Paixão por games ajuda jovem autista a socializar e voltar à escola
Para família de Matheus, ambiente dos games online ajudaram em seu desenvolvimento
Aos 16 anos, Matheus Siriane Credencio é um entre muitos jovens no Login House eXP, casa temática geek, games e de esports em São Paulo. O adolescente está lá para assistir à transmissão do campeonato mundial de Apex Legends, um dos seus jogos favoritos, enquanto saboreia uma pizza e um refrigerante. O que parece uma cena comum para muitos, enche a mãe e a irmã de Matheus de orgulho: é a primeira vez que o rapaz passa 1 hora sozinho fora de casa.
Quer conhecer outros jogadores, saber das últimas novidades dos games e ter acesso a brindes e campeonatos? Participe do nosso Discord!
Natural de Santo André, Matheus é autista e passa por acompanhamento médico desde os 4 anos de idade, conta a mãe, Rosângela, de 58 anos. "Quando ele era mais novo, a escola não ajudou, não estava preparada e o Matheus sofria muito lá", disse Rosângela, lembrando que as outras crianças agrediam seu filho e que uma professora chegou a dizer que o menino se tornaria um bandido quando crescesse.
Foi nos games que ele começou a socializar. A irmã, Mirelli, de 31 anos, jogava videogame e o jovem Matheus se interessou. "Ele é muito curioso!", entregou a irmã. A mãe diz que o desenvolvimento do filho através dos jogos é visível: "Ele se comunica muito bem nos jogos, interage, as vezes fala umas coisas cabeludas, mas de todos os lugares, é onde ele se sobressai".
Matheus gosta muito de jogos online. "Meu top três são Rainbow Six, CS e Apex", contou, revelando também que prefere jogar no PlayStation 4. Ele também acompanha muito esports. A final do mundial de Apex Legends foi o segundo evento que o jovem visitou. "Também fui na BGS. Estou muito feliz, consigo fazer amizades".
Mrielli sempre acompanha o irmão onde quer que ele vá e mesmo em casa, é muito difícil deixar Matheus sozinho. "Vim com minha mãe para ele ficar a vontade. Hoje foi a primeira vez que ele ficou uma hora inteira sozinho, fez o próprio pedido", conta a irmã, emocionada. Para a família, o lugar pareceu seguro e atencioso. "Não tem bagunça, o atendimento é super acolhedor, colocam uma pulseira para saber que ele não pode tomar bebidas alcoolicas", explicou a mãe. "Me senti incluido", disse Matheus sobre o passeio.
Socialização através dos jogos
O interesse pelos games tem ajudado Matheus na socialização. O jovem tem um grupo de amigos com quem joga suas partidas online e sua família está sempre por perto, para ajudar com alguma dúvida, pois Matheus não é alfabetizado ainda - mas isso está prestes a mudar.
"Um dos motivos por que ele voltou para a escola é para conversar melhor com as pessoas e para entender melhor as coisas no jogo", explicou Rosângela, que acredita na importância da socialização para estimular o filho. "Ele não tem amigos na rua, não vai em aniversários ou no shopping. No jogo ele interage bem, socializa. Às vezes ele se estressa", explica a mãe.
Matheus diz que aprendeu a falar um pouco de inglês com os jogos e que agora está empenhado nos estudos, em uma escola do sistema EJA, planejado para educação de jovens e adultos. "Lá, eles sabem da deficiência dele, sabem dos interesses dele também", elogiou a mãe.
Para Mirelli, a história de vida do irmão mostra que a comunidade precisa ser mais acolhedora com todos e ter paciência. "Você interage e não sabe o que a pessoa tem. Os amigos, que jogam com ele, sabem", apontou. Matheus também afirma que é importante saber respeitar as pessoas. "Tem muito racismo, homofobia nos jogos. Tem que ter mais respeito".