Os novos sabores do iMac

Por Márcio Nigro

Enfim, chegaram os novos iMacs coloridos. São lindos, são rápidos, são fáceis de usar e, devido à alta do dólar, são caros pra chuchu. Como em termos de novidade eles trazem muito pouca coisa em relação ao iMac original (um plastiquinho de outra cor e um chip um pouco mais rápido), decidimos fazer uma matéria diferente. Convidamos um usuário de PC (na verdade, um macmaníaco enrustido) para dar uma voltinha no iMac e tecer suas considerações. Aproveitamos também para falar com alguns usuários do iMac original para saber como está a adaptação ao novo Mac, seus elogios e reclamações. Acreditamos que essa seja a melhor maneira para alguém decidir se uma máquina vale a pena ou não: ouvindo que, já comprou a sua.

Eu e meu iMac rolando na relva... A vida com o iMac é quase uma novela: paixão, ódio, intrigas e muito mais

Seria possível o amor entre seres humanos e máquinas? Até pouco tempo, isso poderia ser algo absurdo de se cogitar. Tudo bem, teve a mania do Tamagotchi, mas as pessoas estavam vidradas num animal virtual e não ligavam muito para o objeto em si. Porém, na metade do ano passado, tudo mudou de figura. O lançamento do iMac fez com que as pessoas literalmente se apaixonassem por ele, inclusive mulheres, que chegaram a abraçá-lo como se fosse um bebê ou um gatinho (meninos, eu vi!). Filas se formaram em frente às revendas da Apple nos EUA para comprá-lo ou, pelo menos, para vê-lo de perto.

Agora, surgem novos modelos de iMacs, que passam a ser mais rápidos e vêm em diferentes cores, ou melhor, sabores. Ou seja, mais um motivo para deixar as pessoas mais vidradas na máquina. É claro que ainda não há nenhum caso reportado de alguém que esteja dormindo com um iMac na mesma cama.

E também não é todo mundo que vê um iMac e tem vontade de apertar suas bochechas coloridas (existe inclusive quem não gosta dele). Mas está claro que o iMac é um sucesso inquestionável.

No Brasil, o sucesso não foi tão estrondoso quanto nos EUA, como era de se esperar. Mas o panorama também não é dos piores.

Do iMac original, calcula-se (ou melhor, chuta-se, já que a Apple não divulga números específicos do mercado brasileiro) que vieram para o Brasil cerca de quatro mil unidades, a maioria já vendida. Ou seja, as pessoas estão chegando à conclusão de que ele é uma boa opção. Quem são esses usuários que compraram o iMac? Eles o utilizam para quê? Eles estão realmente satisfeitos? Ou será que o iMac é apenas um fenomêno de marketinhg? Para responder essas perguntas, resolvemos procurar alguns desses usuários, para saber como tem sido o convivio com o pequeno notável.

José Antonio Moraes Filho Idade: 33
Ocupação: Piloto de caça da Aero- náutica e responsável por gerenciar a rede da Academia de Pilotos de Caça
Para que usa o iMac: Navegar na Internet e trabalhos gráficos
Nota para o iMac: 8,5

O gaúcho J.A. Moraes, como prefere ser chamado, é um usuário de Mac antigo. Já teve um Classic, um IIcx, um Quadra 640, um PowerBook 140, um PowerBook 2300c, um Power Mac 7100/66 e agora o iMac, que decidiu comprar por causa do preço em conta, além da rapidez e do visual compacto e bonito, é claro. Para ele, o PC é muito prático, mas não é gostoso como o Mac e seu Mac OS. "Comparo os dois assim: o PC é matar a sede com água. O Mac é matar a sede com Perrier..." Ele acha que o único defeito do iMac é o fato de não ter um drive de disquete. Por isso mesmo, o único periférico que ele tem conectado ao micro é o SuperDrive, já que, infelizmente, não pode aproveitar sua impressora antiga.

J. A. é também o administrador de rede da Academia de Pilotos de Caça, controlando o acesso dos usuários, grupo de usuários, vírus e implantação de novos programas, entre várias outras coisas. Mas o iMac, na verdade, não tem muito a ver com seu trabalho com a rede NT da base aérea. Quando perguntamos por que não coloca o iMac na rede, ele responde que sabe que o iMac se comporta bem na rede NT, ainda mais com TCP/IP, mas "não quero dar esse gostinho para os administradores".

