"Efeito Argentina" derruba exportações; governo tenta acordo
A exportação brasileira de veículos caiu 32,7% no primeiro trimestre deste ano, mas associação de fabricante acredita que o pior já passou
A exportação brasileira de veículos caiu 32,7% no primeiro trimestre deste ano, após a restrição de importações pela Argentina, principal parceiro comercial no setor e responsável por receber 75% do total dos automóveis que saem do Brasil montados. A crise no país vizinho, que era minimizada até fevereiro, acendeu um alerta vermelho para as fabricantes nacionais e já mobilizou o governo. Um memorando de entendimento para destravar o comércio bilateral foi assinado no dia 28 e as conversas para concretizar o plano acontecem em até 10 dias.
Em março foram exportados apenas 23 mil carros – quase a metade do número registrado no mesmo mês de 2013. A baixa apenas agrava um balanço ruim para as montadoras no início deste ano, com queda de 2,1% nos licenciamentos e de 8,4% na produção, na comparação com os primeiros três meses do ano passado. Segundo dados da Anfavea, foi o pior trimestre de produção desde 2010. Mesmo assim, os estoques cresceram para 387 mil unidades, o que equivale a 48 dias de vendas, ante 37 dias em fevereiro. O nível de estoque se aproxima dos meses logo após o estouro da crise global de 2008, quando chegou a 56 dias com a intensa restrição de crédito por parte dos bancos.
“Foi um trimestre extremamente complicado para a exportação, como já esperávamos. Basicamente ainda é o efeito da Argentina. Tivemos restrição às importações, mas no último sábado os dois governos assinaram memorando de entendimento para tentar reestabelecer o fluxo de comércio. Isto aponta para um horizonte melhor, não é ainda operacional, mas teremos reuniões com o governo na próxima semana”, afirmou Luiz Moan Yabiku, presidente da Anfavea.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterio (Mdic), o memorando tenta garantir a liquidez nas operações comerciais entre os dois países, já que o peso argentino sofreu uma desvalorização de cerca de 20% em relação ao dólar. Com isso, o governo de Cristina Kirchner restringiu as importações como forma de evitar a saída de divisa americana do país. O acordo também prevê comércio sem restrições de produtos, com exceção de armas, munições e materiais nucleares.
Para Moan, os governos precisam trabalhar para entender que a indústria automotiva dos dois países estão integradas, com fábricas de diversas marcas no Brasil e na Argentina, onde são montados diferentes tipos de automóveis. “Não é um simples comércio de carros. Os países têm uma relação de produção integrada. Foram feitos investimentos tanto aqui, como lá”, explicou. Um exemplo é o Ford Focus, que vem da Argentina.
Segundo Moan, o momento mais crítico já passou e deve haver uma melhor no fluxo comercial a partir de maio. “O que me dá certeza de um bom resultado nessa negocição é justamente a interdependência. Precisamos continuar produzindo e vendendo os veículos montados lá ou aqui”, afirmou.