Conheça os novos G3 da Apple

Design futurista

Para completar, o G3 azul tem um acabamento estético do tipo "ame ou odeie, mas não ignore". O chassi metálico em aço escovado é coberto por painéis translúcidos de policarbonato (um plástico muito resistente, usado também no iMac) nas cores branco-leitoso e azul-turquesa. O azul (tanto no gabinete como no teclado e no mouse) é mais forte e menos esverdeado que o do iMac original. Uma característica curiosa desse azul é que ele não é capturado corretamente em nenhuma fotografia, seja de película ou digital; por alguma ironia ele sempre tende ao azul-anil nas fotos, obrigando a correções manuais no Photoshop. A textura do plástico é fosca, exceto no painel frontal e nas maçãs laterais, que são lisos e infelizmente tendem a riscar muito facilmente. O G3 azul é definitivamente bonito e original quando visto de lado. A simetria quadrada com as alças nas extremidades e o enorme aplique com as letras "G3" em preto por trás do painel lateral são tão chocantes que seria um crime deixar esse Mac sob a sua mesa. Já a frente é um pouco cansativa, com a sua enfadonha simetria vertical, reminiscente de máquinas anteriores (e bem menos inspiradas) como o 6400/6500.

SCSI aposentado

A incorporação da tecnologia FireWire é mais uma inovação da geração azul. Proporcionando taxas de transferência de até 400 Mbits, o FireWire veio para substituir diretamente a interface SCSI, que sempre foi padrão nas máquinas da Apple. As vantagens são óbvias: além da maior velocidade, suficiente para receber diretamente imagens de câmeras de vídeo digitais, há a possibilidade de se conectar até 127 periféricos, inclusive outros computadores (e com tudo ligado), o fim do terminador e a capacidade do mesmo periférico ser conectado a mais de uma máquina. Além disso, os novos G3 trazem mais duas portas USB, permitindo conectar até 63 dispositivos que antes teriam que ser plugados nas extintas portas seriais. Pelo menos o conector ADB se salvou, para quem quiser usar teclado, mouse e tablet tradicionais (dá até para plugar dois mouses ou dois teclados, um no ADB e outro no USB). Como se tudo isso não fosse suficiente, os azulões já vêm de fábrica com Ethernet de 100 Mbits e Gigabit Ethernet como opcional. Uma pergunta que certamente muitos estão se fazendo é: "O que eu vou fazer com todos os meus periféricos SCSI?" Não há motivo para desespero. A configuração que testamos (a mais cara) já veio com um dos slots PCI ocupado por um veloz controlador Ultra2 SCSI, acoplado a um drive Ultra2 LVD de 9 GB. As demais configurações vêm com um HD Ultra ATA de 6 ou 12 MB. Quem quiser continuar a usar o SCSI pode comprar da própria Apple uma placa SCSI-1 (cerca de R$ 80) ou um adaptador SCSI/FireWire. Mas existem outras opções no mercado. A Orange Micro, por exemplo, lançou a linha Grappler, que usa os padrões SCSI-2 ou SCSI-3 (os Macs sempre utilizaram o SCSI-1). O modelo mais barato, a Grappler SCSI 906F (US$ 49, nos EUA), é uma placa Fast SCSI-2 que oferece performance de 10 MB por segundo, o dobro do oferecido pelo SCSI original da Apple. Já a Grappler SCSI 930U (US$ 68) é para quem precisa conectar periféricos padrões como HDs, scanners e drives Jaz e Zip. Utiliza o padrão SCSI-3 e transfere dados a 20 MB/s. O topo de linha é a Grappler SCSI 940UW (US$ 149), dispositivo Ultra Wide SCSI-3 com transferência de dados de 40 MB/s. Indicado para quem usa discos de 7.200 ou 10.000 RPM ou configurações RAID, por exemplo. Para quem precisa de ainda mais performance, outra opção é a Adaptec 2940U2, que pode suportar diferentes sabores de SCSI através de seu design Speedflex. Essa interface é compatível até com a Ultra Wide SCSI-3, com taxas de transferência de 160 MB/s. A única questão para quem pretende upgradear para o Ultra2 SCSI é que não é uma boa idéia misturar dispositivos de várias gerações, com cabos, conectores, terminadores e velocidades diferentes. Além disso ser uma fonte de bombas, os dispositivos mais antigos (e mais lentos) diminuirão a velocidade da cadeia inteira. Para dar uma sobrevida aos seus HDs velhos, você pode quebrar o galho com uma controladora SCSI-1 e desde já passar a investir em FireWire. "Tá certo; e o que eu faço com o meu modem, impressoras e tudo que usa as portas seriais?" Bem, aí a solução seria mesmo passar tudo para a frente e ir atrás de periféricos USB ou FireWire. Mas isso é pouco realista, já que dinheiro não cai do céu, e também porque ainda não existe uma grande oferta de disposivos USB no mercado (de FireWire, então, nem se fala). Uma boa solução é comprar adaptadores USB/porta serial, como os da Farallon ou da Griffin.

