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Streamer conta como superou medo de ataques transfóbicos

Mandy Candy fala sobre a trajetória para superar trauma e voltar a fazer stream de games

29 jan 2021 - 11h56
(atualizado às 12h01)
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Com mais de 2 milhões de inscritos no Youtube e quase 400 mil seguidores no Facebook Gaming, Amanda Guimarães, 32, mais conhecida por sua personagem nas redes, Mandy Candy, transparece autoconfiança nas lives e vídeos. Mas nem sempre foi assim. Quando iniciou sua trajetória produzindo conteúdo na internet, os ataques transfóbicos quase a fizeram desistir de uma paixão que sempre a acompanhou: os games.

Mandy Candy tem 32 anos e já trabalha com conteúdo na internet há sete.
Mandy Candy tem 32 anos e já trabalha com conteúdo na internet há sete.
Foto: Reprodução/Instagram

Para celebrar o Dia da Visibilidade Trans, 29 de janeiro, o Terra Games conversou com a streamer sobre sua trajetória.

"Eu tentei streamar por um tempo, mas parei porque não conseguia lidar com os ataques transfóbicos. Pensei em desistir de vez do mundo gamer, porque me machucava muito", contou Mandy em entrevista exclusiva ao Terra.

"Eu já trabalho na internet há sete anos. Muita gente não sabe que eu comecei com games, antes mesmo de ter o o meu canal [no Youtube] falando sobre as minhas vivências como uma mulher trans. Eu fazia vídeos jogando, só que os comentários eram muito tóxicos", acrescentou.

Mesmo com o medo e trauma pelos ataques, Mandy aceitou o desafio de voltar a fazer lives quando foi chamada pelo Facebook Gaming há dois anos. Sendo uma grande fã de League of Legends, ela encontrou apoio em sua comunidade de fãs e do jogo. Atualmente, Mandy também comanda um canal na Twitch.

Mandy produz conteúdo para o Youtube, Facebook Gaming e Twitch
Mandy produz conteúdo para o Youtube, Facebook Gaming e Twitch
Foto: Reprodução/Twitch

"O meu sonho sempre foi ser uma youtuber, uma influenciadora de games, e eu achei que nunca fosse conseguir por ser uma pessoa trans. Eu achava que ninguém nunca ia querer me assistir ou, quando fosse assistir, só iam fazer isso pelas piadinhas e para me ofender de alguma forma", afirmou.

"Hoje eu vejo que não é assim. A gente pode ocupar os nossos espaços. Claro, a gente tem que trabalhar muito mais do que um cara branco, hétero e cis, mas tem como a gente fazer tudo o que a gente quiser, sim. A comunidade está muito mais unida hoje em dia. Quando acontece alguma coisa no meu chat [ataques transfóbicos], a própria galera ali já me defende. Foi algo que mudou toda a minha visão sobre o cenário de games."

Militância

Amanda se descobriu uma mulher trans aos 18 anos, época em que ainda era muito difícil encontrar informações sobre o assunto, mesmo na internet. Foi então que surgiu o desejo de compartilhar com outras pessoas as suas experiências e inseguranças.

Mesmo já tendo sido vítima de muita hostilidade nas redes, a persistência no trabalho se tornou essencial para quebrar tabus sobre transsexualidade e também sobre toda a comunidade LGBTI+. São mais de 120 vídeos sobre a causa trans, todos com uma linguagem acessível e divertida, e um livro publicado, a autobiografia "Meu Nome é Amanda".

"Tem gente que acha que, por a gente ser trans, a gente tem que militar 24h por dia. Se perguntarem 'qual é sua profissão?', eu teria que falar que é 'ser uma pessoa trans'. Parece que é assim. Tem gente que acha que eu não fiz nada pela causa, mas eu tenho plena certeza de que abri muitas portas", contou.

"Quando eu comecei a postar conteúdo sobre ser uma pessoa trans, não tinha quase ninguém que postava. Era uma época em que eu publicava um vídeo, fazia uma live, e 90% dos comentários eram transfóbicos. Mesmo assim, eu fazia", acrescentou.

Os obstáculos na vida de uma mulher trans são muitos, enfrentando agressões e preconceitos diariamente. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) referentes a 2020, foram mapeados pelo menos 175 assassinatos contra travestis e mulheres trans no Brasil.

"Eu faço muito conteúdo para tentar abrir a cabeças das pessoas mesmo. Eu sempre tive o apoio da minha mãe, da minha família e mesmo assim sempre foi difícil. Imagina quem sofre transfobia na rua, chaga em casa e ainda é vítima de agressão?", questionou Mandy. "Claro, cada um tem sua forma de militar, mas só de a gente [pessoas trans] existir, já estamos militando", ressaltou.

Referências e inspiração

Outro motivo que ajudou Mandy a se reencontrar na produção de conteúdo sobre games foi a inspiração de personalidades importantes do meio. Briny de Laet, uma das primeiras streamers trans - e do cenário do LoL - a ganhar popularidade, é uma delas.

"Quem me inspirou muito foi a Briny, que na época ainda era 'Queen Briny'. Ela foi a precursora das mulheres trans nesse meio. Se eu sofria 'hate', ela sofria dez vezes mais, porque ela estava mais em evidência, dando a cara a tapa. O que me fez voltar a streamar foi ver pessoas como ela, que mesmo com todos os ataques não deixou de fazer uma coisa que gosta", revelou.

Hoje, depois de anos de aprendizado, é a própria Amanda quem inspira mulheres, tanto trans quanto cis - termo que descrever pessoa cuja identidade de gênero corresponde ao gênero do nascimento.

"Pelo menos para mim, que sou trans, gosto de acompanhar outras monas trans fazendo live e comentando sobre assuntos que eu gosto. Eu gosto de me ver representada. A gente consegue encontrar mais disso. Cada vez tem mais mulheres, mais trans, fazendo lives e ocupando espaços. É muito gratificante saber que, de alguma forma, estou fazendo parte do dia a dia de alguém", finalizou.

Fonte: Redação Terra
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