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Maior fã de Resident Evil do Brasil enfrentou câncer e machismo

Referência sobre a franquia da Capcom, Monique Alves quer usar seu alcance para conscientizar as pessoas sobre o câncer

10 mar 2023 - 09h56
(atualizado às 09h58)
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Criadora de conteúdo desde 2000, Monique Alves é referência em Resident Evil no Brasil
Criadora de conteúdo desde 2000, Monique Alves é referência em Resident Evil no Brasil
Foto: Resident Evil Database / Reprodução

Quando começou um site sobre Resident Evil no ano 2000, a então adolescente Monique Alves só queria ter um espaço onde conversar sobre seu game favorito. Ela não imaginava que aquele era o primeiro passo de uma aventura que a acompanharia pelos próximos 23 anos - e além.

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"Eu queria fazer um fã-clube de Resident Evil, era o Face Your Fear", relembra a criadora de conteúdo em entrevista ao Game On. "O site durou até 2009. Eu comecei com 15 anos e aprendi muita coisa lá: foi o primeiro site a fazer entrevista com dublador, tinhamos um fórum legal, fan fics".

Com o passar dos anos, vieram outras responsabilidades e o projeto acabou chegando ao fim. Monique tinha que estudar e trabalhar. "Mas eu nunca parei de produzir conteúdo, mesmo sem o site eu ainda traduzia coisas e sentia falta de publicar isso", explica.

"Foi assim que criei o Resident Evil Database". Junto com o novo projeto, vieram as redes sociais, com uma maior interação entre Monique e a comunidade. "Isso me motivou. Comecei a fazer lives em 2011, na JustinTV. Era o nome original da Twitch!".

"No começo o Database era um hobbie, eu mexia nele no fim de semana ou depois do trabalho, mas por volta de 2015, fiquei desempregada e resolvi focar nisso", diz Monique. Dá para viver do conteúdo? "Acabou virando minha fonte de renda principal", revela. "O canal tem crescido bastante, mesmo sendo um conteúdo nichado".

O REDB foi criado por Monique e seu ex-marido. "Quando me separei, em 2013, eu fiquei com o site. Eu escrevia tudo, jogava, ia atrás das explicações sobre a franquia. Daí fui aprendendo a mexer na parte técnica, aprendi a editar vídeo". 

Para a criadora de conteúdo, é importante se manter atualizada. "Estou com 37 anos e sempre tento aprender coisas novas. Queria fazer lives no Tiktok e já entrei até no Koo", conta Monique, falando sobre a rede social indiana que chegou ao Brasil como alternativa ao Twitter.

O apoio da família também foi importante, desde o começo. "Eles aceitaram naturalmente, até porque eu nunca falei muito sobre o que eu fazia. Eu prestava atenção na aula para não ter que ficar estudando depois, queria ter tempo para jogar videogame", explica. "Claro, sempre tinha quem achasse que eu jogava demais. Hoje em dia, minha madrinha me assiste, minha mãe, que faleceu no ano passado, sempre falva que a filha tem um canal na internet, às vezes minha sogra me vê fazendo lives".

Lidando com o machismo

Nem tudo foi fácil: como mulher e criadora de conteúdo de games, Monique teve que lidar com preconceitos machistas, mas acredita que atualmente existe uma conscientização maior da comunidade. "Hoje em dia tem uma conscientização de que videogame é para todo mundo, que a indústria precisa de jogadores para ter mais jogos, mais eventos, não é para ser um clubinho".

Mas ainda acontecem situações que a incomodam. "Me dá um pouco de raiva quando questionam, falam que mulher jogando quer chamar a atenção, 'tirar dinheiro dos gados'. Quando é um homem, ele merece, não veem desse jeito se é mulher".

Monique conta que já ouviu pessoas em suas lives dizendo não querer que seu marido aparecesse. "Eu sou casada e não escondo isso. O sujeito quer manter uma ilusão de que 'um dia...', é meio doido isso". Mas ela acredita que conseguiu criar um ambiente seguro, com uma comunidade legal. "A gente se trata de igual para igual, os inscritos comigo e eu com eles. É mais um desavisado ou outro que aparece".

Enfrentando seus medos

Outra grande batalha que Monique enfrentou foi um câncer de mama. Detectada em estágio inicial, a doença mudou muito seu estilo de vida e até o propósito de suas lives. "Quando eu descobri, fui na ginecologista e fiz uma biópsia, a médica sabia, tenho certeza, mas ela não falou o que era, fomos na mastologista, fizemos outra biópsia só aí falaram que era câncer. Eu fiquei com medo, mas quanto mais você sabe a respeito, melhor para você", conta Monique. 

"Se você vai no médico e descobre um cãncer, pergunta tudo, tira todas as dúvidas pra não morrer de medo", recomenda a streamer.

Durante o tratamento, Monique tomou a decisão de contar para o público sobre a doença e não tentar esconder os efeitos do tratamento. "Teve amigos que falaram que eu não deveria falar disso com o público, mas eu acho que as pessoas iriam perceber. Não é algo que a gente tem que esconder".

"Você está fazendo tratamento, tem mudanças no corpo. As pessoas iam falar sem saber, dizer que a streamer engordou, que está desleixada, abatida", aponta. "Eu sempre achei importante deixar claro, até porque meu público sempre desabafou comigo: 'Tô de cama com Covid e estou assistindo', 'passei por uma cirurgia e estou no hospital assistindo'".

Monique decidiu então usar seu alcance para conscientizar as pessoas. "Sempre falava a respeito, explicava o que estava acontecendo. Se eu conseguir impactar uma pessoa para fazer prevenção, usar essa voz que eu tenho para poder plantar essa sementinha, já fico feliz", explica. "Muita gente não tem informação. Tem pessoas que não sabem que o cabelo cai por causa da quimioterapia. É importante falar sobre isso. Câncer tem tratamento e tem cura hoje me dia, tem que informar".

"Quero concientizar as pessoas para se diagnosticar cedo, prevenir com hábitos saudáveis. Eu falo para as pessoas comerem direito, beber água, se cuidar. E para eu me lembrar eu me cuidar também", explica.

Daqui para a frente

O câncer de Monique entrou em remissão no começo do ano. "Ainda estou em tratamento. Faço radioterapia, imunoterapia - que é igual a quimio, mas funciona como uma vacina", explica. A criadora de conteúdo diz que a doença mudou a forma como ela planeja seus próximos passos e seus sonhos.

"Eu quero ir para o Japão, quem sabe um dia ser consultora da Capcom, fazer parte dessa coisa que eu gosto tanto", confessa. "Mas hoje eu não faço planos a longo prazo, quero continuar fazendo o que eu gosto".

Monique explica que o câncer a fez repensar muitas coisas. "Será que é isso que eu quero mesmo fazer? Ou posso ser mais do que isso? O plano é viver um dia de cada vez, O câncer me ensinou isso, a viver sem atropelar etapas".

Você pode acompanhar as lives de Monique no canal do Resident Evil Database no YouTube, além de conteúdos sobre os games no site e nas redes sociais.

Fonte: Game On
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