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CEO da Honda tem dificuldades para explicar fusão com a Nissan

Toshihiro Mibe, chefão global da Honda, lutou para encontrar as palavras certas e mesmo assim não convenceu grande parte do setor

30 dez 2024 - 11h00
(atualizado em 31/12/2024 às 09h43)
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Acura Performance EV: conceito apresentado pela Honda nos EUA
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Foto: Honda / Guia do Carro

O CEO global da Honda, Toshihiro Mibe, provocou risadas numa plateia de jornalistas ao tentar explicar por que a empresa está fazendo uma fusão com a Nissan, sua tradicional rival no Japão.

Questionado sobre o que torna a Nissan uma forte parceira de negócios, Mibe lutou para encontrar as palavras certas: “Essa é difícil”, disse. Mas, após algumas risadas, o CEO da Honda observou que a rápida ascensão dos veículos elétricos na China e em partes da Europa, bem como o ressurgimento da popularidade dos híbridos, está levando marcas tradicionais a se unirem.

A resposta da Honda, entretanto, não convenceu totalmente analistas do setor. É o que mostra uma reportagem da Bloomberg, assinada por Nicholas Takahashi e Chester Dawson. Para Neal Ganguli, da consultora AlixPartners, “a escala definitivamente tem vantagens”. 

Toshihiro Mibe, CEO global da Honda: dificuldades para explicar a fusão
Toshihiro Mibe, CEO global da Honda: dificuldades para explicar a fusão
Foto: Honda / Guia do Carro

Ele também lembrou que Honda e Nissan “estão atrasadas em EVs e são muito complementares em relação à ameaça da China”. O atraso é um fato. A Nissan desperdiçou a liderança construída com o pioneirismo do Leaf, primeiro carro elétrico desenvolvido em 2010, que vendeu mais de meio milhão de unidades.

Hoje o Nissan Leaf ficou defasado e a força da Nissan no segmento resume-se ao Sakura, um Key Car que lidera as vendas gerais no Japão. Mas, em mercados como o Brasil, os Estados Unidos e a própria China, o Nissan Sakura não faria sucesso. 

Também é fato que Makoto Uchida, CEO da Nissan, traçou planos para expandir a linha de EVs da empresa usando, em parte, ajuda da Honda. Toshihiro Mibe considera que a Nissan ainda é forte em muitas partes do Sudeste Asiático, mas que a recuperação da Nissan é um pré-requisito para a fusão.

A questão é: haverá tempo para se recuperar em apenas seis meses, que foi o prazo estipulado pelas duas empresas para a fusão? Analistas também consideram que o apoio de bastidores do governo japonês no negócio aumenta a incerteza. Um negócio dessa magnitude, segundo Ganguli, leva de três a cinco anos para apresentar resultados.

O problema é que a Honda e Nissan tem mais sobreposição do que negócios complementares. A Honda é quase “virgem” no segmento de carros elétricos. Recentemente, apresentou um protótipo do Acura Performance EV nos Estados Unidos, mas o único que tem lançamento confirmado é o Honda Prelude Hybrid.

Nissan Sakura: keycar elétrico é o mais vendido do Japão
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Foto: Nissan / Guia do Carro

Para Julie Boote, da empresa de pesquisa Pelham Smithers Associates, a Honda tem médio porte e, portanto, “precisa trabalhar com outra empresa”. Porém, não com a Nissan: “Idealmente, seria uma empresa saudável e financeiramente sólida, em vez da Nissan”. 

James Hong, da Macquarie Securities Korea, disse à Bloomberg que a fusão de problemas pode apenas piorar as coisas. “Tanto a Honda quanto a Nissan têm problemas significativos de excesso de capacidade na China, o que requer otimização antes que qualquer negociação de fusão possa progredir”.

Ganguli também observa ao Bloomberg que há “muito mais sobreposição do que negócios complementares”. Segundo ele, para ter vantagens competitivas, “você precisa ter sobreposição para ter sinergias, mas também precisa de operações complementares”. Não parece que seja o caso, na visão de muitos analistas.

Honda Prelude Hybrid: força da marca está nos híbridos
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Foto: Honda / Guia do Carro

Embora seja pouco citada, a Mitsubishi também fará parte do negócio, contribuindo com carros híbridos (que as outras duas já têm) e SUVs, que são muito populares em mercados emergentes, como o Brasil. 

Ex-CEO da Nissan, Carlos Ghosn, criticou a possibilidade de fusão. “Na minha opinião, é uma jogada desesperada”, disse Ghosn. “Não é um acordo pragmático porque, francamente, as sinergias entre as duas empresas são difíceis de encontrar. Não há praticamente nenhuma [característica] complementar entre as duas empresas. Elas estão nos mesmos mercados. Elas têm os mesmos produtos. As marcas são muito, muito semelhantes.”

Como se vê, não foi por pouco motivo que Toshihiro Mibe teve dificuldades para explicar a fusão aos jornalistas.

Guia do Carro
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