Anfavea acusa BYD e GWM de venderem carros baratos demais. Mas é assim mesmo?
Veja quanto custam o BYD Song Plus e o GWM Haval H6 na China e depois compare os preços no Brasil, feita a conversão de yuan para real
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) segue em guerra contra as montadoras chinesas BYD e GWM, que avançam (lentamente) rumo à produção nacional. A entidade acusa as duas montadoras chinesas de prática de dumping, ou seja, de vender seus carros no Brasil abaixo do custo real.
Mas será que os carros da BYD e da GWM estão mesmpo muito baratos? O Guia do Carro fez uma pesquisa nos sites oficiais das montadoras chinesas e depois, convertendo os valores para real, revela que os preços poderiam ser ainda mais baixos.
A informação do pedido de averiguação de dumping foi dada esta semana no Estadão em reportagem de Cleide Silva. Em outra reportagem, no site AutoIndústria, a jornalista Alzira Rodrigues ouviu a BYD e a GWM, que negaram a prática de dumping.
“Negamos categoricamente qualquer prática de dumping na venda de nossos veículos no Brasil. Nosso foco está em oferecer produtos de qualidade e sustentáveis, alinhados às normas de mercado e legislações vigentes”, disse a BYD.
“A GWM informa que vê a ação [da Anfavea] com tranquilidade, pois segue estritamente as regras internacionais e a legislação brasileira para comércio exterior. Além disso, a empresa está aumentando o ritmo de contratações no Brasil visando ao início de produção dos seus primeiros carros eletrificados na fábrica de Iracemápolis, SP, prevista para o primeiro semestre deste ano”, respondeu a GWM.
Mas, e os preços? Segundo apuração do Guia do Carro sobre os preços na China, um BYD Song Plus, que custa de 112.800 yuans a 142.800 yuans (R$ 91.402 a R$ 115.711 na conversão da moeda) é vendido no Brasil com preços entre R$ 244.800 e R$ 299.800 (mais do que o dobro da conversão direta).
No caso da GWM, um Haval H6, que é vendido na China por 117.900 yuans e 121.900 yuans (R$ 95.534 e R$ 98.776 na conversão da moeda), também é vendido no Brasil por valores que vão de R$ 219.000 a R$ 324.000, também muito acima da conversão direta.
Segundo o site PlatoBR, em reportagem assinada por Guilherme Amado, “a decisão da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) de avaliar a abertura de um processo de antidumping contra montadoras chinesas teve como origem uma iniciativa da Stellantis, montadora, que fabrica marcas como Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot”.
Em nota assinada pelo presidente Márcio de Lima Leite, a entidade limita-se a falar sobre estudos de mercado em andamento, com o seguinte complemento: “A Anfavea defende a livre concorrência e a prevenção de práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro, zelando pelos clientes, empregados, concessionários, fabricantes e indústria de autopeças”.
Duas fontes do setor disseram ao Guia do Carro que o objetivo real do pedido de averiguação de dumping é impressionar o governo e os membros do CAT (Comitê de Alterações Tarifárias) e da Camex (Câmera de Comércio Exterior) na reunião desta semana, que poderia adiantar o aumento do imposto de importação.