Review: Ford Mustang Mach-E "paga o preço" do nome clássico
Avaliamos durante uma semana, na cidade e na estrada, a versão elétrica do famoso esportivo americano, mas com silhueta de SUV cupê
O Ford Mustang Mach-E pode ser visto como uma incoerência em si. De um lado, oferece um desempenho excepcional, graças aos 487 cv de potência. De outro, não tem o mesmo comportamento dinâmico do Ford Mustang original, que é um cupê esportivo. Por isso, é um equívoco comprar o Mach-E esperando por um Mustang; ele não é. Mas pode valer a pena.
A Ford usou a marca Mustang para fazer sua estreia no mundo dos carros elétricos de forma grandiosa. Conseguiu. Afinal, mesmo com a silhueta SUV cupê e – evidentemente – a carroceria mais alta, o carro tem aspectos visuais que lembram o Mustang original.
Ao fazer isso, a Ford mudou o status do Mustang. Ele deixou de ser um modelo e passou a ser uma submarca dentro da companhia. Uma tática comum no capitalismo, que visa tornar um produto mais desejável a partir de seu apelo emocional. Se você encarar assim, tudo bem; não é a primeira vez que um modelo vira marca.
Como SUV cupê, ou ainda melhor, como crossover elétrico, o Ford Mustang Mach-E é um carro diferenciado. Para além de trazer a marca famosa e uma brutal aceleração de 0 a 100 em apenas 3,7 segundos, o Mach-E é um carro competitivo em sua faixa de preço. Sim, até quem compra um carro de meio milhão de reais faz contas para saber se vale a pena.
O Ford Mustang Mach-E GT performance custa R$ 486.000. Considerando seus 487 cv (358 kW de potência) e o fato de ser um BEV (Veículo Elétrico a Bateria), é um bom investimento. Primeiro porque tem o potencial de ser visto como um clássico no futuro. Segundo porque sua relação preço/potência (não peso/potência) é de 998 reais/cavalo.
Ele só tem dois rivais diretos no Brasil: o Audi Q8 Sportback e-tron de 408 cv e R$ 729.990 e o Audi SQ8 Sportback e-tron de R$ 864.990 e 502 cv. Na relação preço/potência, o Q8 Sportback e-tron cobra 1.789 reais/cavalo e o preço/potência do SQ8 Sportback e-tron é de R$ 1.723/cv, quase o dobro do custo do Mach-E.
Durante nossa avaliação, entretanto, o Ford Mustang Mach-E, apesar de ser um carro rápido e seguro, com a suspensão adaptativa MagneRide, mostrou um comportamento direcional que lembra muito mais os carros chineses (com certa instabilidade dinâmica) do que os carros elétricos alemães (bem firmes) ou até mesmo o Mustang Mach 1 a combustão, que tem um comportamento dinâmico excepcional.
Nesse aspecto, é até possível comparar o Ford Mustang Mach-E com o BYD Seal, que é mais potente (530 cv) e custa muito menos (R$ 299.800). Sua relação preço/potência é de apenas 566 reais/cavalo. Mas, vejam bem, o Seal é um sedã, tem outra proposta, é ainda mais próximo do solo do que o Mach-E: 12 cm contra 12,9. De qualquer forma, o Mustang Mach-E é muito mais exclusivo e tem um comportamento direcional muito melhor do que o BYD Seal.
O espaço interno é muito bom. O Mach-E tem quatro portas e acomoda tranquilamente 5 pessoas. Apesar da carroceria cupê, ele não chega a ser claustrofóbico atrás. E seu porta-malas traseiro tem 402 litros de capacidade, com uma porta que abre até o teto. Não tem estepe. Os pneus são 245/45 R20 em bonitas rodas com pinças de freio esportivas Brembo vermelhas.
A posição de dirigir é muito boa. O volante de direção fica numa posição bem vertical, o que lembra bastante o Mustang a combustão, e ao fundo fica o painel de instrumentos digital de 10,2”, bem minimalista. A multimídia Sync 4 também é ótima (padrão Ford) e tem uma tela multifuncional enorme, de 15,5”, na posição vertical. É possível criar perfis personalizados de condução.
A bateria do Mustang Mach-E é um caso à parte, pela grande capacidade. A Ford conseguiu entregar um bom alcance para um carro que tem dois motores elétricos de 250 cv cada (184 kW), resultando nos 487 cv (358 kW) e incríveis 860 Nm de torque. Numa ocasião, dei uma rápida pisada para cruzar a rua antes de uma bicicleta e as pessoas a bordo até se assustaram com o pulo que o carro deu à frente.
A tração é intregral eAWD, o que dá mais segurança ao carro em piso molhado, como pegamos num trecho da Serra do Mar. Um item interessante é o modo de condução Unbridle, que torna as respostas ao acelerador mais rápidas (acelerando ou tirando o pé). O som de propulsão interno aumenta e há elementos visuais que tentam “empolgar” o motorista. A velocidade máxima limitada é de 200 km/h.
Como dizíamos acima, gostamos muito da capacidade da bateria, que é de 91 kWh. Pelo PBEV do Inmetro o alcance é de 379 km, mas dá para ir além de 400 km, dependendo das condições da “tocada” do motorista. Outra coisa muito boa é a potência de carregamento: 11 kW em carregador AC Tipo 2 (lento) e 150 kW em DC CCS2 (rápido). Os bancos de couro têm ajustes elétricos.
O Ford Mustang Mach-E também traz itens como câmera 360 graus, assistente de estacionamento, câmera de ré, assistente de faixa e frenagem automática de emergência, além de facilidades na conectividade pelo FordPass.
Poderia ser melhor em alguns pontos? Sim. Poderia ter outro nome, por exemplo, pois a marca Mustang, ao mesmo tempo que o valoriza, fazendo o consumidor pagar por ele, cobra seu preço em algumas críticas por conta da inevitável comparação com o Mustang a combustão. Se tivesse outro nome, teria menos críticas.
Sentimos falta também de uma rápida informação sobre o consumo médio em kWh. O display central não precisava ser tão grande e a suspensão poderia ser um pouco mais macia, pois em algumas situações parece faltar curso para os amortecedores, o que provoca algumas batidas secas em pisos irregulares.
Preço: R$ 486.000
Motor: dois elétricos de 184 kW cada (250 cv)
Potência: 358 kW (487 cv)
Torque: 860 Nm
Tração: 4x4 (integral eAWD)
Dimensões: 4.743/1.882/1.613 mm (c/l/a)
Entre-eixo: 2.984 mm
Vão livre do solo: 129 mm
Porta-malas: 139 lt (d) e 402 lt (t)
Peso: 2.281 kg
Capacidade de carga: 436 kg
Bateria: 91 kWh
Carregamento AC: 11 kW
Carregamento DC: 150 kW
Alcance: 379 km (PBEV) a 445 km (EV Database)
Consumo: 20,4 kWh/100 km
0 a 100 km/h: 3s7
Velocidade máxima: 200 km/h