Carros elétricos de entrada começam a incomodar Anfavea
Três modelos elétricos fabricados na China somaram quase 2.000 unidades, que foram vendidas sem imposto de importação
Três carros elétricos de entrada fabricados na China aproveitaram o imposto de importação zero para marcar presença no mercado brasileiro em 2022: Chery EQ1, JAC E-JS1 e Renault Kwid E-Tech. Juntos, os três venderam 1.989 unidades no Brasil, segundo ranking enviado ao Guia do Carro pela Bright Consulting.
Em 1º lugar ficou o Volvo XC40 com 1.771 vendas. Os três chineses de entrada ficaram em 2º, 3º e 4º lugares. O Chery EQ1 é vendido no Brasil como Caoa Chery iCar. Por enquanto, as vendas são em baixo volume, mas o fato começa a incomodar a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
Em uma entrevista coletiva na tarde desta sexta, 6, o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, disse que as montadoras precisam saber “até quando vai a alíquota zero”. A Anfavea monitora o volume para que os fabricantes estabelecidos no Brasil não sejam prejudicados. "Queremos previsibilidade”, disse.
“Quando você tem uma regra aberta, pode colocar no mercado veículos que estão comercializados na China a 5 mil dólares”, disse Lima Leite. “Se for baixo volume, ótimo.” Se as vendas desses carros começarem a crescer muito, entretanto, a Anfavea deixará de enxergar a operação como uma abertura de mercado, passando a vê-la como concorrência desigual.
Renault e Caoa Chery são associadas da Anfavea. JAC Motors, não. Futuramente, é possível que a BYD (que não é associada) também se aproveite da situação para vender carros elétricos de entrada sem imposto de importação. Recentemente, o Renault Kwid E-Tech ganhou o Prêmio Trend Car 2023 na categoria Mobilidade Elétrica.
“A alíquota zero não viabiliza a produção local e não vai viabilizar nunca”, disse Márcio de Lima Leite. “A gente pede que esses carros tenham igualdade de condições com a indústria nacional, caso contrário estaremos subsidiando carros importados.” Para a Bright Consulting, o Brasil dá um tiro no pé ao zerar o imposto de importação dos carros elétricos.
Na China, a compra de veículos elétricos é incentivada com uma redução de 5% no imposto (era de 10% e caiu para 5%). Nos Estados Unidos, há um incentivo de 7.500 dólares. Na Europa, o incentivo é de 7.000 euros.
A Bright Consulting tem divulgado o ranking mensal dos veículos eletrificados e, especialmente no caso dos 100% elétricos, identificou que a oferta não é linear. Se fosse, o trio de chineses Caoa Chery iCar, JAC E-JS1 e Renault Kwid E-Tech poderia estar vendendo muito mais – e essa é uma expectativa para 2023.
A venda mais estável é a dos modelos da Volvo. O XC40 emplacou 309 unidades em dezembro e terminou o ano como o carro elétrico mais vendido no país. Veja abaixo o ranking da Bright Consulting.
CARROS ELÉTRICOS +VENDIDOS - 2022
1º VOLVO XC40 - 1.771
2º CAOA CHERY iCAR - 785
3º JAC E-JS1 - 609
4º RENAULT KWID E-TECH - 595
5º VOLVO C40 - 584
6º AUDI E-TRON - 425
7º RENAULT KANGOO FURGÃO - 400
8º MINI COOPER S E - 384
9º NISSAN LEAF - 347
10º CITROËN E-JUMPY FURGÃO - 244
Márcio de Lima Leite disse também que algumas fábricas brasileiras estão se adaptando rapidamente para a eletrificação. “Há sim fábricas que estão sendo preparadas para produção imediata de carros elétricos, em 2023 ou 2024”, disse.
O presidente da Anfavea revelou que teve a confirmação de que ainda este ano uma montadora começará a fabricar no Brasil um veículo híbrido plug-in. Ele não disse qual é.