Honda e Peugeot: 30 anos no Brasil com trajetórias diferentes
Honda e Peugeot celebram 30 anos no Brasil este ano, mas esse é o único detalhe que as duas marcas têm em comum por aqui
Nem todo mundo lembra – ou sabe – mas duas das primeiras marcas a desembarcar no Brasil após a abertura do mercado nacional em 1990 estão completando 30 anos de presença no País neste ano: Honda e Peugeot. O ano de chegada de ambas por aqui, contudo, é o único detalhe que japoneses e franceses têm em comum. Entenda a seguir.
Em 1992, o mercado de automóveis importados no Brasil ainda era incipiente, com poucas marcas e modelos. Para impressionar, chamar a atenção do público e marcar território, as empresas (que mais tarde ficariam conhecidas como newcomers) apostavam em seus modelos mais sofisticados para inaugurar suas operações.
Assim, não foi por acaso que o primeiro modelo trazido pela Honda tenha sido o requintado Accord, um sedã de grande porte (para os padrões brasileiros). A Honda Automóveis iniciava sua trajetória no Brasil apoiada no ótimo histórico das motos e até aproveitava algumas instalações já existentes, como a sede, próxima ao Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
A Peugeot, por sua vez, embora também chegasse ao País apoiada pela matriz, contava com participação de um grupo brasileiro para tocar as operações. Além disso, a marca francesa dispunha de modelos produzidos no Uruguai e na Argentina para não só complementar seu catálogo, como contar com veículos mais acessíveis.
Assim, logo de cara a Peugeot oferecia modelos compactos (106 e 205), médios (405 e 505) e o luxuoso sedã 605. Havia ainda a picape 504, que apesar do design defasado, conquistou muitos consumidores por sua capacidade de carga (1.300 kg) e robustez.
Já a Honda seguia apostando em automóveis mais sofisticados, como o cupê esportivo Prelude e a minivan Odissey. Até o Civic – que na época apresentava menores dimensões – chegava por aqui em configurações mais equipadas e sofisticadas, como a famosa VTi ou a conversível CRX, que possuía teto retrátil acionado por um sofisticado sistema robotizado.
As estratégias adotadas no início talvez expliquem o maior sucesso obtido pelos japoneses, mas não é correto dizer que os carros da Peugeot não tenham conquistado os brasileiros por falta de confiabilidade, afinal, os veículos da marca sempre desfrutaram de excelente fama na Europa e em outros mercados emergentes, como nos vizinhos Uruguai e Argentina ou em países do Oriente Médio.
E mais: não se pode esquecer que no início dos anos 2000, o Peugeot 206 tornou-se um dos carros favoritos dos brasileiros, principalmente por conta de seu design inovador para a época. Enquanto isso, a Honda já fazia sucesso com o Civic feito no Brasil, que travava uma disputa acirrada com o Toyota Corolla pela liderança no segmento dos sedãs médios.
Nos últimos anos, contudo, a diferença entre as duas montadoras tornou-se ainda maior. Enquanto a Honda seguiu colhendo os frutos do sucesso de modelos como os SUVs CR-V, HR-V e até do crossover WR-V, além do Fit e do Civic (que mesmo com produção local descontinuada, ainda seguem em alta no mercado de usados), a Peugeot perdeu o foco, apostando em um mal reestilizado 206 – cuja estratégia de batizá-lo como 207 pegou mal – e em modelos que nunca chegaram a encantar, como os sedãs 407 e 408.
Hoje, a Honda vai caminhando a passos lentos em uma reestruturação centrada, por enquanto, em apenas três modelos – HR-V, City sedã e hatch (o novo Civic é aguardado para o próximo ano). Já a Peugeot, após se juntar ao grupo FCA para dar origem à Stellantis, está em um momento “vai ou racha” no continente.
O rejuvenescido compacto 208 vem conquistando espaço no mercado – ainda mais após o lançamento da versão com motor 1.0 Firefly – mas ainda é cedo para saber se será o suficiente para fazer com que a “marca do leão” volte a ser desejada pelos brasileiros.
Como se não bastasse, Honda e Peugeot mais uma vez apostam em caminhos diferentes para o futuro próximo: enquanto os japoneses investem em modelos híbridos para contribuir com a redução das emissões, os franceses apostam nos veículos 100% elétricos.
Quem vai se dar melhor com suas estratégias? Não dá para saber ainda, mas é provável que não tenhamos de esperar mais 30 anos para termos a resposta.