Depois dos atentados do 11 de setembro, Lisa Beaty entrou em um escritório em Manhattan, sentou-se em frente a um computador e enviou um e-mail com duas palavras que seus amigos e familiares esperavam com ansiedade: "estou bem". Esta mensagem e centenas de outras, incluindo e-mails, fotografias e imagens em vídeo, são parte de uma biblioteca virtual dos atentados, reunida nos Estados de Virgínia e Nova York.
"O Arquivo Digital do 11 de Setembro servirá como uma nova plataforma em que as pessoas podem fazer sua própria história", disse Jim Sparrow, um dos organizadores do projeto, que pode ser consultado na Internet. Chrissie Brodigan, uma estudante que trabalha com Sparrow na página, desenvolvida no Centro para a História e os Meios Informativos de Nova York, na Universidade George Mason de Fairfax, disse que a meta é compilar uma memória nacional dos atentados.
Sparrow e seus colegas da universidade começaram em janeiro o projeto, visitando as vítimas e suas famílias em Nova York, Washington e Shanksville, na Pensilvânia, onde caiu um dos quatro aviões seqüestrados. Desde então, os pesquisadores recolheram centenas de mensagens eletrônicas e conversas virtuais, assim como fotografias e diários pessoais em computadores, guardados por gente de todo o país, sobre as experiências relacionadas aos atentados.
Os participantes do projeto procuram também mensagens de radiolocalizadores, transmitidas neste dia por pessoas que tentavam informar sobre seu estado aos amigos e parentes. Beaty e seu marido, Kirk, haviam se falado por telefone antes dos atentados. Às 12h18, mais de três horas depois que o primeiro avião se chocou contra o World Trade Center, ela escreveu uma mensagem dirigida a seus amigos e familiares. Depois de dizer-lhes que estava bem, ela descreveu o caos:
"Se tivesse tomado o trem que tentei pegar esta manhã, estaria no World Trade Center quando bateu o avião. Às vezes vale a pena chegar tarde", escreveu. "Estava parada junto a algumas pessoas que estavam no prédio em frente à torre. Elas viram o primeiro avião chocar-se e logo vimos as pessoas saltarem pelas janelas. É definitivamente a cena mais horrível que vi em minha vida."
Kirk Beaty disse que apresentou a mensagem para o arquivo por considerar que ela "representa um ponto de vista inalterado dos fatos desse dia, feito por uma pessoa que esteve envolvida pessoalmente, em vez de um escrito editado de maneira profissional sobre as mesmas notícias".
"Projetos como o arquivo representam uma nova forma de captar impressões sobre os fatos históricos e de registrar as reações dos Estados Unidos", afirmou Lee Rainie, diretor do projeto. "Dezenas de outras páginas na Internet têm funções similares, ainda que poucas armazenem correio eletrônico ou mensagens de texto, como o faz o arquivo digital", assegurou Rainie.
"Uma das experiências aprendidas com o 11 de setembro é que a Internet é uma grande forma de catalogar e reunir estas comunicações pouco depois de ocorrerem", assinala Rainie. "Qualquer grande fato noticioso que ocorra no futuro gerará o desenvolvimento de páginas similares."