Avaliação: VW ID. Buzz é ótimo e vai além de uma Kombi elétrica
Oferecido no Brasil apenas por assinatura, Volkswagen ID. Buzz é um monovolume elétrico cativante, confortável e muito versátil
O Volkswagen ID. Buzz é um monovolume de fato, ou seja, não tem uma parte frontal saliente, muito menos a parte traseira. Nesse ponto, o ID. Buzz também pode ser classificado como minivan, como era a saudosa Kombi, da Volkswagen. Não por outro motivo, a VW do Brasil chama o ID. Buzz de Kombi elétrica.
Rodamos uma semana com a Kombi elétrica e, acredite, você acaba mesmo chamando o carro de Kombi durante a convivência. Para a Volkswagen da Alemanha, entretanto, “kombi” são as peruas da linha. Mas deixemos isso para lá. Afinal, a Kombi elétrica é boa mesmo? Tem alguma coisa da Kombi original?
Sim. Tem o design que lembra um “pão de forma”, que desafia a lógica mas é apaixonante, bastante espaço interno, motor traseiro e até tração traseira. Entretanto, a cabine agora carrega apenas 5 passageiros (na versão trazida para o Brasil), pois a ideia da Volkswagen foi entregar o máximo em espaço. Assim, o porta-malas é gigante e tem incríveis 1.121 litros de capacidade.
Na frente ou atrás, o Volkswagen ID. Buzz oferece uma vida a bordo agradável. Os bancos traseiros reclinam e há duas mesinhas no encosto dos bancos da frente para acomodar um tablet ou um copo de bebida. As duas portas traseiras são deslizantes e têm uma entrada USB-C embutida. As portas podem ser abertas ou fechadas também por dois botões na parte inferior do painel dianteiro.
O porta-malas tem um piso elevado para ficar na altura do banco traseiro, quando ele for rebatido (e, nesse caso, o volume de carga sobe para 2.123 litros). Na parte de baixo fica o cabo do carregador. Não há estepe. Escondido, sobre o eixo traseiro, fica o motor elétrico de 170 kW de potência (204 cv) e 310 Nm de torque.
É uma boa potência, capaz de acelerar a Kombi elétrica, de 0 a 100, em 10,5 segundos. Bem, não é um foguete, apesar do torque imediato, mas é muito mais rápido do que os 16,1 segundos da Kombi 2014 com motor 1.4 flex. Também muito mais seguro, o ID. Buzz chega a 145 km/h (contra 130 da Kombi 2014).
Gostamos do alcance oferecido pela bateria de 77 kWh disponíveis (82 kWh brutos), por permite rodar uns 360 km, dirigindo normalmente. Pelo PBEV do Inmetro, o alcance é de 337 km. Pelo WLTP o alcance é de 404 ou 423 km (dependendo da utilização). Também é ótima a potência de carregamento: 170 kW em DC (carregador rápido) e 11 kW em AC (carregador lento).
Portanto, num carregador AC de 11 kW dá para carregar 100% em 7h30min. Num carregador DC de 170 kW dá para chegar a 80% da carga em 38 min. O problema é que no Brasil são raríssimos os carregadores com essa potência. Durante nossa avaliação, só tivemos a disponibilidade de um carregador Volvo AC de 11 kW com o custo de R$ 4 por kWh + R$ 2,50 pelo uso.
A sensação ao volante do ID. Buzz lembra um pouco a da Kombi porque o motorista fica numa posição elevada e o carro não tem um longo capô antes do parabrisa. Mas, claro, na Kombi original o volante era bem horizontal e ficava à frente do eixo dianteiro. É quase incomparável, portanto, mas lembra um pouco, sim, especialmente nas manobras ou em curvas bem fechadas.
A suspensão não é muito mole; e a Volkswagen deve ter feito isso para deixar o carro com boa estabilidade, afinal o centro de gravidade é alto. O ID. Buzz mede 4,717 m de comprimento e tem 1,927 m de altura. A antiga Kombi era menor e mais alta: 4,505 m e 2,040 m, respectivamente. A Kombi elétrica tem 160 mm de vão livre; a velha Kombi tinha 200 mm – o que mostra como a proposta mudou.
Além de ser mais comprida e mais baixa, a Kombi elétrica é bem mais larga: 1,985 m contra 1,720 m. Isso significa uma carroceria muito mais estável nas curvas, inclusive porque os pneus também são bem mais largos: 235/50 no ID. Buzz e 185/80 R14 na Kombi 2014.
