Como a chinesa Leapmotor pode afetar futuro da Fiat e da Jeep
Stellantis dá um passo importante na eletrificação ao trazer os carros elétricos chineses para o sul do mundo; entenda o que está em jogo
Se dependesse da convicção de Carlos Tavares, CEO global da Stellantis, os carros elétricos passariam bem longe do Brasil. Para a Stellantis, seria bom se a Fiat, a Jeep, a Citroën, a Peugeot e a Ram investissem apenas no potencial de descarbonização do etanol combustível, deixando os BEVs para o norte do mundo.
Mas faltou combinar com a BYD e a GWM. Por isso, já que não consegue derrotar a indústria automotiva chinesa, Tavares se uniu a ela. E mais: vai usar a expertise da chinesa Leapmotor – adquirida recentemente – para derrotá-la em seu próprio palco de guerra, o mercado de BEVs (Veículos Elétricos a Bateria).
Pela primeira vez nos últimos anos, Carlos Tavares falou com garra sobre a perspeciva de brigar com as marcas chinesas fazendo carros elétricos competitivos com modelos tradicionais da Fiat, Citroën, Peugeot, Jeep etc.
"Seremos desafiados, e eu diria, brutalmente desafiados pela ofensiva chinesa no mercado europeu, mas na Stellantis estamos prontos para a luta", disse Tavares na inauguração da fábrica da Leapmotor na Sérvia.
Dois carros da Leapmotor são o ponto de partida dessa pretensa virada: o subcompacto Leap T03 (categoria A) e o SUV grande Leap C10 (categoria D). Mas haverá outros. Em 2025 chegará um SUV médio do porte do Jeep Compass (categoria C). Em 2026, virão um hatch médio do porte do Peugeot 308 (categoria C) e um hatch compacto do porte do Fiat Argo (categoria B). Em 2027 será lançado um SUV compacto do porte do Jeep Renegade (categoria B). Todos elétricos.
O T03 e o C10 já estão sendo fabricados na Europa e logo estarão sendo produzidos também na América Latina, ou importados da China, numa primeira fase. Recentemente, o perfil Mentiras Automotivas publicou fotos de um Leap T03 rodando camuflado em testes em Minas Gerais. Jonathan Machado, autor do Mentiras Automotivas, fez até um T03 com logotipo da Fiat.
Emanuele Cappellano, CEO da Stellantis América do Sul, tem a missão de mover as peças (marcas e modelos) no tabuleiro de xadrez (mercado brasileiro) para impedir que a BYD se transforme rapidamente numa marca imbatível no segmento de carros elétricos urbanos.
Por isso, a chegada da Leapmotor ao país afetará o futuro de marcas populares como Fiat, Jeep e Citroën (para citar as três de volume que produzem em fábricas brasileiras). A Leapmotor já tem até um vice-presidente na região: Fernando Varela.
Mas como isso será feito? De acordo com fontes da Stellantis, os futuros carros híbridos e elétricos da Fiat, Jeep e Citroën serão feitos na antiga plataforma e-CMP da Peugeot Citroën. Até aí, tudo bem. Mas, dentro da Stellantis, comenta-se que essa plataforma (também chamada de STLA Smart) não conseguirá reduzir suficientemente os preços dos carros híbridos e elétricos a ponto de torná-los muito competitivos para o mercado brasileiro.
É aí que entra a Leapmotor. Inicialmente, a marca chinesa da Stellantis apenas se soma às marcas europeias e americanas para defender a "pátria" ocidental contra o perigo que vem da China. O Leap T03 pode perfeitamente disputar o mercado de BEVs urbanos com o BYD Dolphin Mini (que será montado na Bahia) e o Renault Kwid E-Tech (importado da China).
Mas a grande cartada dos "generais" Tavares e Cappellano no front dos carros elétricos será quando a máquina de produção e marketing da Stellantis se unir à Leapmotor. Então o céu será o limite.
Enquanto a Fiat se defende com o sistema Bio-Hybrid em seus modelos mais aspiracionais como Pulse, Fastback, Strada e Toro, a Leapmotor monitora e controla o ímpeto da BYD.
Daqui a algum tempo, porém, se quiser e/ou precisar, a Stellantis poderá usar a plataforma elétrica do Leap T03 para criar um Fiat Mobi elétrico, um Citroën C3 elétrico ou até recriar um Fiat 147 elétrico. Nada é impossível. O próprio CEO global da Fiat, Olivier François, já disse que pretende resgatar nomes e modelos icônicos do passado no novo mundo dos carros elétricos.
O Fiat Grande Panda, primeiro modelo dessa nova onda, já começou a ser produzido na Europa. Para o Brasil, entretanto, esse modelo ainda é caro, por isso a chegada da Leapmotor pode resultar numa transferência de tecnologia para as marcas ocidentais, além da expansão de sua própria linha de veículos, como dissemos acima.
"Não duvide da capacidade de improvisação de Betim", disse uma fonte ao Guia do Carro, referindo-se ao QG da Fiat em Minas Gerais e ao seu histórico de lançamentos surpreendentes no mercado brasileiro.