Fim do Chevrolet Cruze despreza história da própria GM
ANÁLISE: fim da produção do Chevrolet Cruze é o ponto final em uma tradição de sedãs acima da média que começou em 1968 com o Opala
Desde 1968, quando começou a produzir e vender o Chevrolet Opala no Brasil, a General Motors criou e manteve a fama de produzir ótimos sedãs médios e/ou familiares na região. Por isso, o fim da produção do Chevrolet Cruze na Argentina mata um pouco da própria GM.
O Chevrolet Cruze será produzido somente até o final deste ano para dar mais espaço ao SUV Tracker na linha de produção da Chevrolet em Alvear, Argentina. Ele se despede em franca queda de participação no segmento de sedãs médios (veja tabela abaixo).
O Chevrolet Opala foi produzido de 1968 a 1992 e, ao sair de cena, deixou herdeiros no segmento de sedãs familiares, como o Chevrolet Monza (1982 a 1996) e o Chevrolet Vectra (1993 a 2011). Embora fossem modelos menores do que o Opala, os modelos Monza e Vectra mantiveram a fama da GM no imaginário dos consumidores de sedãs. O Opala foi o primeiro carro nacional com toca-fitas.
Já sem o mesmo carisma, mas ainda segurando as pontas, o Chevrolet Astra foi fabricado de 1998 a 2011. Nessa altura, Opala, Monza e Vectra tinham deixado saudades, mas a GM continuava presente no segmento de sedãs familiares.
Mas nenhum outro sedã da GM teve tanta relevância no Brasil, em termos de conforto, luxo e sofisticação (após a carreira do Opala), como o Chevrolet Omega, que foi produzido localmente de 1992 a 1998, e que trouxe a novidade do CD player para os usuários de sedãs. Mas nada que tenha se aproximado do carisma do Chevrolet Opala.
Sedãs menores, como Chevette e Corsa Sedan, também fizeram sucesso e, de alguma forma, beberam da fama dos sedãs maiores da linha Chevrolet. No início da década passada (2010 a 2019) a GM também fabricou modelos com propósitos diferentes, como o Chevrolet Classic (ex-Corsa Sedan), Prisma e Cobalt para atender clientes da classe média.
O Chevrolet Cruze de primeira geração estreou no Brasil em 2011, numa parceria entre a GM e a Daewoo (marca coreana). A segunda geração do Cruze estreou em 2016 e o carro representou um avanço, pois tecnicamente era superior ao Toyota Corolla da época.
Atualmente, a GM tem um sedã de ponta no mercado, o Chevrolet Onix Plus, desenvolvido em conjunto com a China, que ressuscitou até o nome Monza, num modelo com porte muito próximo ao do Cruze, o que inviabiliza sua produção na América do Sul.
O Onix Plus é o sedan número 1 do país e vai continuar, mas ele nem de longe faz ou fará o papel que já foi do Opala, do Omega e até do Vectra. É um carro de volume, com proposta de entregar o máximo de conteúdo possível, mas sem o requinte de modelos clássicos como o Opala Diplomata ou o próprio Omega.
Pior: o Chevrolet Cruze se despede porque o mercado de consumidores simplesmente não quer mais tantos sedãs como queria antigamente. É natural, portanto, sob o ponto de vista de uma empresa global na sociedade capitalista, que o Cruze “morra” para dar espaço ao novo. Que, no caso, nem é outro carro (a GM pretende aumentar a produção do SUV Tracker).
Portanto, morre um pouco daquela GM que tinha um compromisso histórico de estar liderando tecnicamente o segmento de sedãs no mercado brasileiro. Agora a lógica é produzir SUVs, e logo haverá um “SUV do Onix” surgindo para que o novo consumidor já reserve um espacinho em sua prateleira de novos desejos.
O Chevrolet Cruze sai de cena como um ótimo carro, que merecia ter vendido mais do que vendeu. Segue, assim, o mesmo caminho que levou ao fim da produção do Honda Civic no Brasil. Bom para o Nissan Sentra, que vem do México e já é o segundo sedã médio mais vendido do país. Veja abaixo o ranking de 2023 até maio.
1º TOYOTA COROLLA - 16.101
2º NISSAN SENTRA - 1.545
3º CHEVROLET CRUZE SEDAN - 461
4º VOLKSWAGEN JETTA - 61 186 460
5º HONDA CIVIC - 315
6º CAOA CHERY ARRIZO 6 - 291
7º AUDI A3 SEDAN - 216
8º AUDI A5 - 196
9º MERCEDES-BENZ CLA45 - 52
10º BMW 218i - 44