Por que o Festival Interlagos não é o novo Salão do Automóvel
Após 3 edições, Festival Interlagos se consolida no calendário automotivo, mas não substitui o antigo Salão do Automóvel (e está tudo bem)
Com o fim do Salão do Automóvel de São Paulo às vésperas de sua edição em 2020 – tanto por conta da pandemia, quanto pela falta de interesse de montadoras importantes no formato – os fãs brasileiros de automóveis ficaram carentes de um evento automotivo do mesmo porte do antigo Salão. E dentre diferentes tentativas das próprias montadoras, um evento acabou se destacando quase da mesma forma: o Festival Interlagos.
Depois de uma primeira edição de motos em 2019 e da primeira de carros em 2022, o Festival Interlagos se consolidou como um evento chave no calendário de algumas montadoras no Brasil. Realizada na última semana, a terceira edição de carros do Festival Interlagos marcou a estreia de montadoras como a chinesa Neta, e também foi palco de lançamentos e novidades da Ram, Jeep, Lexus, BYD, GWM, Chevrolet e Ford.
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No entanto, ao contrário do que alguns veículos têm dito, o (ótimo) Festival Interlagos não é o novo Salão do Automóvel. Comparado ao antigo evento bianual, que já foi sediado no Anhembi e na SP Expo até 2018, a proposta e o tamanho são diferentes. Por isso, um não substitui o outro. De um lado, o antigo Salão contava com estandes grandiosos e inúmeros carros conceito.
Já o Festival Interlagos contou com estandes das montadoras nos boxes de Interlagos, com atividades de direção na mítica pista da Fórmula 1. Uma das novidades da edição deste ano foi a estreia de um espaço maior na região central do autódromo, com pista off-road, outros estandes e a exposição de novos carros e tecnologias.
Havia até mesmo um espaço chamado Museu do Automóvel, que expôs pela primeira vez ao público brasileiro os modelos McLaren P1, Porsche 918 Spyder e Ferrari LaFerrari juntos. Além disso, também havia área kids, praça de alimentação completa, espaço para empresas de personalização automotiva e até mesmo shows com grandes nomes da música brasileira. Foi um sucesso.
No antigo Salão do Automóvel, a imprensa contava com mais tempo para produzir conteúdos, em uma época em que a comunicação não era tão dinâmica como hoje. Em algumas edições, também havia a oportunidade de experimentar alguns carros em circuitos no local de exposição. Por outro lado, este não era o foco do evento, que buscava expor os carros de forma estática, na maioria das vezes.
Enquanto isso, no Festival Interlagos, o foco principal é a experiência ao volante, desde os carros de entrada até os mais caros, exclusivos e esportivos. Outra vantagem do Salão é o tamanho da área coberta. No Festival Interlagos, muitas das atrações – e o trajeto até elas – ocorrem em espaços ao ar livre, que estão sujeitos às condições meteorológicas e de luminosidade do dia.
À noite, as atividades em pista são encerradas após um certo horário, enquanto o Salão do Automóvel acontecia até 22h, noite adentro, sem problemas – e também sem prejudicar as exposições em caso de chuva ou outras intempéries. A acessibilidade também é diferente entre os dois eventos. Em Interlagos, por exemplo, é necessário andar longas distâncias entre os espaços de exposição fora dos boxes, incluindo trechos de escada e rampas, ou esperar pela carona em carros de transporte.
No caso do Salão do Automóvel, quase tudo concentra em uma exposição coberta e plana. As atrações também são mais concentradas na área de exposição, que também era maior no Salão do Automóvel do que nos boxes de Interlagos, que são um pouco limitados para receber um público maior.
Com isso, em alguns estandes, alguns carros ficavam muito próximos aos outros, com várias marcas agrupadas. Em um evento no qual os visitantes costumam andar bastante, esse fator conta muito para a experiência final.
A presença das montadoras também tende a ser maior. Somente na edição de 2018 do Salão do Automóvel de São Paulo, que foi a última realizada até agora, foram 29 montadoras participantes, fora os expositores menores. Já o Festival Interlagos contou com 21 marcas, além dos demais expositores.
O público também foi menor, com cerca de 118,7 mil visitantes em três dias de evento, contra 742 mil do Salão do Automóvel 2018, que durou 11 dias. Outra diferença fundamental entre os dois eventos é que o Festival Interlagos aposta em diferentes experiências para os visitantes. No Salão do Automóvel o foco é exibir novidades e deixar o público olhar, tocar, enxergar a marca X enquanto se visita a marca Y. É um tipo de experiência diferente, mas também necessária.
Com o merecido sucesso das últimas edições, o Festival Interlagos já teve sua próxima edição confirmada para 2025 e até entrou no calendário oficial da cidade de São Paulo. O evento para motos acontecerá entre os dias 28 de maio e 1º de junho. Já o de carros será de 11 a 15 de junho. As vendas de ingressos abrirão em março do ano que vem, para ambos os eventos.
Também está previsto o retorno do Salão do Automóvel a partir de março do ano que vem. De acordo com o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, a entidade estuda organizar uma nova edição do evento, que deve ser sediado novamente no Centro de Convenções do Anhembi, próximo ao GP de São Paulo de Fórmula 1, em novembro, que é quando se concentram os lançamentos das montadoras.
“O Brasil precisa retomar o Salão e mostrar as tecnologias que temos para exportação. […] O que que nós temos no Brasil e os planos futuros e utilização de biocombustíveis”, afirmou o executivo em entrevista à Rádio Bandeirantes em junho deste ano. No entanto, o retorno do Salão do Automóvel está sendo trabalhado para ocorrer somente em 2025. Não há interesse para este ano e não há datas disponíveis no início do ano.
Fato é que o Festival Interlagos se consolidou como uma ótima opção para quem queria algo mais do que o antigo Salão do Automóvel entregava. Em relação à edição do ano passado, a atual se mostrou bem mais madura, com a presença de mais marcas, mais organizada e mais bem estruturada. Entretanto, há espaço para que os dois eventos convivam bem juntos.
Mesmo com o retorno do Salão do Automóvel, tudo indica que o Festival Interlagos seguirá forte nos próximos anos. Seu sucesso ocorre justamente por ser diferente do antigo Salão do Automóvel, num ambiente também diferente, e que tem foco na experiência do carro em movimento em atrações extras, enquanto o Salão tem foco ampliado para pessoas que não necessariamente querem dirigir ou andar num carro, mas sim vê-los e tocá-los, além de cultivar a cultura do automóvel de forma mais institucional.
E está tudo bem em ser diferente neste caso, já que há espaço para os dois eventos coexistirem. Melhor para os fãs de automóveis e motos, como este que vos escreve e que já esteve em ambos os eventos. Vida longa ao Festival Interlagos (e ao Salão do Automóvel também)!
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