Review: 4 coisas que gostamos (ou não) no Honda Civic híbrido
Avaliamos o Honda Civic Advanced Hybrid por 14 dias no Rio de Janeiro (RJ) para descobrir quais são os pontos fortes e fracos do sedã médio
Lançada no fim de 2022 no Brasil, a décima primeira geração do Honda Civic evoluiu em diferentes aspectos. Mas ao mesmo tempo, como deixou de ser produzido no Brasil, o sedã médio deixou de frequentar o imaginário do consumidor brasileiro como o concorrente histórico do Toyota Corolla. Mas será que ele honra o legado de sucesso do Civic no país?
Para descobrir essa resposta, testamos o Honda Civic Híbrido no Rio de Janeiro (RJ) durante 14 dias entre as festas de fim de ano, período no qual as montadoras costumam ceder os carros de frota para testes mais longos com os jornalistas. E a impressão final foi muito positiva, embora o Civic ainda tenha pontos a melhorar.
4 coisas que gostamos no Honda Civic híbrido
Consumo
É impossível começar esta avaliação sem falar do ótimo consumo do Honda Civic Híbrido. Equipado com um conjunto híbrido pleno de 184 cv – que é batizado pela Honda de e:HEV, o Civic é um companheiro bem comedido quando o assunto é consumo de combustível. Andando de forma mais tranquila, eu obtive médias de 26,9 km/l na cidade, onde o carro funciona em modo elétrico ou híbrido.
Mesmo ao pisar um pouco mais forte ou em trechos de estrada, o Civic atingiu médias de 19,8 km/l, provando que ele é um carro bastante econômico pelo porte e pelo desempenho do carro. Ao todo, foi possível rodar mais de 600 km sem precisar reabastecer, uma média muito boa considerando o consumo de outros carros da categoria.
Prazer ao dirigir
O Civic sempre foi um carro conhecido pela boa posição ao dirigir e pelo comportamento mais esportivo do que o do principal concorrente, o Toyota Corolla. A décima primeira geração do modelo não é diferente. Eu já tive contato com outras gerações anteriores do Civic, e a impressão geral é a de que a Honda manteve o que já era bom, sem deixar de evoluir em alguns pontos.
A direção, por exemplo, é bastante direta, mas sem deixar a leveza em manobras. A suspensão, apesar de baixa, não é desconfortável, e filtra bem os impactos e imperfeições do solo. A posição de dirigir é uma das melhores que já tive contato, e faz com que o motorista se sinta parte do veículo.
Apesar de baixa, a carroceria também não chegou a raspar em valetas e rampas, uma queixa comum de consumidores da categoria. Além disso, o Civic Híbrido também é muito agradável de dirigir. A carroceria praticamente não inclina em curvas, tornando o carro bastante estável mesmo em velocidades mais elevadas.
Desempenho
Apesar de não ter uma proposta esportiva, a versão Advanced Hybrid conta com um desempenho muito bom para o dia-a-dia. Sob o capô, o Honda Civic Híbrido traz um 2.0 aspirado de 143 cv e 187 Nm, que é associado a um motor elétrico de 135 kW (184 cv) e 314 Nm. O propulsor elétrico atua diretamente na transmissão automática e-CVT.
O sistema é do tipo híbrido pleno, no qual o motor a combustão gera energia para recarregar o elétrico e sua bateria de apenas 1 kW. Ambos não tracionam as rodas ao mesmo tempo. Até por isso, a Honda não divulga o número de potência combinada. Também não há trocas manuais de marcha, apesar dos paddle-shifts, que neste caso, servem para aumentar ou diminuir a regeneração de energia do carro.
Na prática, o motor elétrico atua em grande parte do tempo em trechos urbanos. Aliado ao silêncio a bordo, ele proporciona ótimas arrancadas e retomadas, ao mesmo tempo em que ajuda a economizar combustível. O motor a combustão entra em ação no modo híbrido, no qual apenas gera energia para recarregar as baterias ou no modo exclusivamente a combustão, que é ativado automaticamente em velocidades mais altas e constantes.
Neste caso, o conjunto elétrico não é acionado. Sempre com tração dianteira, o Honda Civic Híbrido vai de 0 a 100 km/h em 7,8 segundos e chega a 180 km/h de velocidade máxima, que é limitada eletronicamente. Os números são extra oficiais, uma vez que a Honda não divulga oficialmente os dados de desempenho do modelo.
Visual e acabamento
A Honda costuma intercalar entre designs mais ousados ou conservadores a cada geração do Civic. Foi assim na oitava geração (New Civic), que era um sedã disruptivo para a época, seguido pela nona geração, mais conservadora. A décima geração, feita entre 2016 e 2021 no Brasil, era novamente ousada, com caimento da carroceria mais parecido com o de modelos fastback.
