Por que o Uno (que era melhor) saiu de linha e o Mobi ficou
Fiat Uno, um dos carros mais amados pelo público brasileiro, teve que sair de cena para permitir o sucesso do Fiat Mobi
Antes da pandemia estava praticamente tudo certo para o lançamento de uma nova geração do Fiat Uno no Brasil; seria a terceira. A primeira surgiu em 1984 e a segunda foi lançada em 2010.
Mas a pandemia de Covid, que chegou no Brasil em março de 2019, além de provocar a morte de 700 mil pessoas no país, também virou a indústria automobilística de ponta cabeça. Muitas montadoras deixaram de produzir carros e passaram a propduzir respiradores para salvar vidas.
Naquela situação de emergência, o projeto do Uno foi engavetado e decisões drásticas tiveram que ser tomadas, pois as vendas caíram muito. Dentro da Fiat, o Uno já vinha perdendo espaço para o Mobi desde 2016, quando surgiu o subcompacto.
A aposta no Fiat Mobi havia sido alta, mas o carro teve alguns problemas de posicionamento e não vingou de cara. Para fazer sucesso, o Mobi precisou se reinventar e também contar com a morte do Uno, que foi lenta.
A pandemia, junto com a crise de componentes, foi a pá de cal no Fiat Uno. Em 2021, o Uno perdeu as versões Way 1.0 e 1.3, ficando só com a Attractive 1.0. No final da temporada, a Fiat apresentou a série especial de despedida, Uno Ciao, que teve apenas 250 unidades numeradas.
Mesmo sendo um carro superior ao Mobi, o Uno saiu de linha basicamente por dois motivos. Por ter um porte maior, disputava internamente com o Fiat Argo. E na comparação com o Mobi seu custo de produção era mais alto: necessitava de mais chapa, mais vidro, mais borracha, mais plástico – enfim, mais matéria prima, pois era um carro de 3,820 m e o Mobi mede apenas 3,596 m.
Parece pouco, mas quando se fala em 22,4 cm de material na indústria automobilística, pode ser muita coisa. Basta multiplicar por 50.000 carros e já temos 11,2 km só de chapa metálica.
Para além disso, a opção de desprestigiar o Uno perante o Mobi já havia sido colocada em prática em 2016, quando a marca “Uno” apresentava desgaste, vinda dos anos 80, e “Mobi” era uma marca fresca, mais moderna, mais próxima de um mundo que usava cada vez mais a palavra “mobilidade” nos temas automotivos.
Em termos de marketing, seria muito mais caro rejuvenescer a marca “Uno” do que criar a marca “Mobi”. Atualmente, o Fiat Mobi é o 5º carro mais vendido do Brasil e disputa com o Renault Kwid o título de modelo mais barato do mercado, coisa que o Uno não conseguiria.
Embora o Mobi nunca tenha chegado perto do sucesso comercial do Uno, a Fiat tomou uma decisão racional ao descontinuá-lo, uma vez que precisou cancelar o projeto do Novo Uno.
Para os fãs do Fiat Uno, resta a esperança de que ele ressurja, no final desta década ou no início da próxima, como um carro elétrico popular e acessível. O CEO global da Fiat, Olivier François, já disse que pretende resgatar nomes históricos da marca com a futura geração de veículos elétricos italianos.