"É paixão pelo Macintosh, mesmo. Por vezes, sento em frente a ele sem saber exatamente o que quero fazer. É um prazer tê-lo ligado à sua frente. Pra não falar que não faço nada, refaço emblemas e símbolos e corrijo fotos de maneiras que os pecezistas não têm nem idéia de como fazer. E ainda me perguntam se eu trabalhei em algum Corel da vida..."

Paulo Eduardo Barcellos
Idade: 15
Ocupação: Estudante do 1 ano do colegial no Colégio Bandeirantes, São Paulo
Para que usa o iMac: Internet e tudo mais
Nota para o iMac: 10

Fã de Mac há quatro anos, Paulo é uma dessas pessoas que estão apaixonadas pelo iMac. O primeiro Mac que ele viu na vida foi um 5500, numa loja nos EUA, e ficou impressionado. Como um computador poderia vir com o monitor embutido, e ainda por cima não usar o Windows?! "Desde pequeno, não aceito a idéia de as pessoas quererem ser e agir iguais. Eu penso diferente e foi assim que migrei para o Mac", explica. Não é preciso dizer que, quando comprou seu iMac, a primeira coisa que notou é como ele é compacto ("Foi mais fácil do que instalar a torradeira na cozinha").

E mais. O iMac trouxe de volta a sensação de espaço em seu quarto, algo que nunca pensou em reaver. "O PC tinha aquele monte de fios e periféricos que deixavam o meu quarto com cara de depósito de eletrªnicos. Com o iMac, o meu quarto ficou mais espaçoso e mais gostoso de ficar".

E só quem já teve PC sabe como a vida é mais fácil com o Mac. Paulo pensava que, depois de ligar o iMac, teria de instalar tudo no HD -e qual não foi sua surpresa quando descobriu que tudo, sistema operacional e os softwares, estava bonitinho no seu lugar? Ou seja, plug and play mesmo, tanto que ele se conectou à Internet em menos de dez minutos.

"{Uma das poucas coisas de que não gosto é o fato de não ter a tecla Delete que deleta texto para a frente", completa.

Mas um iMac não é o bastante para a sua família. O irmão de Paulo também ganhou um iMac, e agora os dois estão conectados via Ethernet. O mais curioso é que não são apenas Paulo e seu irmão que estão curtindo o iMac. Sua avó, de 74 anos, que nunca havia mexido em um computador, não só gostou do bicho como também já escreve no Word e até surfa a Internet quando faz uma visita ao neto. "Estamos apaixonados pelo iMac e, com certeza, não queremos mais complicação. Meu próximo computador? Só se for um G4."

SED Magna
Número de iMacs: 4
Para que usa os iMacs:
Rede corporativa multiplataforma

Mas não são só usuários domésticos e escolas de arte que estão correndo atrás do iMac. Muitas empresas também estão gostando da idéia de ter os micros da Apple conectados à sua rede corporativa.

A SED Magna, distribuidora de produtos de informática no país (inclusive os da Apple), é um exemplo disso. Fernando Perfeito, gerente da companhia, conta que são quatro iMacs rodando na rede atualmente, mas a previsão é chegar a 15 em pouco tempo. O curioso é que esses micros estão fazendo o papel de PCs, uma vez que o banco de dados utilizado pela SED Magna é o Progress, que roda em um servidor de aplicações Windows NT. Por que não utilizar PCs, então? "Os PCs Pentium 166 MHz sairiam mais caros e ainda por cima teriam performance mais lenta do que os iMacs. Estes acessam o banco de dados através do Virtual PC, que é mais fácil de configurar que o próprio Windows e, além disso, não é preciso acrescentar placa de rede ao iMac", explica Perfeito. Com isso, a SED Magna conseguiu fazer com que sua equipe, que já está acostumada com o padrão Apple, continue trabalhando com Macintosh.

Juliana Gatti Pereira Rodrigues
Idade: 18
Ocupação: Estudante de Desenho Industrial na Faculdade de Belas Artes de São Paulo
Para que usa o iMac: Internet e trabalhos no Claris, mas quer instalar programas específicos para sua área
Nota para o iMac: 9

Juliana é a prova viva de que o amor entre seres humanos e máquinas é algo possível. "Definitivamente, eu me considero uma pessoa apaixonada pelo meu iMac, acho ele lindo! Ele até fala comigo quando algum problema o incomoda..."