A décima primeira geração, por outro lado, adotou novamente um visual mais conservador. Apesar disso, o modelo traz linhas bem equilibradas e sóbrias, que se mostram modernas mesmo após três anos do lançamento da atual geração. A dianteira traz finos faróis de LED e um capô mais longo. Na traseira, as lanternas também são de LED, e invadem a tampa do porta-malas, que leva bons 495 litros.
Outra diferença é o caimento da traseira, que se parece mais com um sedã, com a presença de três volumes mais bem definidos. O modelo também chamou a atenção pelas ruas do Rio de Janeiro (RJ). Houve, por mais de uma vez, quem elogiasse o design e me perguntasse se era o novo Civic, que se tornou um carro raro de se ver no Brasil nesta geração.
As rodas de 17”, por outro lado, poderiam ser um pouco maiores. No entanto, a escolha por pneus de perfil maior pode ter sido proposital para melhorar o conforto a bordo e reduzir o consumo de combustível. Por dentro, o acabamento conta com materiais emborrachados na parte superior do painel e das portas dianteiras e traseiras. Os encaixes são muito bons e os bancos – com ajustes elétricos – são confortáveis.
4 coisas que não gostamos no Honda Civic híbrido
Conectividade
O Honda Civic traz uma central multimídia de 9” com aspecto flutuante, que fica em destaque no interior. A central possui boa resolução e funcionamento fluido e intuitivo, graças aos botões físicos de volume, liga-desliga e para avançar ou retroceder músicas, o que ajuda na ergonomia. Ela também traz conectividade Apple CarPlay (sem fio) e Android Auto.
Apesar disso, a conexão com smartphones com o sistema Android é apenas via cabo, uma falha relevante por conta do valor do carro (R$ 265.900). Além disso, não há saídas USB do tipo C, mais modernas e menores, no interior do veículo. Essa falha, no entanto, já foi resolvida na reestilização do modelo em outros mercados. Como o Civic chega ao Brasil importado, é questão de tempo para que ele receba essas atualizações no mercado nacional.
Teto solar
Outro ponto que não gostamos foi o teto solar do Honda Civic Híbrido. Visualmente, o Civic aparenta ser de um segmento superior, embora não seja um modelo premium. No entanto, o teto solar tem dimensões pequenas, e poderia ser maior e mais parecido com o de modelos como o Volkswagen Jetta GLI. Na Europa e em outros mercados, o Civic conta com um teto panorâmico, que combina mais com a proposta do modelo.
Câmera de ponto cego
Também não curtimos a solução que a Honda adotou para reduzir os pontos cegos do Civic. Batizado de Honda LaneWatch, o sistema consiste em uma câmera localizada na extremidade do retrovisor direito, que é acionada automaticamente ao indicar seta para o mesmo lado. O sistema possui boa visualização, mas tem uma característica irritante.
Acionado, o sistema preenche de uma só vez toda a tela da central multimídia, o que pode atrapalhar a visualização de mapas e do GPS. Ou seja, ao invés de ajudar, o sistema pode acabar atrapalhando por ser muito intrusivo, fazendo com que o motorista perca a entrada correta em alguma rua ou via expressa.
É possível desligar a função por meio de um toque na ponta da haste de seta, ou até mesmo desabilitar o recurso nas configurações. No entanto, talvez se o recurso ocupasse metade da tela, ou se a imagem fosse espelhada no meio do painel digital de 10,2”, fosse uma solução melhor aproveitada.
Preço
O Honda Civic Híbrido custa R$ 265.900 no Brasil. Ao contrário das últimas seis últimas gerações do Civic, a atual encarnação do modelo não é produzida no Brasil. Seja por conta do mercado de sedãs médios ter encolhido nos últimos anos, ou até mesmo pelo alto investimento necessário para nacionalizar a nova geração, a Honda optou por trazer o Civic Híbrido importado da Tailândia.
Com isso, o modelo se tornou bem mais caro, uma vez que paga – atualmente, 20% de imposto de importação. Além disso, a própria Honda optou por trazer a décima primeira geração com um posicionamento mais premium do que o arquirrival Toyota Corolla, apenas na versão híbrida e na esportiva Type R, que chega do Japão por R$ 429.900 com 297 cv.
Veredicto
O Honda Civic Híbrido é um carro excelente. O modelo evoluiu em pontos necessários na décima primeira geração e ficou mais refinado, sem deixar de lado as qualidades que já eram conhecidas do modelo. A verdade é que fica até difícil achar defeitos nele. O pacote de equipamentos é bem recheado, e inclui o sistema de som da Bose, oito airbags e o pacote ADAS Honda Sensing, com tecnologias de segurança e condução semi autônoma.
No entanto, apesar de se aproximar de carros mais premium, o Honda Civic não nega a briga com modelos como o Volkswagen Jetta, Toyota Corolla e BYD King. Ele poderia ser um carro praticamente perfeito se o seu preço fosse mais baixo e se fosse oferecido em mais versões. Talvez não fizesse o mesmo sucesso que teve no Brasil nos anos 2000, mas certamente venderia mais.