Eva Mothci/Redação Terra"É apenas uma questão de tempo: o Linux também vai invadir os lares". Soa como profecia? Esqueça. A semelhança com profetas se esgota nos longos cabelos - e barba - brancos. Jon "Maddog" Hall, diretor executivo da Linux International (uma associação de companhias que promovem o Linux) prediz não como adivinho, mas com a autoridade de quem está na indústria da computação desde 1969, usa o Unix desde 1977 e o Linux desde 1994.
Em um encontro com a imprensa na manhã de hoje, em Porto Alegre, Maddog falou sobre Windows, propriedade intelectual, seu prazer de estar no Brasil para participar de um Fórum sobre software livre e, claro, sobre o Linux. O Linux - diz Maddog - reinventou o Unix, que estava morrendo frente à Microsoft. O sistema operacional aberto é a única competição que a Microsoft tem a enfrentar. Porque "se não houvesse o Linux, as pessoas realmente não teriam outra opção".
Em relação à Microsoft, Maddog acredita que a empresa deveria abrir seus códigos independentemente da decisão a ser tomada no caso antitruste que vem enfrentando. "Isso daria aos usuários a liberdade de melhorar o programa, consertar erros... mas eles (a Microsoft) não vão fazer isso, terão vergonha, porque aí todos verão o que é o código deles".
Maddog disse também que nunca concordou com as críticas a respeito da "complexidade" do Linux. Citou o KDE e o Gnome como duas ferramentas em que você entra, faz seu login e pode abrir qualquer aplicativo que precise sem risco de crash e sem precisar dar um só comando manual. "As pessoas falam da instalação difícil, mas na realidade elas nunca instalaram de verdade o Windows. O sistema vem na máquina e elas reinstalam sempre que precisam (isto é, muitas vezes), ou fazem upgrade. O grosso do trabalho elas nem vêem", argumentou.
Mesmo assim, o Linux está crescendo, e muito. Quantificar seus usuários é difícil pois o sistema está disponível de graça na Internet, não há como "contar licenças". Maddog citou o IDC (37% dos servidores corporativos vendidos hoje rodam Linux) e considerou razoável, como estimativa, um número em torno de 40 milhões de usuários. No Brasil, 30% dos servidores rodam software aberto. Na Polônia, segundo Maddog, 80% dos servidores são Linux. A Alemanha foi outro país citado por ele como tendo uma forte presença do software aberto, sem falar nas grandes empresas, como a Amazon.
E onde não se usa Linux? Maddog deu dois exemplos: um controle para que uma usina nuclear não exploda, ou um software para monitorar batimentos cardíacos. E o motivo: são aplicações que exigem disponibilidade total, ou quase: 99,9999999%. Ele ainda não usaria Linux - e certamente não usaria nada da Microsoft - para essas demandas. A boa notícia é que o trabalho do projeto Carrier Grade Linux (um Linux de altíssima confiabilidade que poderá ser utilizado para essas aplicações críticas), está avançando e bem rápido.
O uso de software aberto, diz Maddog, tende a crescer cada vez mais. Crianças e jovens nas escolas estão tendo acesso ao Linux, e podem repassar estas informações aos pais, por exemplo. Até a Microsoft usa: uma brecha de segurança existente no XP só foi resolvida com o uso de um pedaço de software aberto. Sim, há uma porção do FreeBSD no código do Windows XP.
(Jon "Maddog" Hall será um dos palestrantes do Fórum Internacional Software Livre 2002, que se realiza dias 2, 3 e 4 de maio no Centro de Eventos da PUC, em Porto Alegre. O encontro já tem 2.546 inscritos e terá 266 palestrantes de vários países, em mais de 290 horas de atividades. Informações sobre o Fórum podem ser encontradas no site do evento, em www.softwarelivre.rs.gov.br/forum/)