O iMac é praticamente seu primeiro computador. Ela chegou a ter um PC, por pouquíssimo tempo. Conheceu um Macintosh de perto em um curso de Comunicação Visual e, desde então, uma fascinação por essas máquinas tomou conta dela. "Apesar de ter trabalhado em diversas oportunidades com PCs, eu sempre pensei que, quando fosse ter um computador em casa definitivamente, faria campanha dentro da família para que optassem por um Mac", diz Juliana.

Segundo ela, uma das vantagens do iMac é a facilidade de instalação do equipamento, assim como a velocidade e o design inovador. Ela só lamenta um pouco que os softwares para a plataforma Mac OS sejam mais difíceis de adquirir que os de PC, e também que o esquema de acentuação seja diferente.

Juliana também teve um pouco de dificuldade em fazer funcionar sua impressora Epson Stylus, mas agora está tudo funcionando corretamente. A escolha pelo iMac foi mais ou menos óbvia. Como ela pretende seguir uma carreira profissional onde desenho é essencial e seu pai trabalha em programas de precisão gráfica, a família toda concluiu que a compra do iMac seria ideal.

Família unida tem um Mac em casa.

"De primeira, o pessoal estranhou o funcionamento do computador. Mas aposto que hoje ninguém estaria disposto a trocá-lo por nada", acrescenta.

Escola Panamericana de Arte
Número de iMacs: 120
Para que usa os iMacs: Aulas de comunicação visual, decoração, design, multimídia e publicidade

O Macintosh sempre esteve próximo à área de educação, e assim é também com o iMac. Afinal de contas, não dá para imaginar uma máquina mais atraente para aproximar os alunos da informática. A unidade da avenida Angélica da Escola Panamericana de Arte, localizada em São Paulo, é o lugar que mais reúne iMacs em todo o Brasil. Comprometida com a plataforma da Apple há anos, a EPA tem nada menos que 120 dos Macs verdinhos, distribuídos por diferentes salas da escola.

O idealizador desse parque de iMacs é o coordenador de computação gráfica da EPA, Vinícius Monteiro. Ele diz que os equipamentos são usados nos cursos de comunicação visual, decoração, design, multimídia e publicidade, entre outros.

Por enquanto, a troca de arquivos entre todos os iMacs obedece ao padrão ZPL/ZPC ("Zip pra lá/Zip pra cá"), ou seja, todas as salas têm um Zip Drive para o armazenamento e transporte de dados. Mas isso deve mudar até o final do ano. "Vamos interligar todas as máquinas com uma rede de fibra ótica conectada a um servidor Mac OS X, que, por sua vez, abrigará um servidor Hotline, onde será gerenciado todo o acesso à rede", explica.

E os alunos, o que eles têm achado do iMac? Vinícius conta que têm achado o máximo, mas ficam "p" da vida quando descobrem que o iMac não tem drive de disquete. "Para aplicações gráficas como as que trabalhamos aqui, o disquete não tem nenhuma utilidade. Os alunos precisam se acostumar a viver sem ele." Ele admite, no entanto, que para a área de multimídia, por exemplo, a tela do iMac é um pouco pequena demais. "Para esse tipo de trabalho, estávamos prestes a comprar um dos novos G3, mas a alta do dólar atrapalhou bastante os nossos planos", acrescenta Vinícius.

Fora esse detalhe, ele diz que os iMacs têm rodado sem tropeços, ao contrário dos Performas e Power Macs 5500 utilizados nas outras unidades da EPA, que costumam apresentar problemas de hardware mais ou menos freqÙentes.

Daniela Cury
Idade: 18
Ocupação: Estudante da Faculdade de Design de Moda na FASM
Para que usa o iMac: Trabalhos com Photoshop e Illustrator, além de lazer
Nota para o iMac: 9,8

Depois de muito usar o PC, Daniela decidiu que seus dias de tormento acabariam e, enfim, compraria uma boa máquina. Foi assim que trocou seu Pentium II pelo iMac. "O iMac está sendo algo maravilhoso em minha vida. Como trabalho com design, a qualidade de imagem e a velocidade do iMac me ajudam muito a executar trabalhos. Cada dia que passa, descubro novas possibilidades..."

