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Governo vê infiltração de três movimentos políticos na greve

Segundo o governo, movimentos 'Intervenção militar já', 'Fora Temer' e 'Lula livre' se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros e estariam alimentando focos que ainda querem manter os bloqueios

28 mai 2018 - 17h53
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O governo apura se três movimentos políticos - "Intervenção militar já", "Fora Temer" e "Lula livre" - se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros. Eles estariam alimentando os focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas reivindicações atendidas ou ao menos encaminhadas. Essa é uma leitura feita nas reuniões do gabinete de crise montado pelo Palácio do Planalto na semana passada.

Os caminhoneiros falam abertamente do problema. "Para esses que têm posição extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção não é resolver problemas, mas criar o caos a instabilidade", disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao acordo é movido "por um tema político e não econômico".

"A pauta política existe, mas não vamos nos envolver. Tudo o que os autônomos precisam para voltar a ganhar dinheiro está aqui", disse o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, ao exibir o acordo firmado na noite de domingo.

Segundo líderes dos caminhoneiros informaram ao Planalto em reunião neste domingo, 27, os infiltrados somariam algo como 10% a 15% do movimento. A informação foi recebida com irritação pelas autoridades federais, principalmente por envolver o "Fora Temer".

Nesta segunda-feira, 28, o próprio ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu a possibilidade de haver infiltração política e informou que a Polícia Rodoviária Federal trabalha para apartá-los do movimento. "A PRF conhece as estradas onde trabalha, conhece quem é líder do movimento caminhoneiros e sabe das infiltrações políticas. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça. Com muita cautela, vai começar a separar os infiltrados."

O governo avalia já ter feito tudo o que estava a seu alcance para atender à pauta dos caminhoneiros: redução da Cide e do PIS/Cofins, a promessa de congelamento por 60 dias - e depois reajustes a cada 30 dias -, a liberação da cobrança de pedágio sobre eixo suspenso (quando o caminhão trafega vazio e por isso suspende o terceiro eixo) em São Paulo e a reserva de 30% das cargas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para os caminhoneiros autônomos, ao lado de outras medidas administrativas que ajudarão a manter a renda desses trabalhadores.

O Planalto deixou claro na negociação que agora a conversa deve ser com o Congresso, que precisa aprovar as Medidas Provisórias (MPs) assinadas por Temer, inclusive a que cria o frete mínimo, uma espécie de salário mínimo para os autônomos.

Mas, ao lado da pauta dos caminhoneiros, ganhou força a pauta política. E sobre essa ainda é impossível avaliar a intensidade e extensão do movimento. Os mais pessimistas não descartam o risco de, havendo crescimento dessa vertente, o protesto resvalar para algo semelhante às manifestações de 2013, quando atos que, inicialmente tinham como questão central a reclamação contra o aumento das passagens de ônibus ganhou dimensão muito maior e cunhou a expressão "Não é pelos 20 centavos".

Agora, a pauta adicional dos caminhoneiros fica ainda mais difusa e extensa quando outros grupos tentam pegar carona na paralisação, como os movimentos, ainda incipientes, de motoboys e transportadores escolares em algumas cidades.

Os ecos de 2013 aparecem, por exemplo, quando um pequeno grupo de manifestantes favoráveis à intervenção militar, que se reuniu no início da tarde em frente ao Ministério da Justiça, recebe buzinadas de apoio da maioria dos veículos que para no semáforo próximo ao protesto. Caminhões e vans escolares também participavam do protesto.

Os desdobramentos da crise têm sido avaliados em duas reuniões diárias do gabinete de crise. A leitura é que, provavelmente na quarta-feira, será possível ter uma visão mais clara sobre os focos de resistência do movimento. A prioridade do governo é manter o abastecimento e a expectativa é que nos próximos dias haja alguma normalização.

Estadão
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