Renault: com incentivo, carro elétrico custaria 60% menos
A Renault anunciou a venda de seus primeiros carros elétricos no Brasil, que fazem parte de um projeto experimental da CPFL Energia
A Renault anunciou nesta quinta-feira a venda de seus primeiros carros elétricos no Brasil. Embora seja um momento significante para a marca, os modelos com emissão zero de poluentes ainda estão longe do consumidor final. Segundo o diretor de relações institucionais da montadora, Antônio Calcagnotto, importar um modelo compacto Zoe custa atualmente cerca de R$ 215 mil, mas o valor cairia para algo entre R$ 80 mil e R$ 90 mil - cerca de 60% a menos - com incentivos do governo federal.
Lançado como o primeiro "popular" elétrico na Europa, o Zoe é comercializado por 21 mil euros - sem o custo da bateria, que é mensal por meio de leasing ao consumidor. O primeiro Zoe a rodar pelo País faz parte de um programa de mobilidade coordenado pela CPFL Energia, em parceria com a montadora e agências governamentais. Além dele, a empresa comprou também um utilitário Kangoo elétrico. Os carros ficarão locados em Campinas (SP), sede da empresa, e participarão de estudos.
Para Calcagnotto, o fato é que a falta de incentivo tributário aos carros elétricos ainda barra a comercialização em massa de veículos híbridos e elétricos no Brasil. Atualmente, a isenção de impostos dentro do regime Inovar-Auto é determinada por cotas e pela "litragem" do motor - carros 1.0 l pagam menos do que carros 2.0 l, por exemplo. Como não tem "litragem", o veículo elétrico se enquadra na categoria "outros", que são taxados em até 55% de IPI.
De acordo com Vinicius Teixeira, gerente de inovação da CPFL, o projeto prevê a compra de pelo menos mais quatro unidades da gama ZE (Zero Emission) da Renault, que conta também com os modelos Fluences e Twizy - este último uma espécie de quadriciclo. O investimento no projeto de mobilidade é de cerca de R$ 6,5 milhões, o que inclui a criação de uma infraestrutura local de pontos de recarga na cidade de Campinas.
No entanto, o projeto pode render mais para a Renault, já que a CPFL mantém conversas com empresas interessadas em participar do programa. Caso sejam fechadas mais parcerias, a Renault poderá importar mais veículos elétricos. Os carros seriam cedidos em comodato. O valor pago pela CPFL nos dois primeiros modelos não foi informado, já que faz parte de um acordo entre as duas empresas para o "experimento" no Brasil.
"Temos outras vendas encaminhadas, mas para (a venda de carros elétricos) deslanchar no Brasil, uma reforma na legislação é necessária para viabilizar a venda massiva. Vemos que temos clientes com apetite no Brasil", afirmou o presidente da Renault do Brasil, Olivier Murguet. Em aliança com a Nissan, a fabricante investiu 4 bilhões de euros na gama elétrica, já disponível em outros mercados.
Mesmo sendo uma boa notícia, a chegada dos elétricos da Renault ao Brasil apenas escancara o atraso em relação aos mercados automotivos "maduros". A montadora acredita que conseguirá ampliar as vendas da gama ZE no País apenas a partir de 2016. O governo e a associação de fabricantes (Anfavea) estudam incentivos aos veículos híbridos e elétricos, como cota de isenção de IPI, redução de impostos para importar peças e linhas especiais de financiamento pelo BNDES.
O jornalista viajou a convite da Renault.