Conectiva Linux
ROBERTO CONTI*
Não é segredo que o Conectiva Linux é a superdistribuição brasileira. Mais usada e mais citada, a distribuição é líder de mercado no Brasil e provável porta de entrada de muitos iniciantes no mundo Linux. Recentemente a Conectiva anunciou que seria uma das empresas no consórcio United Linux. Com a notícia, há a possibilidade de uma futura distribuição conjunta United Linux ou apenas uma padronização de futuras versões. De qualquer modo, o Conectiva Linux 8, lançado em maio, ainda deve atrair muitos novos usuários e é uma distribuição que ainda vai fazer muito sucesso no mercado Linux brasileiro.
A distribuição analisada aqui é versão Profissional, pronta para servidores (R$ 299). A versão usuário, mais simples, custa R$ 109. Ao contrário de outras distribuições, a Conectiva tem um guia do usuário online que provê diversas informações sobre o sistema, muito útil para o iniciante receoso e para o profissional que precisa de consulta rápida. Além desse material, a documentação incluída com o software é extensa. Por outro lado, de tão extensa e minuciosa, um pouco confusa e desorganizada. Os manuais que acompanham o produto poderiam ter uma revisão mais apurada e esquematização de informações.
O Conectiva Linux é licença livre, o que significa que pode ser instalado em diversos computadores sem os problemas típicos do Windows, ativação, bugs de instalação, registro e etc. Esse detalhe é praxe no mundo Linux mas para o novato, que migra do Windows, uma instalação tranquila, sem limite de licenças (podendo instalar o sistema em uma máquina-teste e depois no PC oficial, por exemplo) é o Céu na Terra. O Conectiva Linux não quer saber quanto você ganha, quantos filhos tem e se você prefere receber spam sobre jardinagem ou pescaria, ele simplesmente instala.
Além de instalação, o usuário tem que se preocupar também com dilemas morais. Convenhamos, muitos usuários novatos de Linux vivem naquele limbo chamado multiboot. O multiboot é a Terra-Média, o caminho entre a purificação do software livre e o porto inicial do sistema proprietário, ou seja, o uso de Windows e Linux em uma mesma máquina. Mesmo nesse detalhe, o Conectiva Linux 8 já apresenta vantagens, pois vem com dois particionadores, o LILO (comando de texto) e o Grub (particionador novo, de interface gráfica, da Conectiva). O Lilo é mais simples e resolve qualquer partição e não é complicado, apesar de ser baseado em texto.
Outros pontos importantes da instalação, a configuração de rede é facilitada, outros modos de conexão à Internet ou outras máquinas também está disponível. Simulações de reinstalação resolvem qualquer problema do sistema. É possível adicionar ou remover pacotes através da interface gráfica da instalação e resolver qualquer problema de programas defeituosos. Apenas o reconhecimento de hardware, um problema ubíquo no Linux, mostrou-se também no Conectiva. Em uma primeira instalação, o sistema reconheceu automaticamente a placa de som do PC, o que não ocorreu em uma segunda instalação.
Uma vez instalado, o Conectiva apresenta diversas opções de interface, dentre as quais as mais famosas, KDE e Gnome. Para o novato, o ideal é provar das duas e escolher a mais apetitosa para o paladar. A suposição comum é que a interface do KDE é mais parecida com o Windows, enquanto o Gnome é inspirado no Mac OS. No frigir dos ovos, as duas interfaces podem ser modificadas para ficarem com cara de
Windows, Mac OS ou até Athena OS, a diferença mesmo está nos aplicativos. Ainda que os aplicativos do KDE estejam disponíveis no Gnome e vice-versa, é no KDE que são mais estáveis. E o KDE tem aplicativos de deixar embasbacado qualquer usuário de Windows. Um ponto pacífico entre os usuários do KDE é o KMail, o programa de email do KDE. Com configuração dinâmica de identidades e SMTPs, o KMail é um dos programas de email mais versáteis e não oferece barreiras ao usuário.
Para texto, o KWrite já quebra o galho para quem busca um editor de texto sem firulas. Os fogos de artifício e todos os extras imagináveis não são deixados de lado. Essa distribuição do Conectiva vem com Star Office 6, provavelmente a última a incorporá-lo já que a Sun decidiu modificar a licença do conjunto de aplicativos.
Entre os navegadores, há as opções Mozilla, Netscape, Konqueror (KDE) e Galeon (Gnome). Programas de mensagem instantânea como Licq também estão incluídos. Faz falta o multimessenger Imici, de licença livre e compatível com Yahoo! Messenger, ICQ e AIM.
