Governo vê infiltração de três movimentos políticos na greve
Segundo o governo, movimentos 'Intervenção militar já', 'Fora Temer' e 'Lula livre' se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros e estariam alimentando focos que ainda querem manter os bloqueios
O governo apura se três movimentos políticos - "Intervenção militar já", "Fora Temer" e "Lula livre" - se infiltraram na paralisação dos caminhoneiros. Eles estariam alimentando os focos que ainda querem manter os bloqueios, mesmo após ter boa parte de suas reivindicações atendidas ou ao menos encaminhadas. Essa é uma leitura feita nas reuniões do gabinete de crise montado pelo Palácio do Planalto na semana passada.
Os caminhoneiros falam abertamente do problema. "Para esses que têm posição extremista, esse ou qualquer outro acordo não iria funcionar porque a intenção não é resolver problemas, mas criar o caos a instabilidade", disse o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Ijuí, no Rio Grande do Sul, Carlos Alberto Litti. Para o líder gaúcho, o grupo mais resistente ao acordo é movido "por um tema político e não econômico".
Greve Caminhoneiros - Os caminhoneiros seguem em protesto em pelo menos 20 Estados do País contra a alta do diesel. Este é o 4º dia de manifestações que já afetam mais de 200 trechos de rodovias federais. Em São Paulo, postos na capital, no interior e no Vale do Paraíba começam a ficar sem combustível nas bombas. No Rio, o diesel não chegou às garagens de ônibus, e motoristas enfrentaram filas em vários postos. A paralisação também afetou a entrega dos Correios que suspenderam temporariamente as postagens. No fim do dia, a Petrobrás decidiu reduzir em 10% o valor médio do diesel comercializado em suas refinarias, equivalente a R$ 0,2335 por litro para as distribuidoras. Para o consumidor, o impacto pode chegar a uma redução de R$ 0,25 na bomba
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO / Estadão
São Paulo - A cobrança do eixo suspenso foi uma das reclamações apresentadas nesta quarta-feira, 23, na reunião dos representantes dos caminhoneiros com o governo. De acordo com informações da área técnica, o problema da cobrança do eixo suspenso é mais agudo em São Paulo, onde boa parte das rodovias pedagiadas é estadual. Mas o problema ocorre também no Paraná e no Mato Grosso.
Foto: FOTO: FELIPE RAU/ESTADÃO / Estadão
Falta de combustível - Sem combustível, um posto de gasolina na Zona Norte de São Paulo precisou encerrar atividades na tarde desta quarta-feira, 23
Foto: Tiago Queiroz / Estadão / Estadão
Greve Caminhonheiros - A greve chegou a paralisar rodovias federais em 23 estados do Brasil, mais o Distrito Federal, na última terça-feira, 22
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Greve Caminhoneiros - A greve tem afetado a distribuição de combustível no País. Na quarta-feira, postos chegaram a encerrar atividades e 40% dos ônibus não devem circular na quinta-feira, 24, na capital paulista
Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO / Estadão
Postos de combustível São Paulo - Frentistas afirmaram que não há previsão de quando vão receber as próximas entregas de combustível
Foto: TIAGO QUEIROZ / Estadão Conteúdo
Caminhões - A Régis Bittencourt registrou trechos com manifestações em São Paulo, na tarde desta quarta-feira, 23 No km 279, na região de Embu das Artes, caminhoneiros interditaram parcialmente ambos os sentidos da rodovia.
Foto: FOTO: FELIPE RAU/ESTADÃO / Estadão
Manifestações - O Departamento de Estradas de Rodagem de São Paulo registrou manifestações em 27 trechos das rodovias do Estado
Foto: FOTO: FELIPE RAU/ESTADÃO / Estadão
Greve Caminhoneiros - Caminhoneiros enfrentaram grandes filas nas proximidades do Porto de Santos
Foto: FOTO LUCAS BAPTISTA / ESTADAO / Estadão
Greve Caminhoneiros - Caminhoneiros querem escalonamento de três meses no reajuste do preço do diesel. Categoria também pede redução de impostos como o PIS/Cofins sobre o preço do combustível e fim da cobrança do pedágio dos caminhões que trafegam vazios.
Foto: FOTO LUCAS BAPTISTA / ESTADAO / Estadão
Greve Caminhoneiros - O presidente Temer pediu "trégua de uns dois ou três dias no máximo" aos caminhoneiros que estão paralisando serviços. Já o movimento deu ao governo até a sexta-feira para que seja apresentada uma proposta de redução do preço do combustível.
Foto: FOTO LUCAS BAPTISTA / ESTADAO / Estadão
Pressão - A pressão dos caminhoneiros surtiu efeito em Brasília. A Cide, imposto que incide sobre combustíveis, foi revogado para o diesel e a Petrobrás anunciou uma redução provisória de 10% no preço do combustível
Foto: ANDRE DUSEK/ESTADAO / Estadão
Rodovia dos Imigrantes - Quilômetro 24 da Rodovia dos Imigrantes é bloqueado por manifestantes, que preparam refeição no local. Mesmo após sinalização de acordo pelo governo, caminhoneiros continuam a tomar vias do País.
