O rock morreu? Conheça a história dos games de guitarra
Febre dos jogos de banda tomou os games de assalto uma década atrás e deixou como legado muitos instrumentos de plástico
"O rock morreu?" é uma questão que há décadas movimenta os debates em torno de um dos gêneros de música popular mais influentes de todos os tempos. Nos games, o rock além de ter sido tema de inúmeros games dos mais variados gêneros, também foi protagonista de duas séries que explodiram em popularidade na primeira década dos anos 2000. Guitar Hero e, posteriormente Rock Band, lideraram um fenômeno que marcou a história dos video games até suas posteriores quedas por volta de 2010.
Maníacos da guitarra
A Konami, diferente de hoje, em que é lembrada apenas esporadicamente, foi a rainha dos arcades no Japão da virada da década de 1990 para 2000. Após ter emplacado o sucesso "Dance Dance Revolution", a tradicional desenvolvedora ampliou sua presença no gênero dos jogos musicais rítmicos com GuitarFreaks, jogo que usa um controle-guitarra de forma a simular a execução musical de canções de sucesso da época.
Apesar de todo o sucesso de GuitarFreaks, a Konami nunca se interessou em trazer a franquia para o ocidente. Percebendo que havia ali um vácuo a ser preenchido, por volta de 2004, a RedOctane, empresa especializada em acessórios para jogos (que inclusive fabricou vários tapetes de Dance Dance Revolution para consoles), formou uma parceria com a Harmonix, desenvolvedora que já havia trabalhado em vários games musicais.
A união do desejo da RedOctane em lançar um periférico em forma de guitarra, com a experiência que a Harmonix desenvolveu em jogos como Frequency e Karaoke Revolution gerou o clássico Guitar Hero, lançado exclusivamente para o PlayStation 2 em novembro de 2005. Graças ao excelente gameplay da guitarra-controle, que realmente dá ao jogador o feeling de ser um rockstar, além de uma lista de canções que inclui monstros sagrados do rock como "Smoke on the Water" (Deep Purple), "Iron Man" (Black Sabbath) e "Ace of Spades" (Motörhead), Guitar Hero rapidamente caiu no gosto do grande público e se tornou um fenômeno de popularidade.
A busca do Aerosmith pela fama (nos games)
Conhecida mundialmente graças a décadas de sucessos, a banda Aerosmith tem uma curiosa história no mundo dos games. Ainda nos anos 1990, a banda licenciou sua imagem para alguns games, a começar por Revolution X, um jogo de tiro em trilho, lançado em 1994. Pouco tempo depois, a banda apareceu no game "Quest for Fame" um obscuro game musical que vinha com um acessório único: uma palheta com um sensor, que através de gestos e batidas contra o corpo tentava (e não conseguia) simular o tocar de uma guitarra.
No ano 2000, a Namco comprou o game e lançou uma versão arcade, cujo gabinete continha uma guitarra e uma versão simplificada de uma caixa de bateria. O game porém foi totalmente ignorado em favor de GuitarFreaks, da Konami.
O Aerosmith conseguiu a fama nos games com Guitar Hero Aerosmith, lançado em 2008 para Wii, X360, PS2, PS3 e PC. Bem recebido por público e crítica, a banda enfim ganhou um público que ainda não havia sido conquistado: os gamers.
A banda completa
O sucesso de Guitar Hero rapidamente gerou não apenas várias sequências, como também aos poucos expandiu a franquia para as demais plataformas da época. Entretanto, a Activision, de olho no enorme potencial comercial da franquia, rapidamente comprou a RedOctane e os direitos de Guitar Hero, e tirou o desenvolvimento dos games da Harmonix em favor do estúdio Neversoft (conhecida na época por seu trabalho na franquia Tony Hawk).
Entretanto, a desenvolvedora não se deu por vencida. Em 2007, a Harmonix e a MTV Games lançaram Rock Band, game que expande a ideia de jogo inicial de Guitar Hero. Enquanto este se resume à experiência da guitarra, Rock Band justifica seu nome ao também oferecer uma bateria-controle e suporte a microfone, além de incluir gameplay para que se possa também jogar como guitarra-base. Assim, graças ao suporte a 4 jogadores simultâneos, Rock Band trouxe pela primeira vez nos games a possibilidade de simular a experiência de ser uma banda de rock. Lançado para os principais consoles da época, Rock Band também experimentou vendas fenomenais desde sua primeira edição.
Entre as muitas expansões e games derivados de Guitar Hero, um título merece menção por sua curiosidade: Guitar Hero On Tour, uma improvável versão para o Nintendo DS. Dada a impossibilidade de lançar um guitarra para console portátil, a desenvolvedora Vicarious Visions se saiu com uma solução original: um acessório contendo os quatro botões coloridos requeridos para simular as cordas de uma guitarra. A ser plugado na entrada para cartuchos do GBA, o periférico acaba deixando o console com uma pegada que lembra a das sanfonas, bem diferente das versões tradicionais de Guitar Hero
Game Over
Com o boom dos games musicais, Guitar Hero 3 foi o pico da série, chegando a soma de US $1 bilhão em vendas em todas as plataformas. Rock Band também conseguiu números de vendas milionários, sobretudo ao associar o game com bandas mundialmente conhecidas como The Beatles e Green Day. Porém, a enorme quantidade de expansões, games derivados e mesmo de imitadores levou a uma inevitável saturação.
A partir de 2009, ambas as franquias sofreram significativas quedas de vendas, e as várias versões dos instrumentos-controles começaram a encalhar. Um efeito colateral desse processo foi o encarecimento do custo de licenciamento das canções, devido à crescente competição entre jogos musicais, o que complicou o desenvolvimento dos games.
O resultado foi o cancelamento da franquia Guitar Hero em 2010. Rock Band por sua vez ainda recebeu um game em 2012, Rock Band Blitz, um game simplificado que sequer usava instrumentos, entrando em hiato logo em seguida. Tanto Guitar Hero quanto Rock Band tentaram retornar de forma marcante em 2015, com Guitar Hero Live e Rock Band 4 respectivamente, porém ambos falharam em causar o impacto esperado. O fato é que o auge das franquias ficou no passado, e hoje abundam anúncios de instrumentos usados das diversas versões de Guitar Hero e Rock Band.
De qualquer forma, o impacto desses games na história é inegável. Durante a primeira década dos anos 2000, jogadores do mundo inteiro, de guitarra na mão, e diante de platéias digitais, viveram o sonho de serem rockstars, ao menos por algumas partidas.
E vocês, quais versões de Guitar Hero e Rock Band já fizeram parte de suas vidas? Será que um dia os games de rock voltarão à glória? Participe da discussão no canal do Game On no Discord!