Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep terão 20% de "elétricos" até 2030
Stellantis pretende ter 20% de carros elétricos no Brasil, conforme compromisso global, mas a grande aposta é no híbrido com etanol
A Stellantis vai fabricar carros elétricos no Brasil até 2030. A informação consta de um slide mostrado por Antonio Filosa, presidente da supermontadora na América do Sul, durante uma apresentação realizada nesta sexta, 31, em São Paulo. Filosa detalhou os planos de descarbonização para as marcas Fiat, Peugeot, Citroën e Jeep.
O objetivo de vender 20% de carros elétricos no país até 2030 consta de um compromisso global assumido pela Stellantis. Na Europa o mix prevê 100% de carros elétricos e nos Estados Unidos é de 50%.
Mas os números mostram que “elétricos”, na linguagem da Stellantis, podem significar outra coisa que não exatamente os carros a bateria. Afinal, pelos números atuais, a Stellantis terá que vender 128 mil carros elétricos para atingir a meta de 20% do mix de 643 mil veículos (total de veículos vendidos no ano passado).
Atualmente, os únicos carros 100% elétricos da empresa no país são os Peugeot e-208, e-2008 e e-Expert, os Fiat 500e e e-Scudo e o Citroën E-Jumpy. Nenhum desses carros têm grande volume de vendas. Filosa não foi muito claro, após a apresentação, ao falar sobre a possibilidade de fabricar carros elétricos no Brasil. Portanto, os tais 20% de elétricos podem ser "eletrificados". Faz mais sentido, por enquanto.
É possível que o Peugeot e-208 seja fabricado no Brasil na plataforma e-CMP em 2030? Sim. E, segundo alguns analistas que viram a fala do presidente da Stellantis, a Fiat também poderia ter um novo modelo elétrico feito nesta plataforma. O mais cotado é o projeto Centoventi, que é considerado o Fiat Panda elétrico (e que no Brasil poderia ser batizado de Uno).
Mas o que realmente ficou de concreto é que Filosa defende apaixonadamente o carro híbrido com etanol, cumprindo uma rota de descarbonização que começa no híbrido leve (MHEV), passa pelo híbrido completo (HEV) e chega ao híbrido plug-in (PHEV). “Teremos todos esses carros fabricados no Brasil”, disse Filosa.
Na ocasião, a Stellantis mostrou um teste feito pela Bosch que comprova, segundo a montadora, que um carro híbrido com etanol emite praticamente a mesma quantidade de CO2 que um carro elétrico fabricado no Brasil, desde que seja considerado o ciclo do poço à roda. Mais: um híbrido com etanol emitiria menos CO2 do que um carro elétrico fabricado na Europa, pelos menos critérios.
Portanto, quando 2030 chegar, Filosa pode dizer que a meta de ter 20% de carros elétricos está cumprida se forem feitas essas contas com o carro híbrido a etanol. O presidente da Stellantis disse que, ao contrário da Volkswagen, não precisará de uma nova plataforma para fazer um carro híbrido a etanol. “Podemos adaptar alguma atual”, disse. De qualquer forma, o primeiro modelo deverá ser apresentado somente em 2026 e as vendas devem começar em 2027.
Falando especificamente sobre carros elétricos, Filosa afirmou que já existem carros elétricos chineses baratos, porém com autonomia de apenas 100 km. A Stellantis tenta encontrar alguma brecha na legislação que permita homologar o Citroën Ami, que é elétrico, mas não tem, por exemplo, airbags e outras exigências da lei para automóveis.
O mercado estaria disposto a comprar um Fiat Mobi elétrico que rodasse apenas 100 km? Filosa não tem essa resposta. Por isso, enquanto mantém a promessa global de ter 20% de mix de vendas de elétricos em 2030, sua aposta é mesmo no etanol.
O fim do ciclo, na visão da Stellantis, depois do veículo elétrico a bateria (BEV), será a fabricação de um carro a hidrogênio com célula de combustível a partir do etanol. No mesmo dia, a Toyota do Brasil anunciou que fechou parceria com algumas empresas para desenvolver um Mirai a hidrogênio a partir do etanol.
“Ninguém aqui é filantropo, é um cálculo econômico, temos que ter escala”, disse Antonio Filosa. “A Stellantis vai fazer essa opção investindo muito dinheiro. Nosso próximo ciclo de investimento será maior do que o de todas as outras empresas juntas. Para isso, vamos ter que reduzir plantas.” Ou seja: alguma fábrica pode ser fechada.
Se haverá uma montanha de dinheiro, pode ser que a Stellantis realmente vai ter um ou dois carros 100% elétricos produzidos no Brasil. “Nosso fim é sempre localizar”, disse Filosa. “Temos 1.500 engenheiros automotivos e 300 designers na América do Sul. Hoje o carro elétrico é só importado. Temos um compromisso ambiental, econômico e social.”