A instalação de programas extras para o Conectiva Linux pode ser um pouco trabalhosa. Apesas da versão anunciar que está certificada pelo protocolo LSB (Linux Standard Base), o iniciante ainda pode ter problemas para encontrar aplicativos compatíveis com a variedade de sistema de janelas e interfaces. Talvez indicações mais claras dos padrões do sistema ajudassem a descobrir esses detalhes. O kernel é bastante atualizado (2.4.18), o KDE é 3.0 (2.99 release candidate em algumas versões) e o Gnome é o 1.4, um pouco complicado para uma interface que já está no 2.0 (release candidate).
Versão servidor
O Conectiva Linux 8 para servidores, na opinião dos administradores de sistema, merece nota 9 (não é 10 apenas para que a Conectiva continue aprimorando-o e não abandone um produto que, de tão bom, merece ainda ficar muito melhor ;)). A instalação é bastante simples para quem já administra e embora os pacotes sejam RPM (RedHat) eles implementaram o apt-get (Debian) o que facilita muito a atualização.
Para facilitar ainda mais a vida de quem lida com servidores estão inclusos dois manuais, um de instalação (Entendendo o Conectiva Linux) e o de configuração do servidor (Guia do Servidor). Os dois estão bem escritos e são objetivos e é difícil encontrar qualquer erro técnico.
- Kernel: O sistema vem com a versão 2.4.18 do kernel e com todos os módulos já pré-compilados e instalados, ou seja, não há qualquer dificuldade para a instalação de uma placa de rede ou dar suporte a um filesytem diferente.
- Sistema de arquivos Ext3: Essa evolução do Ext2 amplia o suporte a volumes maiores, diminue as falhas e o tempo de reinicialização, nos raros casos necessários, e tambem é compatível do o LVM (Linux Volume Manegement). Com isso, é possível integrar novos HDs ao sistema ou alterar as partições facilmente.
- Segurança: A inclusão do Kerberos 5 assegura a autenticação dos usuários e é multiplataforma. Nela os dados trafegam encriptados e a autenticação é centralizada, ou seja, só é preciso se autenticar uma vez para poder usar todos os serviços que estão disponíveis para você.
- Criptografia forte: O Conectiva Linux 8 dispõe dessa novidade para:
- SSH (administração remota)
- SSL(certificados X509)
- POP3
- IMAP
- Apache
- GnuPG (PGP)
- LDAP (serviço de diretórios)
- IPSEC (Kernel 2.4.18)
- Observação: esse aumento sensível da segurança atualmente não é nada mal, dado que falhas têm sido encontradas em tecnologias open source até bem monitoradas.
- Alta disponibilidade: Através do IPv6, sucessor do IPV4, é possível ter escalabilidade, segurança e autoconfiguração de roteamento. Vários programas incluídos já suportam IPV6:
- iproute
- iputils
- xinetd
- bind
- openssh
- wget
- xinetd
- exim (Mail Transport Agent)
- Observação: para utilizar a novidade, o administrador de sistema deve certificar-se de que sua rede suporte também IPv6.
- Servidor de arquivos: O sistema permite suprir arquivamento e impressão para máquinas Windows através do já famoso e confiável Samba. Há suporte também para o Netware. Com essa centralização os terríveis backups rotineiros ficam muito mais simples.
- Controle de banda: Ao contrário do "ladrão de banda" Windows XP, no Conectiva Linux 8 é possível dividir o uso da banda de rede atraves dos controles do QoS, ou seja, podemos dizer que por exemplo dos "parcos" 64k que possuímos, 16k ficam para FTP, 32k para o Apache (http) e o restantante para os outros serviços.
- Bancos de dados: O sistema já inclui os clássicos e maravilhosos MySQL e PostgresSQL, mas também é possível instalar:
- DB2
- Oracle
- OpenBaseSQL
- Informix
- Observação: a Borland certificou o Conectiva 8 para o uso do Kylix para felicidade dos programadores Delphi que agora podem portar seus aplicativos para Linux sem maiores esforços.
- SPF (Stateful Packet Filtering): É possível fazer NAT, IPSec, filtrar todos os pacotes e muito mais. Ou seja, uma novidade simples que significa um tremendo firewall.
Bem, são muitas as distribuições Linux brasileiras e qualquer administrador de sistema consciente fica feliz de ter tantas opções e espera sempre algo mais e melhor. O Conectiva Linux 8 é a melhor recomendação do momento e muito interessante para administradores, especialmente na versão servidor.
* Roberto Conti é especialista em Linux e topou heroicamente fazer uma série de resenhas sobre distribuições Linux brasileiras. Conti só se preocupa com a quantidade de testes que sua placa de vídeo pode aguentar.
Volta para a capa | Volta para Análises | Volta para Software
Copyright 2000 © Magnet. Todos os direitos reservados.
|