A construção de um império: entenda o fenômeno 'Minecraft'
Como um jogo de gráficos simples e sem objetivo é sucesso de vendas há quatro anos?
Até o momento, mais de 20 milhões de pessoas já compraram Minecraft para PC, Mac, Xbox 360, iOS e Android, sendo que nas últimas 24h, 10 mil aderiram ao jogo “de quebrar e colocar blocos”, tornando a criação de Markus ‘Notch’ Persson uma das maiores febres dos games há pelo menos quatro anos, gerando ao seu criador uma receita de US$ 100 milhões só em 2012.
Mas o que é Minecraft e por que o jogo, criado por suíço nas horas vagas, revolucionou a indústria dos games?
Contrariando o principal elemento para um bom jogo, Minecraft não tem um objetivo claro. Aos usuários de primeira viagem, pode-se dizer que a criação de Notch tem como “missão” explorar o cenário, colher objetos e sobreviver aos monstros da noite. Por meio da mineração, o jogador obtém itens como madeira, pedra, diamantes e ouro para construir um abrigo e se esconder das assombrações que aparecem. Mas, como uma grande maleta repleta de peças de Lego, o Minecraft deixa a criatividade falar mais alto e construções faraônicas são levantadas pelos jogadores mais sedentos. Essa é a grande graça do jogo: reproduzir edifícios históricos ou levantar impérios.
Minecraft também não tem um gráfico inovador e chamativo e, inexplicavelmente, esse é o grande trunfo do jogo. Com um ar de jogos 8 bits, o cenário é formado completamente por blocos, sendo até o sol um grande quadrado.
“Eu acho que Minecraft teve um certo elemento de sorte e momento. Algo que é realmente difícil de reproduzir porque você não sabe o que pode se tornar sucesso”, explica Notch no documentário Minecraft: The Story of Mojang*, sobre sua história e do jogo.
Outra diferença do título é que ele não para de sofrer modificações. Lançado em estágio alpha no meio de 2009, o jogo vem ganhando atualizações e modos pela Mojang, empresa criada por Notch após o grande sucesso do jogo. Porém, oficialmente, o título recebeu sua versão completa em novembro de 2011.
“É uma estranha maneira de se fazer um jogo. Você o coloca na rede e continua trabalhar, tornando difícil de dizer se já foi lançado ou não. Mas eu sempre digo que esse não é o jogo, você pode jogar enquanto continuo fazendo-o”, diz Notch no documentário.
Entre as modificações que não param de chegar estão carros, armas de fogo, mísseis nucleares, entre outros. E o jogo não deve para por aí. Jens Bergensten, desenvolvedor do jogo após a saída de Notch como responsável pelo título, já disse que quer deixar os usuários criarem seus próprios conteúdos. Para isso foi criado os “command blocks”, que permitem incluir programações básicas dentro do universo de Minecraft.
A liberdade autoral de Minecraft foi um dos principais pilares para o sucesso do jogo. Com possibilidades infinitas e permissão legal para publicar vídeos a qualquer, há muito jogador ganhando dinheiro com suas webséries, tornando o game ainda mais popular. No YouTube existe centenas de vídeos com as construções mais malucas, mas há canais específicos que atraem uma grande audiência com trechos do jogo. Entre os mais famosos está o Yogscast, que cria temporadas e episódios com histórias dentro de Minecraft. Outro popular é o Farlands or Bust, no qual o norte-americano Kurt J. Mac está há dois anos caminhando em direção do sol quadrado, tentando alcançar o ponto em que o jogo entre em ‘bug’. Sua missão arrecadou US$ 70 mil em 2012, fazendo com que largasse o emprego e dedicasse exclusivamente ao jogo.
Minecraft é – com o perdão do trocadilho – uma mina de ouro. Indo na contramão das tendências da indústria (microtransações, DLCs e restrições nos direitos autorais), o jogo de Notch deu a seus usuários total liberdade de imaginação, e esse é sua maior conquista. Um jogo anárquico, em uma plataforma quase anárquica e feito para um mundo cada vez mais controlado. Um sucesso desmedido.
Minecraft: The Story of Mojang
Viabilizado pelo site Kickstarter, arrecadando US$ 200 mil, o documentário Minecraft: The Story of Mojang será exibido gratuitamente, na próxima sexta-feira (15), em São Paulo.
A sessão do filme, produzido pela 2 Player Productions, será realizada no Espaço Cultural Tendal da Lapa (Rua Guaicurus, 1100 - próximo a estação Lapa da CPTM), a partir das 18h.