Dono do Lamborghini é exemplo de quem julga sucesso pelo carro
OPINIÃO: Ao contrário do que pensa o dono do Lamborghini que ocupou duas vagas num estacionamento, um Gol usado tem o mesmo valor simbólico
A semana ficou quente para um sujeito chamado Suriel, que tem 1 milhão de seguidores no Instagram, diz ensinar as pessoas a ficarem ricas e poderem comprar um Lamborghini como o dele… e quem sabe depois estacionar ocupando duas vagas. Suriel erra não apenas na atitude, mas por achar que o seu carro vale mais do que os outros.
Em termos comerciais, sim, um Lamborghini vale muito mais do que um Chevrolet Tracker, um Fiat Mobi ou um Volkswagen Gol. Mas, simbolicamente, não. O Lambo, na verdade, é um carro inútil para a sociedade. Serve apenas para afagar egos de quem pode comprar um carrão que leva duas pessoas, polui mais do que os outros, consome muito combustível… e ocupa duas vagas, eventualmente, quando seu dono não quer correr o risco de riscar o automóvel.
Carros populares movimentam muito mais a economia do que carrões como o Lamborghini de Suriel. Porque oferecem mobilidade a milhões, dão muito mais empregos, carregam mais pessoas, consomem menos combustível, produzem menos barulho e não fazem com que seus donos se sintam “os reis da cocada preta”.
A indústria automobilística vive de símbolos. Para quem compra um Gol usado, ele é tão aspiracional quanto um Lamborghini zero km. Muitos, na sociedade atual, julgam o sucesso pelo carro que a pessoa tem na garagem, ou no shopping. Mas isso é errado e apenas mostra como nossa sociedade se guia pela lógica do consumo e não pela ética.
O trabalho que levou Suriel a ter um Lamborghini zero km é mais nobre ou mais importante do que o de um varredor de rua ou de uma corretora de imóveis que tem o seu Golzinho usado? Não! Mil vezes não. O trabalho de Suriel serve apenas para ele e, talvez, para 1 milhão de pessoas que o seguem no Instagram.
Mas o trabalho de um professor de verdade, que estuda história, português, matemática, ciências e geografia para dar aulas, este sim modifica o mundo para bilhões de pessoas. Este professor não tem um Lamborghini e, na verdade, este tipo de carro não o atenderia em suas necessidades.
Como jornalista, estou acostumado a dirigir carros de valores exorbitantes e carros de valores populares. Carros caríssimos devem ser celebrados por serem obras-de-arte da engenharia, mas não podem ser usados para o seu dono se sentir superior, no trânsito ou no estacionamento.
Abaixo, a justificativa de Suriel, que “aposta” que as pessoas que o criticam também usariam duas vagas se estivessem no lugar dele. O fato bombou esta semana após ter sido escrachado por Ana Clara, apresentadora da TV Globo.
“Hoje acordei e vi que meu carro tava nos “trending topics” do Twitter com esse post da @anaclaraac 😅
Para quem não entendeu o ocorrido, eu explico:
Estava num shopping famoso do Rio de Janeiro e estacionei a minha Lamborghini em 2 vagas, pois essa época do ano causa muita correria e desatenção e muitos motoristas abrem suas portas com descuido, podendo causar dano no carro ao lado.
Imagina quanto custa um dano numa Lamborghini de 3 milhões de reais 😂
Como vi que não tinham carros ao meu lado, e muitas vagas disponíveis imaginei que não iria incomodar.
Imaginei errado, pelo jeito.
Alguém ficou chateado com isso e resolveu escrever em uma folha de papel: “Sua Lamborghini dá direito a duas vagas?”
Isso me faz perguntar: imagina se a pessoa que gastou tempo e energia para escrever isso, usasse essa mesma disposição para fazer algo de bom, construir um negócio ou ajudar as pessoas. Talvez ao fazer isso algum dia ela possa colocar uma Lambo de 3 milhões no nome dela também (e aposto que quando ela fizer isso também vai estacionar em 2 vagas)”
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