Avaliação: Fiat Titano tem suspensão dura e vocação para a terra
Já dirigimos a picape Titano Ranch AT, que é robusta na terra e tem ajuste de picape raiz, sem muito conforto para rodar no asfalto
Depois desenvolver a nova picape Titano em provas que equivalem a 2 milhões de km rodados, a engenharia da Fiat decidiu por um ajuste robusto e pouco confortável para sua caminhonete anti-Hilux. O tempo e o mercado dirão se a vocação para a terra foi uma boa escolha.
O Fiat Titano tem a suspensão dianteira muito dura e isso ficou facilmente perceptível já nos primeiros metros de nosso test-drive nas estradas da Chapada dos Guimarães, MT. Sem dúvida, a Titano é uma picape "raiz". Veja aqui as diferenças entre as três versões.
Picape "raiz" significa: dura, barulhenta, robusta e desconfortável no asfalto. A razão disso está na suspensão dianteira, que recebeu molas muito rígidas. Quem dirige picapes tradicionais, como Toyota Hilux, Mitsubishi L200 e Chevrolet S10, não vai estranhar. Mas, para quem sai de um Fiat Toro, por exemplo, é um outro mundo.
Nosso test-drive teve duração de duas horas, dois trechos de asfalto e dois longos trechos de terra. No total foram quase 100 km. A terra e o off-road, sem dúvida, são o habitat natural do Fiat Titano. A versão avaliada foi a topo de linha, Ranch 2.2 Turbo Diesel AT6 4x4, que custa R$ 259.990.
Como toda picape de carroceria sobre chassi, o Fiat Titano tem bastante oscilação vertical na suspensão traseira. Até aí tudo bem. O enigma fica para a suspensão dianteira muito dura, que se mostrou muito melhor na terra, especialmente em velocidades moderadas. Andando mais forte, um bom motorista vai perceber um ligeiro atraso também no controle de tração.
Na verdade, são coisas simples de corrigir. E talvez nem seja necessário, dependendo do público que o Fiat Titano atingir. Mas, para quem sai de um Fiat Toro, que tem carroceria monobloco e comportamento de SUV moderno, talvez as picapes Nissan Frontier e Ford Ranger causem menos estranheza.
Perguntamos ao vice-presidente da Fiat, Alexandre Aquino, sobre essa característica da picape Titano. Ele disse que o Titano recebeu esse ajuste de suspensão com o objetivo de ter muita robustez e que sua dirigibilidade é muito parecida com a das picapes líderes da categoria, como Toyota Hilux e Chevrolet S10.
Nos trechos de terra a inédita picape Titano tem um comportamento muito parecido com o da L200, da Mitsubishi. É fato que a Fiat pretende buscar no Centro-Oeste – onde há muitas estradas de terra – os primeiros clientes do Titano. Com o objetivo de vender 12 mil unidades no ano, cada uma das 520 concessionárias da Fiat tem que vender duas picapes, na média.
A posição de dirigir é excelente e a vida a bordo da cabine dupla é agradável. O display central de 10” está bem localizado, no alto do painel, com fácil leitura. Da mesma forma, o quadro de instrumentos tem boa visualização, embora o conta-giros com o ponteiro subindo em sentido contrário ao do velocímetro não seja do nosso agradado. É um detalhe a mais para a mente do motorista processar.
Os bancos são confortáveis. Há muitos botões para os principais ajustes – e isso é muito bom. Pelo menos nesse primeiro momento, a Fiat foi cautelosa no uso de alguns comandos táteis, que têm sido exagerados em alguns modelos da concorrência. Os botões do console central, com teclas tipo piano, mostram claramente que a origem do carro foi o Peugeot Landtrek.
Na verdade, a origem pré-Landtrek é da chinesa Changan, que criou a picape. Mas a Stellantis tomou conta do projeto e fez aprimoramentos. Em termos de suspensão, a picape lembra as asiáticas. Mas, em outros aspectos, ficou com a cara da Fiat.
A Stellantis América Latina se tornou líder global do projeto, que já foi lançado na Argélia como Fiat Titano e pode chegar na Argentina como Peugeot Landtrek ou Fiat Titano mesmo (pelo menos oficialmente, não foi decidido ainda, mas jornalistas argentinos foram convidados para o lançamento na Chapada dos Guimarães).
