Ferrari rara de Alain Delon é leiloada por R$ 44,8 milhões
Ferrari 250 GT SWB California Spider era julgada como perdida até setembro do ano passado
Você pagaria R$ 44,8 milhões por um carro velho? Mesmo se ele tivesse ficado mais de 30 anos guardado, o motor não funcionasse e sinais de ferrugem tomassem boa parte da lataria? Foi exatamente isso que fez um comprador de identidade desconhecida, que arrematou uma Ferrari 250 GT SWB California Spider. Somente 37 exemplares do modelo saíram da fábrica da Ferrari, em Maranello (Itália), em 1961.
O carro, que pertenceu ao ator francês Alain Delon, era julgado perdido até setembro do ano passado, quando herdeiros de um excêntrico colecionador francês de raridades automobilísticas procuraram uma empresa especializada para vender 59 veículos raros que literalmente apodreciam em hangares da cidadezinha de Niort (410 km de Paris).
“Foi como encontrar o Santo Graal. Ou uma pintura de um grande mestre que estava perdida”, comparou o especialista em carros raros Antoine Mahe, em entrevista ao Terra. “Senti palpitações quando vi que era uma California Spider, existem menos de dez hoje no mundo”.
Mahe é uma espécie de caçador que corre o mundo atrás de tesouros automobilísticos. Ele era um dos especialistas que avaliou a chamada coleção Baillon, adquirida pela empresa de leilões Artcurial em setembro do ano passado.
Além de marcas famosas como Ferrari, Maseratti, Porsche, Mercedes fabricadas entre 1930 e 1980, a coleção Baillot é pródiga em calhambeques de fabricantes já desaparecidos como Talbot Lago, Bugatti, Delage, Panhard-Levassor, Hispano-Suiza e Delahaye.
Além da Ferrari de Delon, estão à venda outros 59 carros, na tarde desta sexta-feira, em Paris. O evento vem sendo chamada pela imprensa especializada de evento da década no mundo dos carros antigos porque a coleção é tão misteriosa que poucos especialistas sabiam sequer de sua existência.
Belas adormecidas
Roger Baillon foi um empresário francês que começou a fazer fortuna em 1945, reformando e vendendo caminhões abandonados pelos exércitos alemão e americano durante a Segunda Guerra Mundial.
Ele chegou a fabricar carros artesanais, mas fez fortuna ao constituir, a partir dos caminhões que reformava ou construía, uma das maiores transportadoras da França.
Além de entregar mercadorias, seus empregados eram instruídos a sondar nas viagens sobre a existência de carros antigos que ele gostava de colecionar e, assim, discretamente foi montando a sua coleção a partir de 1955.
Baillon mantinha os carros em hangares em sua propriedade em Niort. Não os tirava de lá nem para dar uma volta, não dava manutenção nem os vendia.
Uma das explicações para que os veículos nunca tenham sido devidamente recuperados pode ser a dificuldade financeira que os negócios de Baillon enfrentaram no final dos anos 1970, quando a transportadora faliu. Outros 60 veículos antigos foram incorporados ao patrimônio da empresa e vendidos, mas a coleção atual nunca havia sido encontrada.
Uma pessoa que conheceu os herdeiros de Baillon disse ao Terra, sob condição de não ter a identidade revelada, que o velho Roger tinha prazer em ir até os hangares para contemplar os carros, sozinho, e sentia pavor de que sua coleção fosse descoberta. Os herdeiros só souberam o tamanho exato da coleção remanescente em 2013, após a morte de Baillon.
A coleção
O mundo dos carros antigos está imune à crise que pôs em ponto morto a economia europeia após a crise de 2008. No topo da cadeia alimentar estão milionários europeus, americanos e asiáticos capazes de se desfazer de vários milhões de euros por um carro fora de série, como a California que pertenceu a Alain Delon.
Mas, na base da pirâmide, estão aficionados de classe média que compram um veículo antigo para terem o prazer de recuperá-los eles mesmos durante seus períodos de folga e férioas.
É o caso do corretor de seguros alemão Bernd Schimidt, 49. Morador de Frankfurt, viajou a Paris para ver a exposição antes da venda. Ele paquerava em um dos carros menos lustrosos da coleção: uma Ferrari Mondial 1987 vermelha, com preço mínimo estimado em 12 mil euros (R$ 36 mil).
“Consertar carros é o melhor jeito de desconectar do mundo, mas duvido que eu vá levar porque o preço deve ir para as alturas”, disse.