Análise: No More Heroes 3 é uma experiência ambivalente
Novo título da franquia No More Heroes deixa um gosto agridoce no paladar dos entusiastas do título.
Quando o primeiro No More Heroes saiu lá em 2007 para o Wii, ele foi um choque. A visão de um videogame para crianças do console da Nintendo tornou a existência do título, especialmente nele, um ponto bem fora da curva. Seja na violência das batalhas ou até mesmo na vulgaridade dos ataques, o jogo era algo completamente diferente do que até então todos estavam acostumados com a plataforma.
14 anos depois, o terceiro jogo da série é lançado, agora para o Nintendo Switch. Ele não choca mais como chocou antes, mas ainda é um ponto fora da curva — porém, dessa vez, para todos os consoles. A nova obra de Suda 51, que, segundo ele, acaba a história de Travis Touchdown, é extremamente curiosa, embora não deixe de ter problemas. Confira em nossa análise.
Exemplar real da cabeça do criador
Suda 51 é conhecido na indústria de videogames como alguém bem “fora da casinha”, digamos. Todos os seus jogos, dos mais conhecidos, como Killer 7, até os menos, como Fire Pro Wrestling de Super Famicom, carregam uma carga de estilo bem autoral, se diferenciando bem de outros títulos encontrados normalmente no catálogo dos consoles.
Seja em seus gráficos cel-shade, que remetem a animes, ou mesmo na cidade onde Travis passa a maior parte do tempo, existem óbvias escolhas de estilo incrivelmente visíveis, e que ajudam a dar uma personalidade para o jogo. A todo momento o jogador é exposto a milhares de referências à cultura pop japonesa, como animes ou luta-livre, na pele do personagem principal, Travis. Tudo no jogo parece remeter a ideias de Suda 51, seus desejos e gostos, mas, ao mesmo tempo, todos esses fatos estão amarrados em uma construção de jogo que parece mal-acabada.
O problema com jogos como esse, porém, é saber diferenciar o que é intencional e o que é fruto de, talvez, um desenvolvimento corrido ou sem recursos. Lá em 2007, no primeiro No More Heroes, mesmo poucos recursos fizeram com que tudo se encaixasse de tal forma que o jogo existisse para parecer uma paródia de outros títulos e de clichês comuns na indústria. Agora, em 2021, 14 anos depois, talvez por não serem novidade, alguns detalhes parecem tornar o terceiro título um dos jogos que seria vítima da paródia lá atrás.
O loop geral de jogabilidade é o mesmo dos jogos anteriores da franquia. Usando o pretexto de 10 super-heróis intergalácticos quererem desafiar Travis, o jogador deve conseguir dinheiro para poder pagar a taxa de entrada no embate, lutar por uma fase cheia de inimigos e por fim vencer o chefe para subir nos rankings, até poder desafiar o número 1.
Entre as lutas, para juntar o dinheiro necessário, o jogador deve andar pela cidade principal do jogo, Santa Destroy, e fazer side quests, que vão desde vencer inimigos até cortar grama. Inicialmente interessantes, logo essas atividades se tornam tediosas por terem que ser repetidas TANTAS vezes. Junte a isso uma performance longe da ideal no Switch e temos um jogo que por vários momentos se torna frustrante.
As lutas contra chefes, embora ainda legais, não tem o charme dos assassinos humanos dos outros jogos, tornando os embates, pelo menos nas seis primeiras lutas, um pouco menos marcantes. Porém, as coisas mudam perto do final.
Um final impressionante
Perto das últimas 4 lutas do jogo, é impressionante como a qualidade do título muda. Acaba, finalmente, a repetição aparentemente sem fim e o jogo instaura lutas totalmente imprevisíveis, que exigem muito mais do jogador. O combate, já rápido antes, agora vira além de tudo desafiador onde cada movimento deve ser calculado, se não a derrota será rápida.
Os quatro confrontos finais parecem pegar as coisas que estavam sendo os principais destaques até então no jogo, juntá-las e fazer uma impressionante mistura que funciona incrivelmente bem. O que antes parecia um jogo constituído com fita adesiva entre seus vários momentos se torna uma experiência sólida e extremamente divertida.
Além disso, a carga emocional aumenta bastante. É realmente um jogo que mostra a que veio em suas horas finais, e isso o torna, na minha visão, um título que se destaca mais. O gosto agridoce, antes presente, acaba ficando melhor e mais tragável.
Porém, há de se considerar que essas 4 lutas finais tomam pouco mais de 5 horas de um jogo que para mim durou 16. São marcantes e satisfatórias, mas são pouco do que realmente temos no jogo, o que pode ajudar o título a não ser recebido de forma tão positiva.
Conclusão
No More Heroes 3 apresenta uma dualidade de qualidade impressionante. Por hora irritante e aparentemente mal-feito, por hora genial, o jogo com certeza será muito comentado no futuro. Talvez não se torne um dos clássicos absolutos do Switch, mas eu garanto que, assim como seus antecessores, estará em várias discussões sobre o híbrido da Nintendo.