Como a Volks está transformando o Polo no carro nº 1 do Brasil

Estratégia da Volkswagen para o Polo tem táticas de penetração de mercado que começam a incomodar a concorrência

Sergio Quintanilha

18 ago 2024 - 13h41

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Alguns membros da família Volkswagen Polo: GTS, Track, Robust e Highline
Foto: VW / Guia do Carro

Falta pouco, muito pouco, para o Volkswagen Polo ser o carro número 1 do Brasil em vendas. Todos os seus concorrentes diretos já ficaram para trás. Em apenas sete meses, o Polo abriu 19 mil carros de vantagem sobre o Onix Hatch – número impressionante considerando que no ano passado inteiro o VW ficou apenas 9 mil vendas acima do Chevrolet.

No ano anterior (2022), o Polo emplacou apenas 8 mil carros, enquanto o HB20 Hatch fechou a temporada com 96 mil. Hoje o VW tem 20 mil vendas a mais do que o Hyundai. Mas isso não aconteceu por sorte ou acaso. É o resultado de uma estratégia bem montada e realizada com táticas de mercado pontuais e precisas.

A Volkswagen está transformando o Polo no carro número 1 do Brasil em vendas e só tem um obstáculo pela frente: o Fiat Strada. Tradicionalmente, a picape Strada emplaca 120 mil unidades por ano. Era assim anos atrás, quando os hatches vendiam 240 mil, e é assim agora. Virou líder e tricampeã nacional de vendas porque os hatches caíram.

Strada e Polo devem terminar este ano próximos da casa de 120 mil vendas. Porém, a picape já está em seu limite de mercado, enquanto o hatch ainda tem muito potencial para crescer. Antes de seguirmos nessa análise, veja a evolução das vendas de 2022 a 2024, para mais fácil compreensão do que está acontecendo no mercado de carros compactos.

Vendas 2022

1º FIAT STRADA - 112.456

2º HYUNDAI HB20 - 96.255

3º CHEVROLET ONIX - 85.252

6º VOLKSWAGEN GOL - 72.606

9º FIAT ARGO - 64.016

52º VOLKSWAGEN POLO - 8.193

Vendas 2023

1º FIAT STRADA - 120.600

2º VOLKSWAGEN POLO - 111.242

3º CHEVROLET ONIX - 102.043

4º HYUNDAI HB20 - 88.905

8º FIAT ARGO - 66.717

56º VOLKSWAGEN GOL - 6.175

Vendas 2024 até Julho

1º FIAT STRADA - 70.789

2º VOLKSWAGEN POLO - 70.405

3º CHEVROLET ONIX - 51.026

4º HYUNDAI HB20 - 49.924

5º FIAT ARGO - 48.284

Como se nota, a Volkswagen decidiu transformar o Polo no verdadeiro sucessor do Gol ao final de 2022. Essa foi a estratégia. Para tirar um carro do 52º lugar no ranking e colocá-lo em 2º lugar em apenas 12 meses, a Volkswagen usou táticas de penetração de mercado que só agora começam a ter resposta da concorrência. E ela veio da Fiat, com o lançamento do Argo Endurance 1.3 por menos de R$ 80 mil.

Gosto de usar o termo “estratégia” para o objetivo e o termo “tática” para as ações, embora seja comum as pessoas usarem essas palavras para a mesma coisa. Portanto, para cumprir a estratégia de fazer do Polo o carro número 1 do mercado brasileiro, a Volkswagen usou como tática três pilares: 1) melhoria do produto; 2) diversidade de versões; 3) vendas diretas.

O Novo Polo (quase cópia do modelo europeu) e o Polo Track (variação mais barata e exclusiva para o Brasil) chegaram ao mercado praticamente juntos. Enquanto o Novo Polo entregava sofisticação e desempenho, o Polo Track ocupava o espaço deixado vazio pelo Gol, o de “pau para toda obra” do motorista brasileiro.

Para o Novo Polo, o tradicional fabricante alemão instalado em São Bernardo do Campo (SP) manteve uma versão aspiracional e de desempenho superior (Polo GTS 250 TSI 1.4 de 150 cv), mas soube mexer nas versões de entrada para reduzir o consumo de combustível. Abandonou o motor 200 TSI 1.0 de 128 cv e colocou em seu lugar o 170 TSI 1.0 de 116 cv que era do Up. Menos potência e menos torque, porém mais econômico.

Deixou duas versões bem equipadas e automáticas (Comfortline e Highline) e acrescentou uma para PCD (Sense), também turbinada, também automática, mas sem equipamentos ou adereços que encarecem o veículo. Só aqui já temos três públicos diferentes para o Novo Polo.

Há ainda a versão TSI, com o mesmo motor 170 TSI de 116 cv, porém com câmbio manual, além de ter menos equipamentos. Até o conta-giros foi tirado do carro (não precisava chegar a tanto). E na base do Novo Polo, uma versão com motor 1.0 aspirado de 84 cv. Um carro com a carroceria mais moderna, porém sem o requinte técnico e a potência do turbo. Um carro sem mimos ou o primeiro carro de alguém.

Para completar, o Polo Track entra como o carro racional da linha. Tem a silhueta bonita como a do Novo Polo, mas nenhuma versão tem rodas de liga leve, por exemplo. Entretanto, as rodas são bonitas. A Volkswagen caprichou nas calotas pretas sobre aço preto e isso deu ao carro beleza e robustez.

O Polo Track é uma ideia tão boa (por ser o verdadeiro substituto do Gol) que, embora seja o carro do profissional autônomo que roda sem parar, ou do motorista de aplicativo (Uber, 99), ainda permite variações interessantes, como o Polo Rock In Rio (descolado, para o público jovem) e o Polo Robust (mais parrudo, só para vendas diretas).

Novo Volkswagen Polo Track Rock in Rio
Foto: VW/Divulgação

Junto a isso, o Polo Track foi o carro escolhido para “bombar” nas vendas diretas. Com custo de produção mais barato, pode ser lucrativo mesmo com os generosos descontos praticados para as vendas em lote (para locadoras de automóveis ou frotistas de modo geral).

São 9 versões, todas interessantes, todas com um propósito. Nessas 9 versões temos duas silhuetas de carroceria, dois conceitos de produto, três motores (um naturalmente aspirado, dois turbinados), duas transmissões (manual e automática) e uma ampla faixa de preços, que vai de R$ 90 mil a R$ 155 mil. É quase impossível um consumidor não achar o “seu” Polo, tantas são as opções e variações.

Já de olho nisso, a Fiat foi a primeira montadora a reagir. A marca mais popular da Stellantis sabe que o verdadeiro rival do VW Polo nunca foi e nunca será a picape Strada. Seu rival direto é o Fiat Argo. Que tem um enorme potencial, mas por algum motivo acabou sendo “esquecido” pelo fabricante de Betim (MG) por algum tempo.

Por isso, a Fiat acabou de lançar o Argo Endurance, uma versão só para vendas diretas, com motor 1.3 de 107 cavalos. O alvo do Argo Endurance é claramente o Polo Robust – e chegou competitivo, por menos de R$ 80 mil e com mais potência.

Resta saber se a versão Endurance é a primeira tática de uma nova estratégia da Fiat para o Argo – que é ser para o Polo o que o Palio foi para o Gol durante anos (um duríssimo rival) – ou se é apenas um lance isolado (e bem feito). Seja como for, tudo indica que o Volkswagen Polo continuará crescendo. Resta saber qual será a força do Fiat Argo para segurar esse ímpeto.

Preços