Híbridos leves: o que esperar para os próximos Fiat, Citroën, Peugeot e Jeep
Como a Stellantis pretende reduzir em 50% a emissão de CO2 no Brasil até 2030; híbridos leves darão conta disso?
A Stellantis tem um compromisso público de reduzir a emissão de CO2 no Brasil em 50% até 2030. Isso significa que ela deverá atuar principalmente nas marcas de maior volume, Fiat e Jeep, mas sem esquecer das francesas Citroën e Peugeot e da marca estadunidense Ram, que só fabrica picapes.
O sistema híbrido leve de 12 volts, que estreou nos Fiat Pulse e Fastback, darão conta desse compromisso? Sozinhos, não. A Stellantis precisará da ajuda de outros sistemas Bio-Hybrid, como o eDCT de 48 volts e do Plug-in Hybrid de 400 volts. Mas, segundo João Irineu Medeiros, vice-presidente de Assuntos Regulatórios, eles serão fundamentais.
“Um Mild Hybrid de 12 volts reduz de 10% a 12% o consumo e as emissões no ciclo urbano, de acordo com os dados oficiais, e eles são mais acessíveis”, explica Medeiros. “Então, o volume de produção também é importante no processo de descarbonização. Quanto mais carros rodando, maior será o impacto na descarbonização.”
A Fiat tem sido criticada pelo baixo impacto do Pulse Hybrid e do Fastback Hybrid na redução de CO2 (-7 g/km e -8 g/km, respectivamente). Mas em testes de rodagem a redução chegou a ser superior a 20%.
Mas, por que esses valores não surgem nos dados do PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular)? Porque ele considera o padrão dos Estados Unidos, que não aplica particularidades que ocorrem na rodagem urbana no Brasil, com muitas descidas e frenagens – situações que favorecem os sistemas híbridos, devido à maior regeneração de energia.
Quando apresentou as arquiteturas Bio-Hybrid, o ex-CEO da Stellantis América do Sul, Antonio Filosa, disse que os sistemas Mild Hybrid de 12 volts e Mild Hybrid eDCT de 48 volts seriam usados principalmente nos carros das marcas mais acessíveis, como Fiat e Citroën. O Plug-in Hybrid e o BEV (100% elétrico) ficariam reservados para carros da Jeep e da Peugeot.
Mas o cenário mudou e o novo CEO, Emanuele Cappellano, pode ter outros planos (ainda não revelados). Mas o híbrido leve de 48 volts poderá ser aplicado em carros maiores e/ou mais pesados, como o Fiat Toro e os Jeep Compass e Commander. O Bio-Hybrid se baseia no uso do etanol como combustível de baixo carbono.
Segundo João Irineu Medeiros, o uso do etanol compensa de 70% a 80% a emissão de carbono, devido ao uso de fertilizantes, máquinas agrícolas, caminhonetes e caminhões a diesel. Mas poderia ser próximo de 100% de fosse considerada só a emissão do carro abastecido com etanol, que é cerca de 3% inferior ao do carro abastecido com gasolina.
Fatores de preocupação
Os automóveis não são os maiores vilões do aquecimento global – especialmente no Brasil. Estudos atualizados anualmente pela Climate Watch e pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) apontam que os transportes respondem por apenas 14% das emissões brasileiras.
Os maiores vilões da mudança climática no Brasil são a agropecuária (35%), por utilizar para o gado áreas que poderiam ser de florestas, e a mudança no uso da terra (26%). A captação de energia responde por apenas 19%, por isso a matriz energética brasileira é considerada mais sustentável.
Mesmo assim, os carros brasileiros emitem mais CEO proporcionalmente do que a China, onde o setor de transporte responde por apenas 7% das emissões de gás carbônico. Na Europa e nos Estados Unidos as emissões do setor de transporte sobem para 25% e 30%, respectivamente.
Do total de 50 gigatoneladas de CO2 emitidas pelos países – e que superdimensionou as enchentes no Rio Grande do Sul e os incêndios na California, entre outras tragédias –, o Brasil esponde por 1,5 Gton. A China emite 12,8 Gton, os EUA 5,6 Gton, a Europa 3,6 Gton e a Índia 3,4 Gton (dados de 2021).
“Se apenas cumprimos os compromissos do Acordo de Paris, em 2100, daqui a 75 anos, ainda continuaremos emitindo 50 gigatoneladas de CO2 por ano, então é preciso reduzir as emissões”, comenta Medeiros. “Embora os países do norte sejam os que mais emitem, os mais afetados serão os do sul, especialmente nas regiões próximas ao Equador, como a Amazônia.”
Para servir de guia a suas ações na urgência climática, a Stellantis trabalha com um estudo do instituto de pesquisa de sistemas ambientais ESRI que aponta: “50% da humanidade estará exposta a condições potencialmente letais por pelo menos 20 dias por ano”.
Papel da indústria automotiva
Na visão de João Irineu Medeiros, todos os sistemas de descarbonização são válidos. Ele cita, por exemplo, o caso da Noruega, que já tem quase a totalidade do mercado de automóveis de passeio zero km preenchida por veículos elétricos a bateria, e os transportes urbanos, tanto de carga como de passageiros (Uber, 99, táxis).
Na visão da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico) a concessão de benefícios fiscais para carros híbridos leves será um tiro no pé, pois “o impacto na redução de emissões de carbono será pequena e o governo pode, em algum momento, achar que está financiando muito para pouco resultado prático”.
A Stellantis pensa diferente. A supermontadora acredita que mesmo sistemas híbridos leves de 12 volts vão popularizar as novas tecnologias no mercado e baratear o desenvolvimento de baterias e sistemas mais complexos, para que o país atinja em 2030 a meta de redução de 50% nas emissões de carbono.
Por enquanto, fica a expectativa para o próximo passo da Stellantis. Depois dos Fiat Pulse Hybrid e Fastback Hybrid, outros carros deverão ganhar esse sistema ainda este ano.
Os mais cotados são o Citroën Basalt e o Citroën Aircross. Mas a picape Strada Turbo também pode ser uma opção, por seu histórico de liderança de mercado e pioneirismo nas inovações. Os modelos Peugeot 208 Turbo e 2008 Turbo também são cotados, por usarem o mesmo motor.
Para carros com motor de maior cilindrada, no caso o 1.3 turbo, a Stellantis deve usar o Mild Hybrid eDCT de 48 volts. Então os carros beneficiados devem ser os Jeep Renegade, Compass e Commander e o Fiat Toro, além dos modelos esportivos Pulse Abarth e Fastback Abarth (mas esses não são prioridade devido ao baixo volume de vendas).