Na sexta-feira passada, hackers do grupo brasileiro Data Cha0s invadiram o site do Banco Central do Egito e desfiguraram sua página principal. Informações noticiadas ontem pela Reuters, davam conta de que a página, que normalmente apresenta uma foto do banco e a bandeira do Egito, passou a exibir frases como "Hahahahha e vocês ainda dizem que os brasileiros são estúpidos...". A verdade é que os hackers fizeram bem mais do que isso. As Informações são do site InfoGuerra.A mensagem deixada pelo grupo não se dirigia aos egípcios, mas à polícia brasileira. Mais especificamente, ao delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, do Setor de Crimes pela Internet da Polícia Civil e também a um suposto agente da Polícia Federal, identificado como "Dr. Roberto".
Primeiro, lia-se o que parecia ser a cópia de um e-mail enviado pelo "Dr. Roberto" para o Data Cha0s. O texto era um aviso de que havia sido iniciado um processo contra o grupo. Também eram citados um site de notícias do underground e o nome completo de seu responsável. Suas atividades suspeitas estariam sendo observadas.
O final do texto traz frases improváveis para uma autoridade da Polícia Federal: "estamos apenas no início das investigações tendo em vista a segurança pública, cuidem-se. Grato! Segurança Pública. Polícia Federal. Dr. Roberto".
A partir daí, o que se lê é um desfile de provocações à polícia: "hahahhahahaha que medo, e eles ainda dizem para gente c cuidar, eles que devem c cuidar com a segurança deles hahahaha, eles num pegam nem formiga, quanto mas um grupo hahahaha".
A seguir, os hackers digirem-se ao delegado Mauro, listando vários dados pessoais: nome, idade, endereço, números de telefones — celular e fixos — e endereços de e-mail. Xingam o delegado, dizem que farão compras em seu nome e as enviarão para sua casa. No final da mensagem, as saudações de sempre a outros grupos e personagens da cena hacker.
Quem lê o que está escrito fica chocado com a ousadia dos garotos, menos o próprio delegado Mauro Silva. InfoGuerra conseguiu, pela Internet, fazer contato com o policial. Ele está no Japão, fazendo um curso sobre alta tecnologia na Polícia Nacional de Tóquio, a convite do governo daquele país.
Sem demonstrar espanto com o caso, Silva disse que já foi ofendido várias vezes, mas não entra no jogo dos hackers. Desde que assumiu o cargo contra os crimes cibernéticos, ele despertou o ódio de grupos hackers e é um de seus alvos prediletos. "Geralmente, quando eles me ofendem, colocam os telefones da delegacia, além do meu celular, informações essas que são de domínio público e estão cadastradas em vários sites policiais de combate ao crime pela Internet".
O delegado afirmou que não tem tempo a perder com essas travessuras juvenis e que constantemente recebe e-mails com mensagens com frases como "e aí, delegado, se você é bom me ache. Hahahaha". Classificando as mudanças de páginas de "grafite eletrônico", Mauro Silva expressa preocupação é com os possíveis desdobramentos de tais atividades:
"Eles se acham os tais por invadirem páginas 'index' e estarem acobertados pela estrutura anárquica da Internet, onde predomina o anonimato. A preocupação é o crime comum começar a utilizar técnicas hacker para auferirem lucros. Aí o problema vai ser grande, pois nós não estamos preparados. E quando digo ‘nós’, falo do poder público de uma forma geral".
Em tempo: o site do Banco Central do Egito já foi invadido várias vezes. Apesar da reportagem da Reuters, parece que os administradores do sistema cansaram de restabelecer as páginas, pois o endereço continuava desfigurado até hoje.