10 carros mais vendidos do Brasil, juntos, emitem toneladas de CO2/km
Veja qual é a emissão de CO2 dos carros mais vendidos do Brasil e quais são os modelos que emitem menos gás carbônico
Os 10 carros mais vendidos do Brasil, juntos, emitem toneladas de CO2 na atmosfera a cada km rodado. De acordo com a tabela do PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular), publicada pelo Inmetro, as emissões vão de 87 g/km (Chevrolet Onix Plus) a 126 g/km (Hyundai Creta da antiga geração).
Parece pouco, mas quando se multiplica pela quantidade vendida de cada modelo, pela soma dos 10 carros no ano e pela quilometragem que cada um roda, são toneladas de CO2 emitidos. Esses modelos já somam 126.201 unidades vendidas no ano (até agosto), segundo a Fenabrave.
Os 10 carros mais vendidos em 2023 e seus níveis de emissão de CO2 pelo PBEV são os seguintes:
- Fiat Strada - 97 a 107 g/km
- Chevrolet Onix - 90 a 105 g/km
- Volkswagen Polo - 88 a 106 g/km
- Hyundai HB20 - 95 a 106 g/km
- Chevrolet Onix Plus - 87 a 95 g/km
- Volkswagen T-Cross - 102 a 104 g/km
- Fiat Mobi - 88 a 93 g/km
- Fiat Argo - 95 a 100 g/km
- Chevrolet Tracker - 110 a 117 g/km
- Hyundai Creta - 110 a 126 g/km
Hyundai Creta e Chevrolet Tracker têm os piores números da lista top 10. O Creta 1.0 TGDI emite 110 g/km, o Creta 2.0 emite 116 g/km e o Creta 1.6 da antiga geração emite 126 g/km, o pior índice entre os mais vendidos. O Tracker emite 110 g/km nas versões 1.0 turbo e 117 g/km com motor 1.2 turbo.
Chevrolet Onix Plus, Fiat Mobi e Volkswagen Polo são os únicos que emitem menos de 90 g/km de CO2, em algumas versões; e isso é menos do que a maioria dos carros híbridos importados, especialmente os de alta potência. Mesmo assim, são valores altíssimos perto dos modelos zero emissão, que são os elétricos, e mesmo comparado com alguns híbridos (veja a lista dos melhores no final da reportagem).
Considerando os menores valores de emissão de cada carro, a média é de 96 g de CO2/km. Portanto, na média, cada um dos 10 carros mais vendidos do Brasil emite 0,096 kg de CO2 a cada km rodado.
Multiplicando 0,096 kg por 126.201 carros, juntos eles emitem 12.115 kg de CO2/km. São 12 toneladas de gás carbônico já no primeiro quilômetro rodado desses novos carros, que estão em conformidadade com as regras mais rígidas do Proconve. Se considerarmos apenas 1.000 km de cada um desses carros, chegamos ao espantoso número de 12 mil toneladas.
Mas isso ainda é muito pouco diante dos números que vêm a seguir. Empresa reconhecida mundialmente por seus estudos no setor automotivo, a Jato Dynamics considera que o brasileiro roda em média 15.000 km com o veículo a cada ano. Portanto, estamos falando de quase 182 mil toneladas de CO2 por ano.
Segundo a Jato Dynamics, 75% da frota circulante hoje no Brasil é constituída por carros flex. E pior: a média de emissões dos carros flex é muito maior do que a média dos 10 carros mais vendidos.
Um gráfico enviado ao Guia do Carro por Milad Kalume Neto, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics, revela que a média atual de emissões é de 103 g/km de CO2, graças à legislação mais rigorosa e aos investimentos das montadoras, pois era de 125 g/km em 2014.
Etanol reduz o problema
Mas, da mesma forma que as contas podem piorar se usarmos os dados mais altos e também a frota circulante não só desses, mas de todos os veículos que rodam no Brasil, as contas podem melhorar se considerarmos que todos esses veículos são flex, ou seja, rodam com gasolina e também com etanol.
Como tem sido amplamente debatido, o etanol reduz a emissão de CO2 considerando o ciclo do poço à roda, que será adotado pelo governo brasileiro para incentivar o uso desse combustível.
De acordo com um estudo divulgado pela Stellantis, cerca de 30% dos usuários de carros flex abastecem com etanol. Nesse caso, os valores de emissão de CO2 emitidos pelos 10 carros mais vendidos do Brasil podem ser compensados se considerarmos o ciclo do poço à roda quando utilizam etanol.
Mas, atenção, porque, embora os dados com etanol apareçam zerados no PBEV, esses carros emitem CO2 também. A afirmação é de Murilo Briganti, da Bright Consultoria. Ele disse ao Guia do Carro que o PBEV só publica os dados dos combustíveis fósseis. Emmais: há casos em que a emissão de CO2 com etanol no escapamento do carro é maior do que a emissão com gasolina. Porém, o etanol tem a vantagem de compensar essas emissões.*
"O uso de etanol compensa 95% a 98% do CO2 produzido na combustão. Não é 100% pelos veículos a diesel usados na colheita, moagem e distribuição do etanol", comenta Cassio Pagliarini, da Bright Consulting. "A nossa gasolina já tem 27% de etanol – seria pior se não tivesse.”
Segundo Raquel Mizoe, diretora de Emissões e Consumo Leves da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva), esse valor é menor do que se diz. Se um veículo flex usasse somente etanol, a redução de CO2 poderia chegar somente a 55% no ciclo do poço à roda.
