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Ford quer se reinventar, mas será possível apagar o passado?

Lançamento da picape F-150 e recorde de faturamento por carro vendido colocam em outro patamar a marca que popularizou o carro

15 fev 2023 - 06h15
(atualizado às 18h51)
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Ford F-150 Lariat FX4
Ford F-150 Lariat FX4
Foto: Ford / Guia do Carro

Não existe na história da indústria automobilística nenhuma marca tão importante como a Ford. Foi ela que inventou a linha de produção e popularizou os carros. O fordismo se tornou sinônimo de fabricação seriada com vantagens para quem produz e para quem compra. Mas hoje a Ford quer se reinventar. É uma Ford sem fordismo, pois só importa e não fabrica.

É possível esquecer o que foi o Ford Model T para o mundo dos automóveis? Assim como a GM se popularizou pela variedade de carros e marcas, a Mercedes-Benz tem a glória do pioneirismo, a Citroën conquistou pela inovação, a Volkswagen pela robustez, a Ferrari pela esportividade e a Porsche pelo refinamento técnico, a Ford tem o seu próprio DNA.

E o DNA da Ford, repetido com vários modelos que sucederam o Model T, é o de fabricar carros acessíveis para novos públicos. Foi assim com o Model T, foi assim com as picapes F-Series, foi assim com o Mustang, foi assim com o EcoSport (a nível doméstico).

Mas, pelo menos no Brasil, a Ford cansou de fazer carros que não rendiam lucros. No capitalismo, nada é mais importante do que o lucro. Afinal, sem o lucro não há investimentos – e na sociedade dos séculos 20 e 21 é preciso investir para inovar. Matar o velho para colocar o novo no lugar.

Ford Maverick Lariat FX4 2.0
Ford Maverick Lariat FX4 2.0
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

A chegada da picape F-150 com preços para milionários – R$ 470.000 na versão Lariat e R$ 490.000 na versão Platinum – é mais um passo em direção à transformação da Ford em marca de luxo. No ano passado, apenas com as picapes Ranger e Maverick, com os SUVs Bronco Sport e Territory, com o cupê Mustang e com o furgão Transit, a Ford conseguiu virar o jogo no Brasil.

Deu um banho de lucratividade em suas antigas rivais. A Fiat foi a marca de carros que mais faturou no Brasil em 2022, com um total de R$ 45,3 bilhões, mas ela ficou apenas em 12º lugar no faturamento por carro vendido, considerando as 14 marcas mais populares. O 1º lugar ficou com a Ford, que foi apenas a 14ª marca mais vendida e a 13ª em faturamento. Cada carro da Ford teve o ticket médio de R$ 272.177.

Em 2023, essa média vai subir ainda mais. Não apenas por causa da inflação nos preços dos carros, mas porque novos e apaixonantes modelos estão chegando. O Ford F-150 é apenas o primeiro de 10 lançamentos. Outros virão e a marca de Dearborn vai crescer em volume, que deixou de ser prioridade.

Mas não será um caminho fácil. Há um patamar para se tornar uma marca de luxo. A Audi conseguiu, mas fez um trabalho de formiguinha durante décadas. O que tornou a Audi uma marca de luxo para concorrer com a BMW e a Mercedes foi a qualidade técnica, aplicada de forma consistente em todos os modelos.

A Ford tem qualidade técnica em setores específicos, mas não é, a nível global, uma marca que lidera a qualidade construtiva dos automóveis. Alguns críticos afirmam que a Ford depende das picapes F-Series (F-150 e F-250), que lideram o mercado estadunidense há 46 anos. Há ótimas soluções no Ford Mustang, mas só recentemente esse carro passou a ser bom de curvas. E há carros, como o Ford Territory, francamente abaixo do topo.

Ford Territory Titanium 1.5 EcoBoost GTDI.
Ford Territory Titanium 1.5 EcoBoost GTDI.
Foto: Sergio Quintanilha / Guia do Carro

A Ford tem uma cultura construtiva dominada por Dearborn, Detroit, e isso reverbera em todo o mundo. O Brasil conseguirá ser um pedaço do mundo no qual a Ford vai ser uma marca de luxo como Volvo, Land Rover, Jaguar, Porsche, BMW, Audi e Mercedes? Dificilmente. 

A Ford tem um passado tão grandioso, tão rico, e também tão popular, que isso acaba pesando nas decisões do presente. De alguma forma, o histórico sucesso da Ford é uma espécie de âncora para uma transformação radical. 

Como negócio automotivo, a Ford Brasil está no caminho certo, com as contas no azul e produtos altamente rentáveis. Como marca automotiva, a Ford está cada vez mais distante do povão que sempre a amou. Que Ford teremos no Brasil daqui a 10 anos, quando estivermos às portas de um novo mundo automotivo – elétrico, autônomo e compartilhado? Só o tempo dirá se abrir mão do fordismo terá sido a melhor ideia para a Ford.

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