Renegade elétrico ou Avenger? Eis a 1ª dúvida de Filosa na Jeep
Antonio Filosa, novo CEO global da Jeep, diz em entrevista que a transformação do Renegade em SUV elétrico é uma opção ao novíssimo Avenger
O novo CEO global da Jeep, Antonio Filosa, já tem a sua primeira dúvida para o mercado brasileiro: investir numa plataforma antiga e transformar o Jeep Renegade em elétrico ou investir em uma nova plataforma e produzir o novíssimo Jeep Avenger no Brasil?
Não chega a ser um dilema, mas vai exigir muito mais do que uma planilha de custos. Segundo Filosa, é mais caro criar uma plataforma nova, por outro lado ela tem maior potencial para o futuro. “O Avenger não parece uma ideia ruim”, disse o CEO global da Jeep.
“Em geral, investir em plataformas novas é mais oneroso, mas te dá mais futuro”, disse Filosa. “Uma plataforma nova é sempre melhor do que uma plataforma velha. É sempre mais pronta para novas tecnologias, para novas soluções de powertrain, num momento de transição para elétricos.”
Filosa concedeu uma entrevista on-line nesta sexta-feira, 20, para fazer um balanço de sua atuação como CEO da Stellantis América do Sul, que deixa como líder na região com 25% de participação de mercado, o dobro da empresa vice-líder. A Fiat tem 14,5% e a Jeep tem 4%.
Filosa disse que estará a cada dois meses na fábrica da Stellantis em Goiana, PE, que será a primeira a produzir carros Bio-Hybrid (aproveitando o potencial de descarbonização do etanol) e elétricos a bateria (BEV). A Stellantis produz em Pernambuco o Jeep Compass, o Jeep Renegade, o Jeep Commander, o Fiat Toro e o Ram Rampage.
Começando pela Jeep, todos devem receber uma das três arquiteturas Bio-Hybrid da Stellantis (híbrido leve, híbrido full ou híbrido plug-in). Até 2027, entretanto, deve vir o primeiro carro elétrico – e, nesse caso, tanto pode ser um Jeep Renegade transformado em EV, com custo menor, quanto pode ser o novíssimo Jeep Avenger, com uma plataforma inédita.
Filosa não parece disposto a importar o Avenger para o Brasil. Por isso, as chances de um Renegade ou um Compass elétrico são grandes. “Qualquer que seja o caminho, ele passará pela localização”, disse Filosa, ou seja, produção local.
A Stellantis investiu na participação de empresas que fazem mineração de lítio, cobre e níquel no Brasil e na Argentina. “Esses três elementos serão de grande demanda nos carros do futuro”, disse. A Stellantis não investiria nessas empresas se não tivesse planos de produzir carros elétricos na região.
Ainda sobre o Jeep Renegade elétrico ou o Jeep Avenger, Antonio Filosa deixou claro que será quase um quebra-cabeça: “O mais caro é uma parte da avaliação. No final você tem que calcular financeiramente o chamado discount cash flow, que é um númeero mágico que sai dos CFOs. E também é preciso botar um pouco de cabeça, de estratégia, para entender se é aquilo mesmo que os números falam.”
O futuro da Jeep
Antonio Filosa foi pego de surpresa com o convite de Carlos Taraves (CEO global) para assumir a Jeep no mundo. “Eu havia acabado de comprar um casa no Sul da Bahia e estava instalando o Wi-Fi porque iria trabalhar de lá”, disse. “Agora vou me mudar para os Estados Unidos.”
Filosa diz que para fazer a Jeep crescer globalmente será necessário fazer um trabalho parecido com o que foi feito no Brasil. “É preciso proteger o core (núcleo), a Jeep é uma comunidade, e as pessoas dessa comunidade praticamente veneram a marca”, disse.
Somente depois de proteger e respeitar os valores da Jeep será possível expandir, “chegar a uma classe de consumidores mais afastados do core, chegar a mercados novos”.
“É impossível hoje pensar o mundo [automotivo] sem a Jeep, sem marcas icônicas como a Jeep, a Ferrari, a Rolls-Royce”, disse Filosa. “A Jeep é a conexão mais imediata entre o ser humano e a natureza. Você tiraria a Jeep de seu passado ou de seu futuro?”
Num mundo com necessidade urgente de descarbonização, para tentar reverter a tragédia da mudança climática, a conexão da Jeep com a natureza levará a marca para os carros elétricos. Embora no Brasil o início seja com híbridos flex (tentando convencer os consumidores a usarem etanol e não gasolina), o futuro será elétrico.
Por isso, para Filosa, o fator tempo será fundamental na decisão sobre um futuro Jeep nacional elétrico, produzido em Goiana. “Além do investimento na plataforma (antiga ou nova), é preciso perguntar quanto tempo essa plataforma vai ficar no ar, quanto tempo a transformação tecnológica de um veículo vai ter dar”, explicou.