Ela afirma que os dados do PBEV estão desatualizados e que não é correto considerar que o uso do etanol zera as emissões, como muitas pessoas pensam. Os estudos da AEA também indicam que, com a matriz energética brasileira, que é limpa, o uso de veículos 100% elétricos a bateria reduziria em 90% as emissões de CO2, no ciclo do poço à roda.
Descarbonização precisa ser urgente
Usamos os 10 carros mais vendidos como exemplo apenas para ilustrar a urgência da descarbonização do setor automotivo no Brasil. Independentemente se essa descarbonização será feita com uso do etanol, com carros elétricos a bateria ou com hidrogênio, é preciso fazer alguma coisa de forma rápida.
Atualmente, algumas montadoras tradicionais travam uma guerra contra as marcas que estão importando carros elétricos no Brasil, pedindo imposto de 35% para a entrada desses carros no país, como forma de proteção da indústria nacional, embora ainda não tenham anunciado um plano de produção local de veículos zero emissão de CO2. O início da descabonização será com híbridos flex.
Pagliarini observa que a frota brasileira é imensa e que a grande maioria dos veículos tem níveis de emissão muito maiores. “São mais de 40 milhões de veículos e produzindo o dobro de CO2 por km desses top 10”, diz. “A produção de CO2 total é assustadora.”
Um estudo da AEA mostra que o setor de transporte emite 60 milhões de toneladas de CO2 por ano no Brasil. São 50 milhões de automóveis, que emitem 80% no uso e 20% na produção. Segundo Raquel Mizoe, os números assustam, sim, mas representam apenas 3% da cadeia de emissões de CO2, que chega a 2 bilhões de toneladas/ano.
Há estudos divulgados pela Stellantis que indicam a agropecuária produzindo mais CO2 do que o setor de transportes. Mas, dentro dos setores de energia e de processos industriais, não é bem assim. Segundo o Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), as emissões por queima de combustíveis representam 76% e 38% vêm dos transportes.
“Toda a cadeia emite. A gente andando, ou a gente respirando, a vaca no pasto, tudo isso emite CO2”, comenta a diretora da AEA. “O Brasil tem uma pegada de carbono menor do que outros países porque a gente tem 27% de etanol na gasolina, tem uma matriz energética muito boa. Em relação aos números, quanto é o bom? Este é o ponto principal, qual é o número que a gente tem que atender.”
Pelo Acordo de Paris (compromisso global pela redução da emissão de gases de efeito estufa), o Brasil terá que reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030 e ser neutro em carbono até 2050.
Ainda segundo a Associação de Engenharia Automotiva, isso significa que a média de CO2/km do setor de transportes deve cair de 113 g/km em 2022 (considerando também os caminhões e ônibus) para 80 g/km em 2030 e para 32 g/km em 2050. Uma solução simples e barata seria a volta do carro a álcool, sem o sistema flex.
“Você tem uma grande redução [de emissões] se rodar apenas com álcool e mais ainda se o carro for 100% elétrico”, reforça Raquel Mizoe. Ela também afirma que o carro híbrido tem uma essência energética melhor do que o carro flex, pois tem junto com o motor a combustão um motor elétrico.
Carros amigos do meio-ambiente
Entre os 10 carros mais vendidos do Brasil, os menos nocivos ao meio-ambiente são o Fiat Mobi (88 a 93 g/km) e o Chevrolet Onix Plus (87 a 95 g/km), pois têm média de 90,5 e 91 g/km. No total dos carros listados pelo PBEV do Inmetro, todos os carros 100% elétricos, de qualquer marca, podem ser considerados “amigos” do meio-ambiente, pois não emitem CO2 durante a utilização (embora muitos usem energia “suja” para a produção em seus países de origem).
Já os modelos híbridos são um caso à parte. É preciso tomar muito cuidado, pois alguns carros híbridos são verdadeiras fornalhas emitindo CO2. E nem sempre a alta potência tem a ver com isso, pois há casos em que os híbridos potentes são amigáveis.
Entre os inimigos do meio-ambiente podemos citar, por exemplo, o Ranger Rover Diesel híbrido leve, que emite 194 g/km de CO2. Ou o Mercedes-AMG GLE vai de 179 a 212 g/km de CO2. E mesmo carros menos potentes poluem muito, como o Audi A3 MHEV, que emite 121 g/km (Sedan) ou 125 g/km (Sportback), e o Mini Countryman PHEV, que emite 132 g/km.
Veja abaixo a lista dos carros híbridos mais amigos do meio-ambiente, que emitem menos de 80 g/km de CO2, segundo o Inmetro.
- Caoa Chery Tiggo 8 PHEV - 22 g/km
- Volvo XC60 PHEV - 23 g/km
- Volvo XC90 PHEV - 36 g/km
- BYD Song Plus PHEV - 38 g/km
- Jeep Compass PHEV - 47 g/km
- Porsche Panamera PHEV - 61 ou 63 g/km
- Hyundai Ionic MHEV - 67 g/km
- Kia Niro MHEV - 68 g/km
- Honda Civic HEV - 74 g/km
- Toyota Corolla HEV - 77 g/km
- Toyota Camry HEV - 78 g/km*
- Toyota Corolla Cross HEV - 79 g/km*
*Esta reportagem foi atualizada após a entrevista com Murilo Briganti.