Resident Evil: novo filme é tão ruim que até diverte
Bem-Vindo a Raccoon City segue linha de filmes medíocres baseados na franquia da Capcom, mas consegue gerar algumas risadas
Havia uma grande expecativa sobre o novo filme baseado na série Resident Evil. Depois de seis películas protagonizadas por Milla Jovovich, que nada tinham a ver com os jogos, pairava sobre Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City, produzido pela Sony Pictures e dirigido por Johannes Roberts, quase que uma "obrigação" de fazer jus à franquia nas telonas.
A verdade é que parece ser impossível fazer um bom filme sobre os games da Capcom... O que é irrelevante - a qualidade nunca foi impedimento para a série original, estrelada por Jovovich, ser sucesso de bilheteria. O reboot, mais fiel aos primeiros games, é tão ruim que chega a ser divertido. Vou explicar logo mais.
Ritmo do filme é o "Ragatanga"
O enredo do longa se baseia nos acontecimentos dos dois primeiros jogos de Resident Evil, muito marcantes para os fãs. Uma volta às origens, que começa narrando o retorno de Claire Redfield a Raccoon City, berço da Umbrella Corporation, gigante farmacêutica que ao expandir seu trabalho acabou fazendo um êxodo e deixando uma cidade fantasma para trás - e com um problema de saúde pública. Lá, pessoas adoecem sem uma causa aparente.
Claire vai de encontro ao irmão, Chris, que se tornou membro do grupo de elite da Polícia de Raccoon City (RPD), conhecida como S.T.A.R.S. Ela retornou para casa, após ser avisada por um cientista de que a água estava sendo contaminada por um vírus, fabricado pela Umbrella. Nesta primeira meia hora de filme, o "start" para todo o mal ser libertado deixa um ar de mistério no ar (e a gente chega a pensar que tem potencial).
Pouco tempo depois do confronto entre Claire e o irmão, os primeiros casos de pessoas se transformando em zumbis começam a aparecer em cena. E é aí que o filme vai ladeira abaixo.
Apesar de a reprodução dos cenários ser impecável, com muita fidelidade aos jogos, caso da delegacia de Raccoon City, por exemplo, as atuações são ruins e o ritmo da narrativa não é explicativo. Se você não conhece nada da história, a confusão é certa.
A história é atropelada na contagem de tempo do filme, que se passa em apenas uma noite na cidade, e abriga acontecimentos em diversos cantos dela, sem nunca se aprofundar o bastante em nenhum deles. A cronologia adotada pelo diretor não possui coerência com os fatos e, claro, o espectador fica perdido com o bombardeio de informações.
Quando este fenômeno trágico acontece em filmes de origem, eu costumo falar que é culpa do ritmo "Ragatanga".
Porque é basicamente isso que você entende do enredo:
- "Aserehe ra de re
- De hebe tu de hebere seibiunouba mahabi
- An de bugui an de buididipi"
Fan service x Besteirol
Se você é um grande fã da série, provavelmente algumas questões podem incomodar.. Por exemplo, Leon S. Kennedy, um dos principais personagens de Resident Evil, é tratado como alívio cômico do filme. Um recruta bobalhão se metendo em altas confusões em Raccoon City. Não que os outros personagens sejam muito melhores.
A icônica cena do caminhoneiro virando zumbi e tombando o caminhão tanque em chamas foi reproduzida em frente à delegacia. A cena está presente em Resident Evil 2, de 1998, assim como no remake de 2019. Leon que está de plantão na recepção - dormindo e escutando seu walkman - não acorda com a explosão do caminhão. Ele só desperta quando o delegado atira no zumbi totalmente inflamado em sua frente. Uma bizarrice. Mas, apesar do potencial do personagem ser desperdiçado, ele passa o tempo inteiro fazendo piadinhas e quebrando a tensão, com diálogos que beiram um besteirol. Agrega pelo menos em risadas.
Entre os outros personagens, só os irmãos Claire e Chris tem alguma profundidade. O restante dos S.T.A.R.S. é apresentado de forma bem superficial e corrida, mesmo ocupando bastante tempo de tela, geralmente com referências e 'easter eggs' para alegrar os fãs dos jogos - que vão curtir mesmo os cenários recriados com extrema fidelidade da Mansão Spencer e da Delegacia de Raccoon City.
Ada Wong, a anti-heroína mais amada da franquia, aparece apenas na cena pós-crédito e um tanto sem contexto, mas dá a entender que vai existir um segundo filme. O que pode realmente acontecer, afinal Resident Evil é uma das séries de games mais populares do mundo.
Mesmo que alguns pontos sejam irritantes, tiveram boas escolhas, como Jill Valentine e Claire Redfield - o auge para mim. O longa acerta tanto na escolha das atrizes (Hanna John-Kamen e Kaya Scodelario, respectivamente) quanto no tom dado por elas às personagens.
Os flashbacks que explicam a história de Claire, uma órfã que cresceu em uma instituição da Umbrella Corp., onde experimentos eram feitos em crianças, dão mais profundidade à personagem. Já Valentine mostra sua força a todo momento, fazendo com que ela seja realmente a heroína "bad ass" dos jogos.
Assista... sem grandes expectativas
Se você busca terror e bons "sustos"... Bom, veio ao lugar errado. O filme é previsível e os efeitos dos monstros (que são pouquíssimos em relação ao jogos) são ruins. Se você não for o tipo de pessoa com pré-disposição a tomar uns sustinhos, vai rir o tempo todo.
Por fim, Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City não tem elementos para ser considerado uma boa obra pelos fãs de longa data da franquia (e nem mesmo pelos curiosos), mas pode ser divertido se assistido da forma correta: sem expectativas. Ele "abraça" os ícones, mexe com a nostalgia e até que rende boas risadas.
*A crítica foi feita após a Sony Pictures convidar o GameON para assistir ao filme nos cinemas.