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Brasil ou Argentina: quem perde mais sem os carros um do outro?

Se houver um rompimento das relações comerciais entre Brasil e Argentina, qual indústria automotiva perde mais? Veja dados e análise

10 jul 2024 - 16h55
(atualizado às 17h22)
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Brasil produz Hyundai HB20S e Chevrolet S10; Argentina produz Fiat Cronos e Toyota Hilux
Brasil produz Hyundai HB20S e Chevrolet S10; Argentina produz Fiat Cronos e Toyota Hilux
Foto: Divulgação / Guia do Carro

Brasil e Argentina têm uma robusta relação comercial no setor automotivo. O comércio entre os dois países é livre de impostos, o que tornou o mercado argentino o maior destino das exportações brasileiras, que está em queda. Mas o presidente da Argentina, Javier Milei, boicotou a última reunião do Mercosul, o que levantou uma dúvida: e se houver um rompimento do acordo comercial, quem perde mais?

Fizemos essa pergunta para dois consultores automotivos e não é tão simples apontar quem perde mais, apesar de o mercado argentino contar com muitos carros brasileiros. Por isso, é importante em primeiro lugar analisar os números para entender o fluxo de carros entre o Brasil e a Argentina.

Segundo a Bright Consulting, o Brasil produz localmente mais de 80% dos veículos que comercializa dentro do país. Em 2023 foi 85,5% com um total de 1,864 milhão de carros “nacionais”. Da Argentina vieram apenas 8,9% ou 195 mil veículos.

Portanto, a ausência de carros argentinos não seria motivo para a falta de veículos no mercado brasileiro, pois a China já deve se aproximar muito do volume da Argentina este ano, segundo previsão da Bright, que foi compartilhada com o Guia do Carro pelo consultor Cassio Pagliarini.

Origem dos carros comercializados no Brasil de 2021 a 2024
Origem dos carros comercializados no Brasil de 2021 a 2024
Foto: Bright Consulting / Guia do Carro

Ainda segundo os estudos da Bright Consulting, a Argentina é muito mais dependente dos carros brasileiros. Em 2023 o mercado argentino absorveu 158 mil veículos brasileiros, o que equivale a 37,2% das vendas internas. Os carros produzidos localmente somaram 241 mil unidades ou 56,8%. Para este ano, a projeção é que a diferença entre carros argentinos e brasileiros no país governado por Milei caia para 27 mil unidades.

Fechamento de fábricas

“A presença de veículos brasileiros no mercado argentino é muito maior do que veículos argentinos no mercado brasileiro. Por outro lado, a maioria dos veículos argentinos é de utilitários: Hilux, SW4, Ranger, Frontier, Amarok”, observa Cassio Pagliarini, consultor da Bright. “Haveria alguma substituição por carros produzidos localmente. Acredito em 40-50%.”

É um ponto importante. Sem as picapes argentinas, o Brasil teria apenas o Chevrolet S10 e o Mitsubishi L200 como modelos “nacionais” e ainda poderia importar sem imposto o Fiat Titano do Uruguai. Modelos como Toyota Hilux e Ford Ranger, entretanto, poderiam ficar bem mais caros.

Em compensação, a Argentina não conseguiria absorver tantas picapes, mas teria que aumentar a produção de modelos como Peugeot 208 (hatch), Fiat Cronos (sedan), Chevrolet Tracker e Peugeot 2008 (SUVs) para atender os clientes que ficarem sem os demais carros brasileiros.

Origem dos carros comercializados na Argentina de 2021 a 2024
Origem dos carros comercializados na Argentina de 2021 a 2024
Foto: Bright Consulting / Guia do Carro

“O Brasil perde claramente mais em relação aos produtos (Toyota, Nissan, Ford, Volkswagen), mas também tem capacidade superior para absorver esta produção no curto/médio prazos, além de se recompor com outros produtos”, comenta Milad Kalume Neto, consultor automotivo.

Mas isso não é tudo. “Já quanto ao mercado a Argentina sai perdendo de lavada”, observa Milad. “Com um mercado tradicionalmente 1/3 do brasileiro e ultimamente ainda pior, não teria como escoar sua produção, muito maior que sua demanda.” E acrescenta: “Seria um grande problema com risco de fechamento de fábricas.”

Milei e o Brasil “comunista”

Seguramente esse é um dos motivos pelos quais as bravatas de Javier Milei (de que não negociaria com o Brasil por ter um governo “comunista”) nunca chegam às vias de fato. Recentemente, Milei trocou um encontro oficial do Mercosul, com os presidentes dos países membros, para participar de um evento da extrema direita organizado por Jair Bolsonaro em Santa Catarina.

Não existe qualquer relação entre os presidentes Milei e Lula, que se sentiu ofendido pelo colega argentino por falas durante a campanha e após a posse. Mas, segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, não existe chance real de um rompimento de relações, embora a Argentina queira liberdade para fazer acordos bilaterais fora do Mercosul, atendendo primeiramente aos seus interesses.

Apesar da escolha de Milei, Alckmin afirmou que o comércio entre Brasil e Argentina não é atingido por essa decisão do presidente. “Não afeta. São relações de Estado. O mau gosto do Milei é assunto dele. Temos que fortalecer as relações de Estado”, afirmou Alckmin à CNN.

Queda de aceitação dos carros brasileiros em seus maiores mercados
Queda de aceitação dos carros brasileiros em seus maiores mercados
Foto: VW / Guia do Carro

De qualquer forma, segundo Milad Kalume Neto, “no caso do rompimento da Argentina com o Mercosul, a Argentina seria tratada pelo Brasil como qualquer outro país, se sujeitando, neste caso, às tarifas previstas para fins de importação de veículos”. 

“A única exceção seria o estabelecimento de acordos específicos entre os dois países para fins específicos a serem tratados por estes acordos”, diz Milad. “Aliás, algo que o Brasil é muito atrasado”, completa.

E as montadoras, como ficam?

Um cenário no qual as picapes Toyota Hilux, Ford Ranger, Nissan Frontier e Volkswagen Amarok tenham que pagar imposto de importação de 35% inviabilizaria esses modelos no mercado brasileiro. E abriria uma enorme oportunidade para GM, Mitsubishi e Stellantis, que ganhariam espaço gigantesco para as picapes Chevrolet S10, Mitsubishi L200 e Fiat Titano.

O Fiat Cronos não faria falta ao Brasil, pois seu mercado seria coberto por carros como Chevrolet Onix Plus, Hyundai HB20S e Volkswagen Virtus. O Volkswagen Taos também não, pois há muita oferta em sua categoria, como Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e Caoa Chery Tiggo 7.

A dupla da Peugeot, 208 (hatch) e 2008 (SUV), também seriam facilmente cobertos pelos outros modelos à venda no Brasil, inclusive da própria Stellantis com os modelos Citroën C3 e Fiat Argo (hatches), Jeep Renegade e Citroën C4 Cactus (SUVs).

Em termos de exportação, entretanto, seria péssimo para os dois países. No caso da Argentina, até com fechamento de fábricas, como foi dito acima. No caso do Brasil, se a Anfavea já reclama do volume atual, que tem na Argentina seu principal mercado com mais de 150 mil carros, imagina sem as compras do país vizinho.

Guia do Carro
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