Não seria mal se a Volkswagen optasse por pneus com perfil mais alto, pois ajudaria no conforto e evitaria algumas batidas secas quando o ID. Buzz passa por algumas irregularidades no piso. Para encerrar as comparações de tamanho, a Kombi elétrica tem 2,989 m de distância entre-eixos e a Kombi 2014 tinha 2,400 m.
Levei minha família para viajar 100 km com o ID. Buzz e todos adoraram. Já pediram para fazer uma viagem longa, pois a minivan elétrica é muito confortável em termos de espaço e conveniência. Gostei da ideia.
Dirigir o Volkswagen ID. Buzz também é agradável. A posição ao volante é boa e o pequeno painel digital tem as informações importantes bem visíveis, ou seja, velocidade, porcentagem da bateria e autonomia disponível. Ainda é possível mudar o visor para colocar as instruções do navegador Waze ou Google Maps, caso o motorista queira.
O display central tem um bom tamanho, mas fica um pouco distante do motorista. A minivan elétrica tem conexão com Android Auto e Apple CarPlay, mas não é muito intuitiva e não conecta imediatamente depois da primeira utilização. Até alguns carros populares da Fiat são melhores nesse aspecto da multimídia.
Houve uma ocasião que foi uma verdadeira epopeia descobrir como ligar o ar-condicionado. Claro, não há botões, pois a indústria automotiva tenta economizar ao máximo em tudo. Isso faz com que alguns comandos do VW ID. Buzz não sejam muito bons. Os controles dos faróis, por exemplo, são táteis. É preciso se acostumar com a utilização, o que não foi possível em apenas uma semana.
Mas a Volkswagen não economizou em tecnologia. Os faróis são IQ. Light Matrix. O sistema IQ. Drive traz as principais funções de segurança, como piloto automático adaptativo, front assist e assistente traseiro de saída de vaga. Para quem tem dificuldades de estacionar um monovolume de quase 5 metros, o ID. Buzz oferece o Park Assist Plus.
A bem da verdade, a Kombi elétrica é uma linda homenagem a um dos automóveis mais icônicos de sua história. Principalmente no Brasil, a Kombi resistiu ao tempo e, muito mais do que ser considerada velha e ultrapassada, acabou sendo vista como um ícone. Em seus últimos tempos a Kombi era um bom veículo para transporte urbano.
Em sua história, entretanto, a Kombi foi um símbolo de liberdade. Era possível viajar com a família ou com os amigos em número de 9 pessoas a bordo. Dava para levar uma banda ou um time inteiro de futebol, pois a Kombi carregava tranquilamente 11 jogadores.
O mundo mudou e o ID. Buzz não consegue oferecer tudo que a velha Kombi oferecia, principalmente nesta versão de apenas 5 lugares. Mas, em outros aspectos, vai muito além do que um dia foi a Kombi. Só o fato de ser exclusivamente elétrica já torna essa minivan um ícone dos novos tempos da Volkswagen. Talvez hoje seja mais um carro colecionável, ou um luxo para pessoas muito ricas, para além de sua aplicação na Alemanha para transporte de passageiros e cargas.
Por isso, o pior da Kombi elétrica é o fato de não poder ser comprada no Brasil. Pelo menos por enquanto, só é possível assinar, pagando mensalmente um valor que começa em R$ 12.999 por 24 meses. Depois disso? Entrega o carro para a Volkswagen e faz uma assinatura de outro carro, mas ele não será de quem colocou pelo menos R$ 311.976 para poder usá-lo durante dois anos.
O sistema de carro por assinatura talvez seja o futuro e funciona bem para carros mais acessíveis, pois as pessoas vão dar mais valor à experiência do que à posse. Mas, por ora, oferecê-lo no ID. Buzz parece ter sido uma aposta por demais ousada, pois a Volkswagen só conseguiu vender 19 assinaturas em todo o ano passado.
Eu não sou o target da Volkswagen, mas como jornalista especializado do setor automotivo posso responder. Se eu compraria uma Kombi elétrica? Sim. Se eu assinaria? Não. Mas acredito que o fabricante vai mudar isso quando houver maior oferta na produção do ID. Buzz, deixando-o mais inclusivo, como era a velha Kombi.