Entre sem bater

Se você já achava os gabinetes dos Power Macs 8600 ou do 9600 amigáveis e fáceis de abrir, espere até botar a mão num dos novos G3. É só enfiar o dedo na abertura redonda da maçaneta embutida no lado direito, puxar a maçaneta e pronto: a lateral inteira bascula, dando acesso total ao interior do Mac. Nunca foi tão simples abrir um computador. A motherboard fica presa à porta e é ligada ao resto do hardware por cabos flexíveis. Ou seja, até dá para abrir a máquina ligada, apesar de não ser recomendável. A Apple realmente se preocupou com a parte interna das máquinas e até adicionou plástico reforçado embaixo dos pontos da motherboard que podem sofrer maior pressão, mais especificamente onde ficam os slots de RAM e PCI. Na parte inferior do gabinete encontra-se o disco ATA, numa bandeja de metal onde se encaixam facilmente mais dois HDs. Para fazer isso, basta soltar um único parafuso, desconectar os cabos de força e de dados e deslizar a bandeja. Coloque o drive adicional em qualquer um dos espaços livres numerados, aparafuse-o, ponha a bandeja no lugar e plugue o drive. Os dois cabos de força já vêm incluídos, mas o de dados é por sua conta. Assim como o iMac, os G3 azulões aboliram o drive de disquete. Nem mesmo o Zip foi incluído como padrão, à exceção de uma das quatro configurações básicas. De qualquer maneira, existe uma baia livre logo abaixo do CD ou DVD (uma das configurações vem de fábrica com DVD), para quem quiser colocar um Zip ou algo do gênero. Outra característica importada do iMac foi a transferência da ROM da motherboard para uma memória RAM. Quando você liga um G3 novo, pode notar uma pausa significativa com a tela em cinza enquanto a ROM de 3,2 MB está sendo carregada.

Nas pontas dos dedos

O teclado do novo G3 é o mesmo do iMac, o que significa que as teclas ficaram um pouco mais apertadas e várias delas foram dispensadas algumas bem úteis, como as de [Option] e [Control] do lado direito, [Del] (Delete para a frente), [Home], [End] e [F13] a [F15]. Muitos gamemaníacos reclamam que as setinhas do teclado ficaram pequenas e próximas demais, dificultando seu uso nos jogos. Quem também não gostou do minúsculo mouse lançado com o iMac pode ir se preparando para comprar outro, ou então acostumar-se a usar somente as pontas dos dedos para controlá-lo. Felizmente, a venerável porta ADB ainda existe, permitindo que você continue usando os feios mas confortáveis teclado e mouse da geração bege. Diferentemente do iMac, o novo G3 inclui no painel frontal o botão de reset e o botão do programador (muitos modelos anteriores de Macintosh já tinham esses botões).