Entre os botões disponíveis no console central, um deles é o de mudança da tração, que pode ser 4x2, 4x4 ou 4x4 Low (reduzida). O câmbio automático é de 6 marchas. A potência de 180 cv definitivamente foi uma surpresa. Esperávamos um desempenho mais modesto, mas a picape andou bem, especialmente pelo torque de 400 Nm a 2.000 rpm.
Ainda não dirigimos a versão manual, que tem torque menor (370 Nm) e câmbio manual de 6 marchas. Dentro do nicho de picapes 4x4 automáticas, o Fiat Titano chegou bem competitivo. O preço sugerido é R$ 32,2 mil inferior ao do Toyota Hilux.
Apesar das características semelhantes, é difícil que a Fiat consiga roubar clientes da Toyota, cuja clientela costuma ser muito fiel. Mas não é impossível, por isso a Engenharia, a pedido do Marketing, fez uma picape dura e robusta. Muitos fazendeiros compram uma Hilux para uso pessoal e compram picapes mais baratas para seus funcionários usarem no trabalho. É a chance da Fiat.
Na disputa pelo público das picapes manuais, o Titano já provocou uma reação, pois a Frontier Attack, da Nissan, teve seu preço reduzido no último fim de semana. No valor sugerido pelas duas montadoras, a picape da Fiat custa R$ 24,6 mil a menos do que a da Nissan. A chegada da Fiat mostra que haverá uma guerra de preços na categoria.
O acabamento do Titano Ranch, que dirigimos no Mato Grosso, mescla algumas soluções de luxo, como os bancos de couro, e outras muito comuns na categoria, como a parte superior do painel em plástico duro. O bom gosto e a beleza da picape da Fiat é incontestável; foi um trabalho primoroso do Design da Stellantis América do Sul.
Nas conversas com os jornalistas durante o lançamento, os executivos da Fiat disseram que o Titano pode ter 50% de suas vendas vindas de clientes do Toro. Aí é que mora o perigo. O Fiat Toro é quase um automóvel, devido à sua forma construtiva, que é de carroceria monobloco. O Fiat Titano, por ter carroceria sobre chassi, está mais para um caminhão.
Clientes do Fiat Toro, portanto, vão estranhar a dirigibilidade do Fiat Titano na cidade e nas estradas de asfalto. Vai ser preciso uma boa conversa para deixar claro que essas duas picapes são de mundos diferentes. Vai sair de uma picape de comportamento dócil para uma que tem vibrações no volante de direção, mas de custo-benefício excelente.
Conclusão
- Nota: 8.0
- Conceito: muito bom
- Veredicto: ótimo custo-benefício
Dados técnicos
Versão: Fiat Titano Ranch
Preço: R$ 259.990
Motor: 4 cilindros 2.2 Turbo Diesel
Cilindrada: 2179 cm³
Potência: 180 cv a 3.750 rpm
Torque: 400 Nm a 2.000 rpm
Câmbio: 6 marchas AT
Tração: 4x2, 4x4 e 4x4 Low
Freios: disco ventilado (d) e tambor (t)
Suspensão dianteira: independente, com quatro braços oscilantes
Suspensão traseira: eixo rígido e feixe de molas
Direção: hidráulica
Diâmetro de curva: 14,0 m
Pneus: 265/60 R18
Peso: 2.150 kg
Capacidade de carga: 1.020 kg
Capacidade de reboque: n/d
Dimensões: 5.330 / 1.963 / 1.858 mm (c/l/a)
Entre-eixos: 3.180 mm
Altura mínima do solo: 235 mm
Ângulo de entrada: 29°
Ângulo de saída: 27º
Tanque: 80 litros
Dimensões da caçamba: 1.630 / 1.600 / 516 mm (c/l/a)
Volume útil da caçamba: 1.109 litros
0 a 100 km/h: 12s4
Velocidade máxima: 175 km/h
KML cidade: 8,5
KML estrada: 9,2
Alcance: 736 km
Emissão de CO2: n/d