Na opinião dela, o design, a praticidade e o preço são as principais qualidades do iMac, ao passo que um dos poucos defeitos é o fato de se precisar usar um clip de papel para restartar o computador quando ele dá pau (uma falha do primeiro modelo de iMac), além da falta de mídia de transporte tipo disquete ou Zip.

Daniela não tem nenhuma dúvida sobre a relação de amor cibernético. "Eu estou completamente apaixonada pelo meu querido iMac. O amor entre humanos e máquinas é superviável. Conheço mais pessoas apaixonadas por seus Macs..."Se pudesse, ela diz que colecionaria todos os novos iMacs. Mas, como ela própria diz, "com os novos preços, isso vai ser meio que impossível".

Bureau PostScript
Número de iMacs: 6
Para que usa o iMac: Editoração e pré-impressão

Outra empresa que também entrou na onda do iMac é a PostScript, bureau gráfico paulista que colocou as máquinas para tomar conta de todo o processo de finalização e impressão dos trabalhos que, logo em seguida, vão diretamente para o servidor de impressão. Jorge Bastos (foto), gerente de produção da PostScript, diz que a escolha do iMac não foi apenas por causa do preço, mas também porque, para esse tipo de tarefa, não era necessário que o micro tivesse porta SCSI, drive de disquete ou qualquer outro periférico conectado. "Só não estamos utilizando o iMac para outras tarefas gráficas por causa de sua tela, muito pequena para esse tipo de aplicação." Segundo ele, os iMacs estão rodando de forma bem rápida na rede através do AppleShare IP 6.1, que faz a conexão via TCP/IP com o servidor Windows NT.

Celso Bahia Luz
Idade: 49
Ocupação: Possui um escritório de advocacia e também é professor
Para que usa o iMac: Preparar cartas, relatórios, petições, planilhas, email etc.
Nota para o iMac: 6

Já o caso de Celso Bahia Luz é uma relação de amor e ódio com o iMac.

Ele basicamente só tinha usado PCs na vida, fora uns curtos quatro meses em que trabalhou com um Mac, lá por 1984.

De repente, ele ouviu falar no iMac. Era exatamente o que estava precisando em termos de espaço.

Comprou o iMac em São Paulo, pois a revenda em Brasília, onde mora, não aceitava cartão de crédito e porque o atendimento foi muito ruim, segundo ele. Menos de 48 horas após, chegava o iMac. Mas, durante a instalação, de cara um problema. "Por que fazem tanta economia de fio? Tive que furar a mesa, pois não dava para ligar o fio do teclado passando por baixo da mesma", questiona. A partir de então, Celso começou a ter uma série de experiências um tanto frustrantes. Quando tentava mandar arquivos attachados em emails para clientes e amigos, ninguém conseguia abri-los. "Nesse sufoco, entrei em contato com uma revenda, que sugeriu que eu trabalhasse com o MS Office 98. Até então, desconhecia sua existência. Mandei vir imediatamente o Office e, junto, um SuperDisk". Então, mais um problema: a incompatibilidade do Office 98 com a versão brasileira do Mac OS (veja a solução para o problema na seção Simpatips desta edição). "Eu não sabia do problema. Não consegui operar nada e nem a Apple nem a Microsoft me deram o apoio necessário. A Microsoft ficou de mandar um email acerca do problema e como eu poderia corrigi-lo 'via Internet'. A Apple ficou de me mandar manuais, que até hoje não chegaram". Acabou desinstalando a versão em português do OS e instalou a americana e só então o Office. "A partir daí, pude começar a trabalhar."

Celso diz que não se arrependeu de ter comprado o iMac; mesmo assim, algumas questões ainda estão borbulhando em sua mente: Por que o teclado do iMac é tão incompleto? Por que os acentos não funcionam nos seus lugares, nos obrigando a recorrer a toda hora à tecla Option? Por que não tem a tecla End? Por que o Delete funciona do jeito oposto ao dos PCs? A resposta talvez seja bem simples: iMac não é PC. Felizmente.

Márcio Nigro

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