Para Afrogames, futuro dos jogos está na favela
Projeto atende demanda dos gamers em favelas e periferias que segue mais viva a cada dia
O sorriso de Thaís não a deixava mentir. Afinal, orgulho de ter concluído o curso de programação de jogos no AfroGames não era só dela. A família que a acompanhava na cerimônia de formatura também sorria junto. Thaís estava entre os 100 jovens formandos nos cursos oferecidos pelo projeto social que fica dentro da Favela de Vigário Geral, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
O núcleo onde o projeto está, que é parte do AfroReggae, existe desde 1992, mas desde 2017 ele deixou de ser apenas um local voltado para as artes e dança, para ser um centro de tecnologia com acessibilidade.
"Você tira a pessoa da linha da desesperança", afirmou Thaís Xavier, desenvolvedora de jogos formada pelo projeto carioca.
"É aqui com o AfroReggae, por meio do AfroGames, que é o único lugar no Rio, e depois você vai descobrir que é o do Brasil e da América Latina, onde uma pessoa periférica, favelada mesmo, pode construir seu caminho na tecnologia, nos esports ou na programação", acrescentou Thaís.
Um levantamento do Instituto Data Favela, realizado em parceria com a Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Cufa (Central Única das Favelas) - apontou que cerca de 96% dos jovens moradores de comunidades no Brasil gostariam de ser gamers profissionais.
Dos jovens que responderam ao levantamento, 29% têm o objetivo de se tornar pro players atualmente. O sonho está acima de comprar a casa própria e ser feliz.
Apesar do isolamento tecnológico ser um empecilho na vida de jovens moradores de periferias, 49,7% dos consumidores desse mercado pertencem às classes C, D e E, segundo a Pesquisa Game Brasil 2021.
"Eu acho [que o futuro dos games está na favela]. Porque é a gente que consome. Quando você faz uma dancinha no TikTok, igualzinha a do Free Fire, é do pessoal [aqui da comunidade] que acabou de ganhar uma ringlight", contou a jovem de 21 anos.
Na América Latina, o Brasil é o país que gera a maior receita com games, na casa dos US$ 2,3 bilhões em 2021, ocupando o 12º lugar no ranking mundial, segundo a Comscore.
O olhar a respeito destes números aponta para um problema social, exatamente onde o AfroGames está atuando. A demanda das favelas e periferias pelos games sempre esteve viva, o que faltam são as oportunidades.
Portanto, além de de formar atletas e já contar equipes de esports, o AfroGames segue ampliando suas instalações, e inaugurou uma nova sala para criar novos cursos e formar times de jogos mobile - que são os mais acessíveis para o público.
"Qualquer pessoa que vem aqui e vê essas crianças jogando, tendo conhecimento desse mundo, desse universo que a gente não tinha. Porque, vamos pensar assim, a maioria que vem aqui não pode ter um computador, não pode ter uma internet boa e nem ser um youtuber ou streamer. Aqui eles estão dando essa oportunidade", contou Gabi "Haru", pro player de League of Legends do AfroGames.