Le Mans: 24h de festa, churrasco, mulatas... e velocidade
Desde 1923, a cidade francesa de Le Mans reúne milhares de fãs do automobilismo para 24 horas de celebração em torno de uma pista de 13 km
Desde o início da semana eles começaram a chegar. Audis, Porsches, BMWs, Mercedes, estacionam e montam acampamento na pequena cidade de Le Mans, na França. Eles não se importam em parar na grama, pernoitar dentro de barracas num calor surpreendente para a época e fazer fila para ir ao banheiro improvisado. Tudo pela paixão por carros e pela velocidade, que vai além das 24 horas de uma das provas mais famosas do automobilismo mundial.
Na maioria das cidades francesas o novo e o velho convivem na arquitetura, o que provoca discussões sobre qual é mais bonito. Não é diferente em Le Mans, cuja paisagem ganha novas cores e sons no final de semana das 24 horas. No entanto, parece não haver disputa com relação aos automóveis. Tanto o velho, quanto o novo, são fervorosamente admirados.
A festa começa no centro de Le Mans com o desfile de pilotos. Um dia após a abertura da Copa do Mundo no Brasil, o abre-alas teve mulatas com sotaque gringo e capoeira. Em seguida, a passarela foi tomada por superesportivos, incluindo a LaFerrari híbrida com seus cerca de 800 cv. A ala dos pilotos abusou dos carros alegóricos vintage e foi conservadora também na fantasia - apenas o clássico macacão com as cores da equipe. Entre eles nomes que batem na memória de qualquer pessoa que já acordou cedo no domingo para ver Fórmula 1: Nakajima, Salo, Wurz, Prost, Buemi e Webber, entre outros.
Todos esbanjaram alegria jogando brindes em direção ao público que se aglomerava nas cercas. Até mesmo os franceses ficam felizes em ganhar um chaveiro ou uma bandeirinha, que logo menos serão esquecidos. Mulheres bonitas também não faltaram, mas elas eram preteridas por curvas metálicas e pelos corpos que roncam mais alto. Gosto não se discute.
No sábado, o circuito de La Sarthe acordou de ressaca de cerveja e churrasco. Cada barraca, trailer ou motorhome tem seu próprio lugar para queimar carne - muitas vezes substituídas por salsichas, que não deixam de ser carne (ou deixam?). Enquanto chegavam mais ingleses, belgas e franceses, alguns ainda escovavam os dentes e os carros já aceleravam no aquecimento.
Às 15h, a largada concentrou a atenção de todos, mas em poucos minutos a distância entre as categorias e pilotos já era grande, inclusive com carros uma volta atrás do líder, porque em Le Mans correm juntos carros de quatro categorias. A principal é a de protótipos (P1), onde as marcas desenvolvem totalmente os veículos - um verdadeiro laboratório para Audi, Toyota e Porsche. Já na P2 é possível usar motor e chassis comprados. Essas duas usam faróis brancos para serem identificadas pelos retardatários durante a noite.
A LM GTE Pro conta com os melhores pilotos de Gran Turismo à bordo de Ferraris, Corvettes e Porsches modificados para as pistas. Mesmo com a profissionalização do esporte, a Le Mans não fechou as portas para amadores, que disputam a GTE Am. Neste ano, o ator americano Patrick Dempsey, da série Greys Anatomy e do filme Loverboy, corre pela terceira vez. Ele guia um Porsche 911 RSR com faróis amarelos, que indicam os carros das duas categorias de GT.
Algumas voltas bastaram para que o público se concentrasse na festa novamente. Afinal, os carros não sairiam da pista nas próximas 24 horas. E isto é tempo para todo tipo de atividade no "circo" de Le Mans, que tem roda gigante, brinquedos radicais, kart e helicóptero. Quem é de camarote se farta, quem é de pista se embriaga, quem é de compras se endivida e quem é de carro tem um mundo inteiro de modelos para apreciar. E assim vai pela noite, madrugada, manhã. Até a hora de guardar tudo e voltar para casa.
O jornalista viajou a convite da Audi do Brasil.