Sonic Superstars é bem-intencionado, mas não traz qualidade esperada - review
Por muitos anos, os jogos do Sonic têm revisitado seu passado, em especial a saudosa era dos 16-Bits, para redescobrir o que fazia os jogos originais tão bons. Foi assim com o criticamente aclamado Sonic Mania, em 2017, que elevou tanto a barra de qualidade e esmero a ponto de dificultar a tarefa de entregar algo à altura. Agora, a Sega decidiu dar um corajoso passo adiante e trabalhar em um título inédito na fórmula clássica do ouriço. O resultado é algo ainda familiar, mas disposto a introduzir novas ideias.
Estamos falando de Sonic Superstars, um novo jogo de plataforma 2D que chega em 17 de outubro para PC e consoles e que está a cargo da Arzest, produtora responsável pelo polêmico Balan Wonder World e comandada por antigos nomes influentes da Sega. Entre eles, Naoto Ohshima, que foi um dos designers responsáveis pela criação de Sonic the Hedgehog. Mas será que o game faz justiça à expectativa dos fãs e está condizente com a qualidade do seu antecessor? Você descobre os detalhes a seguir, no review completo do Voxel.
Novas ideias
Deixando de lado o costume de reprisar zonas que marcaram a primeira geração do ouriço, Sonic Superstars aposta em estágios completamente inéditos na franquia. Isso vem como uma excelente notícia aos entusiastas, já que traz de volta o sentimento de descoberta que abrange desde a temática geral dos estágios às suas mecânicas e trilha sonora. Os jogadores também podem esperar fases que exploram bastante a verticalidade, então correr em alta velocidade nem sempre é o ideal para obter êxito.
De primeira impressão, os estágios parecem um pouco caóticos, mas é interessante notar como eles foram desenhados para funcionar com um dos novos sistemas do jogo: o Poder das Esmeraldas. Em resumo, cada uma das Esmeraldas do Caos, que são coletadas para posteriormente se transformar em uma forma Super, dispõe de um poder único que personaliza a jogatina. As técnicas são acessadas em tempo real através de um menu que não interrompe a cadência do gameplay, dando margem para a criatividade do jogador na hora de explorar os cenários e derrotar inimigos.
Essa é sem dúvidas a maior novidade do jogo, e realmente é divertido desvendar as possibilidades dos poderes ao longo das mais de dez zonas originais. Se somado à capacidade de escolher entre outros quatro personagens jogáveis, incluindo clássicos como Tails, Knuckles e Amy, o jogo traz bastante variedade de gameplay.
Vale citar, também, que há uma nova personagem chamada Trip, que foi criada pelo próprio Naoto Ohshima e que, a princípio, está ao lado dos vilões Dr. Eggman e Fang, retornante de Sonic Triple Trouble (1994). Após concluir o jogo uma vez, é possível destravar a História da Trip, que coloca os jogadores no controle da personagem em versões muito mais desafiadoras das fases do jogo - e não necessariamente num bom sentido.
Algo que também é digno de nota é que Sonic Superstars aposta no multiplayer local para até quatro jogadores, permitindo zerar a campanha com amigos pela primeira vez na história da franquia. Isso foi recebido com muita preocupação pelos jogadores mais veteranos, já que o ritmo do gameplay e o próprio level design teriam de ser pensados para comportar vários personagens ao mesmo tempo.
Durante minha experiência, não pude jogar cooperativamente, mas não senti que as fases tenham sofrido negativamente com a adição de um modo multiplayer - ao menos na maior parte do tempo. No entanto, há sim segmentos que apostam na progressão automática da tela e em inimigos posicionados de forma injusta, com pouca margem para reação, de modo a provocar caos e privilegiar a interação entre amigos. Isso é especialmente crítico na segunda metade do jogo, que pode incomodar bastante os fãs mais assíduos. O jogo abandona até mesmo um contador de vidas, então não há mais riscos de um game over.
Decisões questionáveis
Se as fases não sofreram tanto nesse sentido, não é possível dizer o mesmo dos chefes de Sonic Superstars. É muito triste constatar que algo que era motivo de empolgação nos títulos anteriores se tornou extremamente entediante. Desta vez, os chefes são baseados em ciclos e não é possível atacá-los uma segunda vez até que eles terminem uma animação. Isso destrói a possibilidade de encontrar rotas otimizadas para derrotá-los — algo que era muito divertido de descobrir nos clássicos. Além disso, as lutas podem se estender bastante e a punição por morrer não poderia ser pior: esperar todos os ciclos de animação novamente.
