, mostrando que balanceamento é nada menos que uma fachada.
Outra novidade relevante é que os personagens agora têm dois nijutsus disponíveis, e isso colabora para o leque de estratégias durante as partidas. Os jogadores também têm liberdade para personalizar a aparência dos personagens, pois é possível destravar novas cores, vestimentas e acessórios cumprindo requisitos.
A base dos jogos originais é boa, então dificilmente alguém que goste do anime ou tenha experiência com os jogos da franquia não se divertirá nas partidas. Por outro lado, é tudo tão similar que evoca um sentimento incômodo de o jogo não tem uma identidade própria. Algo que também irrita é que o jogo tem uma necessidade de explicar tudo que aparece na tela, subestimando a inteligência do jogador.
Online decepcionante e que vai na contramão do mercado
A cada lançamento da CyberConnect2, sempre há a esperança por parte da comunidade de que a empresa acerte no modo online. Infelizmente, Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connection repete o mesmo erro de títulos anteriores e apresenta um netcode precário, que é baseado em delay.
Naturalmente, não foi possível experimentar contra muitos jogadores no período de pré-lançamento porque havia poucas pessoas online. Ainda assim, partidas com três barras de conexão, que seriam consideradas aceitáveis, apresentaram um atraso severo na resposta dos comandos e que tornava a jogatina inviável. Também pesa o fato de que não há suporte a salas privadas, pelo menos no período de lançamento.
É realmente lamentável que a CyberConnect2 persista nesse erro em um mundo pós-pandemia, que testemunhou a importância de um bom ambiente online para fomentar comunidades de jogos de luta. É uma atitude afrontosa ao consumidor e que vai na contramão da tendência de mercado, que tem investido cada vez mais em netcode de rollback e crossplay.
Vale a pena?
Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections é propagandeado como o "melhor jogo de Naruto até hoje", mas isso não passa de falácia. A maior parte do seu conteúdo é reciclado dos jogos anteriores e a execução nem chega aos pés do que a franquia chegou a ser nas gerações passadas — sobretudo no que diz respeito ao Modo História, que é raso e preguiçoso.
Já História Especial chama a atenção por ser um conteúdo inédito, mas destoa bastante da qualidade dos jogos anteriores, que tinham exploração e eram repletos de cenas que saltavam aos olhos. Ainda que tenha bons momentos em seu arco final, o roteiro é arrastado e não é uma experiência imperdível. Como dissemos, se o jogador quiser a experiência completa da saga, a melhor opção ainda é Naruto Shippuden: Ultimate Ninja Storm Legacy.
Fica bastante claro que a franquia está paralisada no tempo, e isso é algo sintomático em todos os jogos produzidos pela CyberConnect2. Em muitos sentidos, o jogo é até mesmo um retrocesso. O gameplay ainda é capaz de entreter os jogadores que quiserem apertar botão e se divertir com amigos de maneira descompromissada, mas definitivamente não vale o preço de lançamento.
Nota do Voxel: 50
Pontos positivos (prós):
- Quantidade de personagens;
- Desempenho agradável;
- Sistema de combate mais completo da franquia;
- Localização em português do Brasil, ainda que com ressalvas.
Pontos negativos (contras):
- Modo História raso e preguiçoso;
- Roteiro arrastado da História Especial;
- Online extremamente precário (netcode de delay, sem crossplay);
- Muito conteúdo reciclado;
- Excesso de notificações e tutoriais não-solicitados.
A análise de Naruto X Boruto: Ultimate Ninja Storm Connections foi realizada no PS5 com uma chave fornecida gentilmente pela assessoria da Bandai Namco Brasil. O jogo chega em 17 de novembro com versões para PC (Steam), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.