Nostalgia bege

Embora tenha um design sofisticado, com as já famosas quatro alças e o azul translúcido, ainda restam resíduos da fase anterior da tecnologia. Ao apertar o botão para ejetar o CD-ROM ou DVD, a frente azul se inclina para fora e o que aparece no interior é um drive bege comum, que nada tem a ver com a elegância do G3. A idéia da Apple é que não se justificaria encarecer o computador criando para ele um drive de CD exclusivo, fora do padrão da indústria. Ou seja, o deslize estético é totalmente perdoável do ponto de vista funcional. Por outro lado, a portinha azul do drive bloqueia o conector e o controle de volume do fone de ouvido do CD player. Alguns usuários até já reclamaram que essa portinha ocasionalmente não abre, obrigando-os a recorrer a um clip de papel, unha ou chave de fenda para libertar o CD. Uma falha de design que torcemos para que seja revisada. Uma limitação que com certeza desagradará aos profissionais que mexem com vídeo e áudio digital é o número de slots PCI. São quatro ao todo. Um deles já vem ocupado pela placa de vídeo ATI. Sobram três. Se você optar por adicionar um controlador SCSI (o que é bem provável), restam apenas dois preciosos slots. É pouco, muito pouco. Qualquer estúdio de gravação de áudio digital profissional vai ocupar de cara esses dois slots e não vai ter para onde expandir, a menos, é claro, que abdique da interface SCSI, já que não poderá tirar a placa ATI (que, por sinal, vai bem além das necessidades de um profissional de áudio). Para esses, a resposta da Apple é que procurem chassis externos de expansão PCI, como o da ProMax, com sete slots. A Digidesign, um dos principais fabricantes de sistemas de áudio digital, está recomendando a seus clientes que não comprem os G3 azuis, pelo menos por enquanto. A empresa afirma que mudanças de arquitetura, como a falta do drive de disquete (utilizado na instalação de seus programas), portas seriais e SCSI, podem comprometer o funcionamento de seus equipamentos. O fim mais que tardio da lerda e eternamente bugada porta de rede LocalTalk representa a consolidação da Ethernet como única opção. Ao contrário do que aconteceu nos primeiros G3 beges, cujo driver Ethernet original simplesmente não funcionava, o nosso G3 azul de saída conversou bem com outras máquinas, tendo puxado de uma rede Unix um documento de 236 MB em 1 minuto e 29 segundos. A interface até detecta automaticamente se ela está conectada numa rede 10Base-T ou 100Base-T, sem qualquer intervenção do usuário. O modem interno não existia na configuração testada, mas a documentação informa tratar-se de uma placa de 56 kbps, compatível com os padrões V.90 e K56flex (o que no atual estado das comunicações no Brasil ainda está longe de poder ser plenamente usufruído pelos mortais comuns). Quem vai surfar a Internet com o G3 azul precisa adquirir esse modem, pois não existe mais porta serial para plugar um modem externo. O problema é que o modem interno estava em falta até o fechamento desta edição; você pode ter que esperar para adquiri-lo em separado. Quanto ao software, o desempenho do Photoshop 5 foi tão agradável como seria de esperar de uma máquina desse calibre . Também foram perfeitas a qualidade e fluidez da imagem ao rodar Unreal, um jogo capaz de pªr de joelhos qualquer circuito de vídeo exceto o novo ATI de 128 bits que vem no G3 azul. Mas, em se tratando de vídeo, nem tudo foi lindo. O Connectix Virtual Game Station (emulador de PlayStation) rodou lentamente ou se recusou a rodar vários games que não dão problema nenhum no iMac ou no G3 bege. O Quake, na sua configuração normal, limitou-se a exibir uma tela em preto. Ambos os paus não são de sistema, e sim devidos a erros na comunicação entre os softwares e a placa de vídeo. Enquanto não chegam novos drivers e updates que corrijam as falhas, elas são o preço a pagar por se ter a tecnologia mais avançada (e, conseqÙentemente, menos debugada) do momento.

Mão no bolso

A essa altura você deve estar querendo saber qual é o preço dessas supermáquinas. Já avisamos: não espere preços de iMac. O modelo mais barato é o de 300 MHz, que custa US$ 2.990 (a dolarização voltou!), incluindo 64 MB de RAM, disco Ultra ATAPI de 6 GB e 512 kB de cache. Em seguida vem o G3 de 350 MHz, que custa US$ 3.780 e vem com 64 MB, 1 MB de cache, disco Ultra ATAPI de 6 GB e um drive de DVD (os outros vêm com CD-ROM). O outro modelo de 350 MHz sai por US$ 4.590 e traz 128 MB, disco Ultra ATAPI de 12 GB e Zip Drive. Já o G3 de 400 MHz, o modelo mais rápido da família, custa US$ 5.490 e tem basicamente a mesma configuração do G3 de 350 MHz, mas sem o Zip e com disco Ultra2 SCSI de 9 GB. Os monitores (obviamente) não estão incluídos nos preços. E, por falar nisso, os Macs G3 azuis passaram a utilizar o mesmo tipo de conector de monitor SVGA de 15 pinos usado pelos PCs. O curioso é que, se você quiser utilizar seu monitor de Mac da geração bege, terá que usar o adaptador que, felizmente, vem incluído na caixa. No entanto, se não quiser ficar com um monitor fora de moda e que nem combina com o sofá da sala você vai ter que comprar um modelo da linha nova, que deve sair por algo a partir de US$ 2 mil. Não é fácil andar na moda.

Márcio Nigro

É músico e acha um absurdo que todos os Macs lançados nos últimos anos tenham apenas três slots PCI livres.

Mario AV

É editor de arte da Macmania e, de repente, não nutre mais sentimentos tão carinhosos pelo seu G3 bege.

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