Alta de etanol na gasolina pode fazer carro carburado morrer
Aumento da quantidade de etanol na gasolina passa a valer nesta segunda-feira
Desda segunda-feira (16) a gasolina passou a receber um aumento da mistura de etanol anidro, passando de 25% para 27%. Mas o que essa alta pode fazer com os carros, principalmente os mais antigos que não contam com a tecnologia flex? Para especialistas, o condutor não deve sentir muita diferença durante a condução, mas, em casos extremos, os veículos carburados da década de 1980 podem chegar a morrer em acelerações bruscas.
Em setembro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff já havia sancionado lei que permitiu a elevação da mistura do etanol na gasolina até o limite de 27,5%, desde que constatada sua viabilidade técnica, o que, segundo o governo, foi comprovado por meio de testes.
Para a gasolina premium, no entanto, ainda vale a mistura de etanol no atual patamar de 25%. Em nota enviada ao Terra, o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, disse que isso é uma forma de defender os consumidores. “Entendemos a adoção desta medida (alta do etanol na mistura) como apoio à economia brasileira. Com a preservação do teor de álcool na gasolina premium fica mantido, em defesa de nossos consumidores, alternativa de abastecimento para os veículos movidos a gasolina”.
A mistura, contudo, não trará malefícios para os veículos flex e importados, Para o engenheiro automotivo e diretor-executivo da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Nilton Monteiro, esses automóveis já estão preparados para o aumento. “Os carros importados que são abastecidos com gasolina pura lá fora, já vêm calibrados para funcionar com gasolina com mais etanol. Trabalhei na Ford durante 35 anos e todos os carros que trazíamos – é comum nas montadoras todo esse processo – eram calibrados para isso. Essa diferença de 25% à 27% é muito pequena. Não deve nem ser perceptível dirigindo o carro”, contou.
Como os testes são feitos desde setembro do ano passado, as montadoras já se prepararam para que os veículos não sofressem com a mudança. “A estratégia de calibração de cada montadora determina o que o carro vai sentir, ou seja, mesmo o veículo só à gasolina terá uma calibração feita para essa maior quantidade de etanol. A diferença é muito pequena. O desempenho segue o mesmo e talvez algumas mudanças só serão percebidas por meio de uma medição muito apurada”, completou Monteiro.
Problema antigo
Os carros carburados da década de 1980, contudo, podem sofrer um pouco mais com o aumento do etanol. De acordo com Nilton Monteiro, esses veículos sofrem problemas há muito tempo - e vão continuar sofrendo. “Se o carro for muito antigo, ele já sofria problema de corrosão. Essa diferença (de etanol na gasolina) vai apenas continuar o problema, e não aumentar. Até as borrachas antigamente eram atacadas pelo álcool (etanol). Na época, as borrachas corroíam e chegavam até a escapar do terminal do carburador”, lembra Monteiro.
“Se esse veículo já esta com uma regulagem ‘pobre’, que já tem uma quantidade de ar que está no limite, ele poderá ter algumas pequenas falhas na hora que acelera, inclusive teremos, nos carros mais graves, a chance do veículo morrer. O carro estará andando numa velocidade constante, o condutor pisará de uma vez no acelerador e o carro poderá morrer. Vai depender muito da regulagem”, explicou Luiz Vicente.
O condutor de carros carburados da década de 1980 vai perceber se o aumento de etanol irá afetar o seu veículo, segundo o professor da Mackenzie. “Uma das formas de identificar isso é perceber se o veículo está ‘pipocando’ e com pequenos estouros no escapamento quando o carro estiver quente. É um sintoma que será facilmente percebido quando o condutor tiver problemas devido a essa maior proporção. Será como se o combustível estivesse acabando”, conta.
Nestes casos, a melhor opção é procurar uma oficina e fazer apenas um ajuste no carburador, de acordo com o professor da Mackenzie.
Consumo
O etanol queima mais rápido que a gasolina, sendo mais rapidamente consumido pelos automóveis. Contudo, o aumento de 2 pontos percentuais na mistura etanol-gasolina não deve afetar o bolso do consumidor. Os especialistas não acreditam que o condutor perceba uma grande diferença no consumo.
Para Luiz Vicente Figueira de Mello, mestre em Engenharia Automotiva e coordenador do curso de Engenharia da Universidade Mackenzie Campinas, poucas pessoas irão perceber um consumo maior. “Apenas nos casos em que a pessoa é metódica e faz todas as medições diariamente será verificado um pequeno aumento no consumo. O condutor que não costuma fazer esse tipo de medição dificilmente vai ter essa percepção”, afirmou.
Nilton Monteiro explica que os carros saem de fábrica com uma calibração que permite esse aumento no etanol na gasolina. “As montadoras já fizeram uma calibração pensando nisso (aumento do etanol na gasolina), tanto com relação ao consumo quanto ao desempenho. Algumas já tinham testes com diferentes quantidades de etanol na gasolina. Tenho certeza que os carros que saem da linha de produção atualmente são calibrados para não sofrer com o maior consumo”, explicou.
Corrosão
Os especialistas também não acreditam que a mudança no combustível trará maior corrosão nos equipamentos dos veículos. “Com relação à corrosão, eu sinceramente não vejo problemas nesse sentido porque quem corrói o escapamento é o enxofre na gasolina, que recentemente tivemos uma queda na quantidade”, contou Luiz Vicente.
Já Nilton Monteiro diz que carros a partir de 1995 não devem sofrer, principalmente porque os equipamentos já eram preparados para isso. “Naquela época (meado dos anos 1990), tanto pela escala como dificuldade de produção, os carros já eram iguais ao de etanol, com tanque de plástico, carburador protegido. Então esses carros um pouco mais novos não vão sofrer nada”.