Outro problema é com relação aos estágios especiais, que são mini-games que recompensam o jogador com uma Esmeralda do Caos. Eles são acessados através de anéis gigantes escondidos nas fases e são o principal incentivo para explorar cada canto dos cenários. No entanto, em Sonic Superstars, é possível conquistar apenas uma esmeralda por zona, incluindo todos os seus atos.
Caso outro anel gigante seja encontrado, ele se apresenta na coloração azulada e recompensa o jogador apenas com medalhas genéricas, que funcionam como moeda para personalizar um protótipo de robô utilizado no Modo Batalha. Elas sequer destravam extras como acontecia em Sonic Mania. São as mesmas medalhas que encontramos nas fases bônus ou em atos extras que são destravados com frutas coletáveis.
Em outras palavras, não há qualquer incentivo em descobrir as demais rotas após conquistar uma esmeralda na zona atual — é como se o jogo aplicasse uma punição por jogar bem. O sentimento que prevalece é de querer terminar logo a fase para destravar o próximo poder, e isso torna a experiência muito maçante.
O jogo traz um mapa interativo através do qual é possível navegar entre as zonas já visitadas, assim como acontecia em Sonic Generations. Porém, aqueles que estiverem atrás das demais Esmeraldas do Caos podem ter dificuldade em encontrá-las, pois o menu por algum motivo não mostra onde elas já foram coletadas. É algo que pode ser facilmente corrigido com atualizações de qualidade de vida, mas não deixa de ser incômodo àqueles que buscam destravar todos os poderes.
Gráficos e trilha sonora
Já é chover no molhado à esta altura, mas Sonic Superstars abandona completamente os visuais em pixel art e traz gráficos tridimensionais. Os modelos dos personagens são bastante fofinhos e expressivos, mas fica claro que a desenvolvedora Arzest ainda não trabalha muito bem com efeitos e iluminação. Por isso, os visuais parecem muito básicos para um título que pretende dar um salto geracional na franquia.
Outro agravante é que os cenários têm um fundo completamente borrado, podendo incomodar jogadores mais críticos. Antes era muito interessante caçar curiosidades e possíveis referências por trás dos estágios, mas o que foi feito em Sonic Superstars denota uma falta de carinho. Em contraste, uma das fases mais avançadas do jogo, a Cyber Station, é a única que dispensa esse efeito e apresenta um dos visuais mais agradáveis do jogo inteiro.
Por fim, uma constatação que pode chocar muitas pessoas: a trilha sonora de Sonic Superstars também deixa a desejar. Desta vez, vários compositores diferentes estiveram a cargo das músicas do jogo e o sentimento é de que elas destoam bastante em qualidade. É muito fácil de identificar, por exemplo, as faixas que foram produzidas pelo português Tee Lopes, que é muito aclamado pelo seu trabalho em Sonic Mania. De resto, muitas são esquecíveis e repetitivas, tendo em vista que há atos que podem chegar facilmente aos oito minutos de duração.
Vale a pena?
Sonic Superstars é um jogo bem-intencionado e que deve apelar a uma nova audiência, em especial por permitir jogar com vários amigos ao mesmo tempo. Todavia, sua apresentação é aquém do esperado e por vezes amadora, de modo que não condiz com o preço praticado pela publicadora.
Ainda que com ressalvas, o time de desenvolvimento acertou ao traduzir a movimentação e física dos jogos mais cultuados, enterrando de vez o infame "Sonic clássico" de títulos como Generations e Forces, que era completamente truncado. As novas mecânicas das Esmeraldas do Caos também têm potencial para serem exploradas no futuro e adicionam camadas de jogabilidade que até então não existiam na franquia, portanto são muito bem-vindas.
Em suma, esta nova etapa na trajetória do nosso querido ouriço azul tem um ar de reaprendizado. Não é o tipo de lançamento que chega com a intenção de destronar o panteão da série, mas sim de testar possibilidades a fim de pavimentar uma nova geração de jogos 2D do mascote. Dito isso, vale comprar em alguma promoção ou jogar na casa daquele amigo que seja muito fã.
Nota do Voxel: 70
Pontos positivos (prós):
- Jogabilidade agradável e que faz justiça aos clássicos;
- Variedade de personagens jogáveis;
- Poderes das Esmeraldas são divertidos de usar;
- Localização em português do Brasil.
Pontos negativos (contras):
- Chefes extremamente cansativos;
- Visuais podiam ser mais caprichados;
- Trilha sonora esquecível;
- Falta de incentivo para explorar verticalidade dos cenários.
A análise de Sonic Superstars foi realizada no PS5 com um código enviado pela assessoria da SEGA. O jogo chega em 17 de outubro com versões para PC (Steam, Epic Games Store), PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e Nintendo Switch.