GM quer investir bilhões, mas Brasil precisa se posicionar
Marca fez aporte de R$ 7 bi, parte de um grande plano, e espera o fim da indecisão do governo e a aprovação do Mover para aplicar ainda mais
A GM foi a única das três gigantes automotivas (GM, Volks e Stellantis) que anunciou pacote bilionário de investimento considerado "pequeno" - isso porque a marca ainda espera por novas definições do Governo
A GM foi uma das gigantes empresas do setor automotivo que anunciou investimentos para os próximos anos no Brasil - foram R$ 7 bilhões confirmados para atualização de suas fábricas e produção de um SUV inédito. Dessa grana, R$ 1,2 bi será aplicado na sede de Gravataí (RS), onde Onix e Onix Plus são feitos.
Apesar do montante bilionário, isso foi considerado pouco perto do que o Grupo Stellantis e do que a Volks prometeram para um período de tempo parecido - em média, os próximos cinco anos. Calma, tem motivo.
De acordo com Fábio Rua, vice-presidente de Relações Governamentais, Comunicação e ESG da General Motors para a América do Sul, haverá outro anúncio, que deve acontecer ainda este ano. Rua conversou com alguns jornalistas na última semana, em evento que aconteceu no Rio Grande do Sul.
Esse novo aporte de investimentos ainda está em fase de estudo, já que a GM diz esperar "a definição do governo sobre diversos assuntos".
"Nossa equipe aguarda a definição e regulamentação do Programa Mover, bem como a implementação da reforma tributária e do imposto seletivo", explica o executivo. "Precisamos saber quais serão as regras e levá-las para a matriz", complementou.
O Programa Mover prevê incentivos financeiros de até R$ 19,3 bilhões em cinco anos e ainda redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para estimular os setores de pesquisa e desenvolvimento de empresas de tecnologia, além de priorizar a produção de carros com menor emissão de poluentes. Ele foi aprovado em junho pela Câmara dos Deputados e aguarda sanção presidencial.
Indecisão e indefinição atrapalham
Fontes ligadas à GM explicaram à reportagem do Terra que existe certa dificuldade por parte da montadora - e de todas as demais fabricantes ligadas à Anfavea, que produzem no Brasil - de lidar com a hesitação do governo brasileiro, que "muda regra a todo o tempo". Recentemente, a Abeifa também deu sua opinião.
Curiosamente, o posicionamento das marcas ligadas à Anfavea e até da Abeifa é o mesmo. Basicamente, não dá para definir uma regra, posicionar as fabricantes e depois fazer alterações nesse regulamento já pré-estabelecido. É exatamente isso que impediu um maior investimento por parte da GM, que até pode rever a quantidade anunciada recentemente.
"Não devemos rever o valor, mas pode acontecer de a gente ter que mudar as datas e atrasar parte desse investimento em algumas de nossas fábricas", lamenta Rua.
A GM já confirmou que vai renovar a dupla Onix e Onix Plus, feita no Sul, e ainda produzir um novo modelo de SUV, que será construído sobre a mesma plataforma que os dois carros feitos em Gravataí.
O próximo passo deve ser a renovação da fábrica da marca em Joiville (SC), que deve se modernizar para fazer novos motores para a linha Onix e para o novo SUV - eles serão turbinados e terão injeção direta de combustível, tudo para atender aos níveis exigidos pela próxima fase do Proconve, a L8.
Porém, vale destacar que o Programa Mobilidade Verde (conhecido como Mover) ainda não está definido. As empresas, por ora, devem seguir na espera de definições, como o cálculo de emissões e as metas de reciclagem de veículos, entre outros.
André Deliberato, jornalista e engenheiro, atua na área automotiva desde 2008, com passagens pela assessoria de imprensa da Volkswagen e pelas redações da revista Car and Driver, do portal UOL, e Webmotors. Já fez mais de 500 testes e cobriu pouco mais de 20 Salões do Automóveis ao redor do mundo.