Foto: Hélvio Romero/Estadão / Estadão
Aeroporto de Congonhas - Mais de dez aeroportos do País sofrem com o desabastecimento de combustíveis. No Aeroporto de Congonhas, passageiros como Rosa Ayres Mesiano (foto) tiveram voos cancelados.
Foto: Hélvio Romero/Estadão / Estadão
Forças federais - No início da tarde desta sexta-feira, 25, o presidente Michel Temer anunciou que usará forças federais para liberar estradas e enfrentar desabastecimento. Militares poderão tomar caminhões. Na foto, a rodovia Dutra, no trevo da cidade de Santa Izavel, sentido Rio de Janeiro.
Foto: Alex Silva/Estadão / Estadão
Alimentos - Na foto Francisco Jonas de Oliveira, 65 anos, trabalha como carregador no CEAGESP, na Vila Leopoldina, há 40 anos. Ele diz que é a primeira vez que vê o local vazio dessa forma.
Foto: Valeria Gonçalvez/Estadão / Estadão
Locaute? - Polícia Federal informou nesta sexta-feira, 25, que está investigando se existe prática de locaute, que é quando empresários de um setor contribuem com greves para obtenção de benefícios, o que é proibido por lei. Na foto, caminhões parados na Rodovia Regis Bittencourt, na altura de Embu das Artes.
Foto: Nilton Fukuda/Estadão / Estadão
Avenida Paulista - Motoboys e motoristas de transporte escolar protestam na Avenida Paulista, em São Paulo. As categorias engrossaram a manifestação de caminhoneiros que vem pararando as cidades brasileiras.
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão
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"A pauta política existe, mas não vamos nos envolver. Tudo o que os autônomos precisam para voltar a ganhar dinheiro está aqui", disse o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, ao exibir o acordo firmado na noite de domingo.
Segundo líderes dos caminhoneiros informaram ao Planalto em reunião neste domingo, 27, os infiltrados somariam algo como 10% a 15% do movimento. A informação foi recebida com irritação pelas autoridades federais, principalmente por envolver o "Fora Temer".
Nesta segunda-feira, 28, o próprio ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu a possibilidade de haver infiltração política e informou que a Polícia Rodoviária Federal trabalha para apartá-los do movimento. "A PRF conhece as estradas onde trabalha, conhece quem é líder do movimento caminhoneiros e sabe das infiltrações políticas. Ela está mapeando e não quer cometer nenhuma injustiça. Com muita cautela, vai começar a separar os infiltrados."
O governo avalia já ter feito tudo o que estava a seu alcance para atender à pauta dos caminhoneiros: redução da Cide e do PIS/Cofins, a promessa de congelamento por 60 dias - e depois reajustes a cada 30 dias -, a liberação da cobrança de pedágio sobre eixo suspenso (quando o caminhão trafega vazio e por isso suspende o terceiro eixo) em São Paulo e a reserva de 30% das cargas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para os caminhoneiros autônomos, ao lado de outras medidas administrativas que ajudarão a manter a renda desses trabalhadores.
O Planalto deixou claro na negociação que agora a conversa deve ser com o Congresso, que precisa aprovar as Medidas Provisórias (MPs) assinadas por Temer, inclusive a que cria o frete mínimo, uma espécie de salário mínimo para os autônomos.
Mas, ao lado da pauta dos caminhoneiros, ganhou força a pauta política. E sobre essa ainda é impossível avaliar a intensidade e extensão do movimento. Os mais pessimistas não descartam o risco de, havendo crescimento dessa vertente, o protesto resvalar para algo semelhante às manifestações de 2013, quando atos que, inicialmente tinham como questão central a reclamação contra o aumento das passagens de ônibus ganhou dimensão muito maior e cunhou a expressão "Não é pelos 20 centavos".
Agora, a pauta adicional dos caminhoneiros fica ainda mais difusa e extensa quando outros grupos tentam pegar carona na paralisação, como os movimentos, ainda incipientes, de motoboys e transportadores escolares em algumas cidades.
Os ecos de 2013 aparecem, por exemplo, quando um pequeno grupo de manifestantes favoráveis à intervenção militar, que se reuniu no início da tarde em frente ao Ministério da Justiça, recebe buzinadas de apoio da maioria dos veículos que para no semáforo próximo ao protesto. Caminhões e vans escolares também participavam do protesto.
Os desdobramentos da crise têm sido avaliados em duas reuniões diárias do gabinete de crise. A leitura é que, provavelmente na quarta-feira, será possível ter uma visão mais clara sobre os focos de resistência do movimento. A prioridade do governo é manter o abastecimento e a expectativa é que nos próximos dias haja alguma normalização.